Oferta de ações avança 10% no 1º semestre

7 de julho de 2020 às 0h08

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Crédito: Amanda Perobelli/Reuters

São Paulo – O mercado de capitais brasileiro voltou à atividade com toda força no segundo trimestre do ano, impulsionado por investidores locais procurando alternativas aos retornos mínimos com renda fixa, ainda que a crise do Covid-19 continue aumentando o impacto negativo sobre a economia.

As ofertas de ações de empresas brasileiras cresceram 10% no primeiro semestre, para US$ 9,9 bilhões, segundo dados da Refinitiv, surpreendendo muitos banqueiros de investimento, especialmente pelo contraste com a paralisia do mercado de fusões e aquisições.

Empresas de outros mercados da América Latina não recorreram a ofertas de ações, com a empresa aérea panamenha Copa Holdings como a única empresa não brasileira a concluir uma venda de ações na região. Na América Latina, as ofertas de ações caíram 13%, para US$ 10,2 bilhões.

A primeira onda de transações depois do início da pandemia de Covid-19 foi de ofertas subsequentes (de empresas já listadas) buscando “capital de resgate”, