Daniel Vilela
O auxílio emergencial foi criado em abril deste ano para trazer certo alento ao grande número de desempregados e trabalhadores informais, autônomos e famílias cadastradas em programas sociais do governo atingidos pela crise econômica trazida pela pandemia da Covid-19. Porém, em setembro, as parcelas pagas passaram de R$ 600 para R$ 300, redução que já traz efeitos para o bolso e a mesa do consumidor.
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Um estudo realizado pela agência Bons Investimentos, com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), analisou o impacto do novo valor do auxílio emergencial no poder de compra de cerca de 30 milhões de pessoas que atualmente recebem o auxílio governamental.
Além da redução de 50% no valor do auxílio, a agência também levou em consideração a inflação dos alimentos entre os meses de agosto e setembro deste ano.
Em Minas Gerais, a perda do poder de compra foi de 51,4%, menor do que a média nacional, que foi de 52,6%. O estado de Santa Catarina registrou a maior perda, chegando a 54,5%.
A pesquisa levou em consideração o valor da cesta básica em 17 capitais. Em Belo Horizonte, a cesta básica custava R$ 478 em agosto. Já em setembro, o custo dos alimentos que compõem a cesta elevou o valor da cesta para R$ 492. Segundo o estudo, Belo Horizonte possui a oitava sexta básica mais cara do País.
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Em média, na capital mineira, enquanto a parcela do auxílio emergencial era de R$ 600, os consumidores conseguiam comprar 1,26 cestas básicas com os recursos da ajuda governamental. Atualmente, com o auxílio em R$ 300, este último índice está em 0,6. Ou seja, é possível comprar um pouco mais do que meia sexta básica com o auxílio.
Alguns alimentos foram os maiores responsáveis pela inflação identificada entre agosto e setembro. Entre eles estão o óleo de soja, que aumentou em todas as capitais pesquisadas, com destaque para Natal, que registrou um aumento de 40% no preço do produto.
Outro alimento que elevou os índices de inflação no último bimestre foi o arroz agulhinha, que também ficou mais caro nas 17 capitais pesquisadas. Em Curitiba, o preço do arroz teve uma alta de 31%.
Taxa de desocupação recorde – Segundo dados do IBGE, 43% dos domicílios brasileiros recebem o auxílio emergencial. Tal número é uma indicação da magnitude dos efeitos que a economia do País pode sofrer com a redução da renda e do consumo da população.
Em Minas Gerais, 40,8% dos domicílios recebem o auxílio do governo atualmente. Número menor do que o registrado em julho, quando 41,1% das residências se beneficiavam do auxílio.
Dados do IBGE também mostraram que a taxa de desocupação atingiu alta histórica no mês de setembro. 13,5 milhões de pessoas estão, atualmente, a procura de emprego. No sudeste, a taxa de desocupação chegou a 14,8%.
Em Minas, a taxa de desocupação era de 12,3% em agosto. Em setembro, esse índice saltou para 12,6%, um aumento de 0,3 pontos percentuais.
Informalidade atingiu 41,6% em 2019
Rio – A informalidade no mercado de trabalho atingia 41,6% dos trabalhadores do País em 2019, ou 39,3 milhões de pessoas. Entre pessoas ocupadas sem instrução ou com o ensino fundamental incompleto, a proporção de informais era de 62,4%, mas de apenas 21,9% entre aquelas com ensino superior completo.
As informações constam da Síntese de Indicadores Sociais, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A população preta ou parda (47,4%) estava mais inserida em ocupações informais em todas as unidades da Federação, quando comparada à população branca (34,5%).
As atividades que mais concentraram pessoas em ocupações informais, no ano passado, foram serviços domésticos (72,5%), agropecuária (67,2%) e construção (64,5%). Segundo o IBGE, desde 2014, em decorrência do desaquecimento do mercado de trabalho, houve ampliação relativa das ocupações informais, com destaque para transporte, armazenagem e correio, alojamento e alimentação e construção.
Em 2019, a proporção de trabalhadores em ocupações informais alcançou 61,6% na região Norte e 56,9% no Nordeste. Por outro lado, as regiões Sudeste e Sul, apresentaram proporções de, respectivamente, 34,9% e 29,1%.
Força de trabalho – Entre 2018 e 2019, a taxa de desocupação caiu de 12% para 11,7%. A pesquisa mostra, porém, que a proporção dos desocupados há pelo menos dois anos subiu de 23,5% em 2017 para 27,5% em 2019.
A taxa de desocupação da população preta ou parda (13,6%) era maior do que a da população branca (9,2%), ainda que tivessem o mesmo nível escolar: entre aqueles com ensino fundamental completo ou médio incompleto, essa taxa era de 13,7% para brancos e de 18,4% para pretos e pardos.
Em 2019, a população ocupada de cor ou raça branca ganhava, em média, 69,3% mais do que a preta ou parda, e o rendimento dos homens era 12,7% maior que o das mulheres, considerando-se o mesmo número de horas trabalhadas.
No ano passado, a população subocupada alcançou a maior proporção na série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua, chegando a 7,6% da população ocupada. Entre as pessoas ocupadas, aquelas que trabalham menos que 40 horas semanais, querem e estão disponíveis para trabalhar mais horas são denominadas subocupadas por insuficiência de hora.
Trabalho intermitente – A reforma trabalhista regulamentada pela Lei n. 13.467 de 2017 introduziu a modalidade de contratação intermitente, formalizando um tipo de ocupação em que o trabalhador é contratado com carteira assinada, mas sem a garantia de um mínimo de horas de trabalho, sendo chamado para o desempenho da atividade laboral de acordo com a necessidade do empregador.
Em 2018, mais de 71 mil contratações ocorreram pela forma intermitente no País, representando 0,5% das admissões com carteira assinada. Em 2019, foram mais de 155 mil contratações dessa forma intermitente, ou 1% das admissões com carteira.
“Em todas as grandes regiões, houve aumento no número de admissões por contrato intermitente nesse período. Assim, apesar de representarem números relativamente pequenos sobre o total das admissões, o crescimento apresentado em apenas um ano é digno de atenção e monitoramento”, diz o IBGE. (ABr)
Índice de desigualdade tem queda no Brasil
Rio – O índice de Gini (0,543) caiu em relação a 2018 (0,545), mas ficou superior a 2015, ano que teve o indicador mais baixo da série, com 0,524. O País é o nono mais desigual do mundo segundo o Banco Mundial. O índice é usado para medir a desigualdade social, em que zero corresponde a uma completa igualdade na renda e 1 corresponde a uma completa desigualdade.
A região Sul é a que tem a menor desigualdade de renda, com 0,467. O Nordeste teve a maior desigualdade, com 0,559, e aumentou em relação a 2018, enquanto as outras regiões tiveram queda em comparação ao ano anterior.
Em 2019, a parcela de 10% de pessoas com menores rendimentos domiciliares per capita recebia 0,8% do total da renda do País. À metade da população brasileira correspondiam 15,6% dos rendimentos observados, cabendo aos 10% com maiores rendimentos 42,9% do total da renda.
Os 10% com maiores rendimentos são compostos por 70,6% da população branca. Os 10% com menores rendimentos são compostos por 77% da população preta ou parda.
Entre os 10% com menores rendimentos, o rendimento domiciliar per capita médio em 2019 foi de R$ 112. Entre os 10% com maiores rendimentos, o rendimento domiciliar per capita médio no ano passado foi de R$ 3.443.
Pobreza – De 2018 para 2019, a pobreza (rendimento domiciliar per capita até R$ 436) caiu de 25,3% para 24,7% das pessoas. Já a extrema pobreza (rendimento domiciliar per capita até R$ 151) se manteve em 6,5% da população, em 2018 e em 2019, afetando mais da metade dos nordestinos e 39,8% das mulheres pretas ou pardas. Entre 2012 e 2019, houve aumento de 13,5% na extrema pobreza.
Segundo a analista do IBGE, Barbara Soares, o País tem bolsões de extrema pobreza que não conseguem acessar as instituições para solicitar benefícios sociais como o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada (BPC). (ABr)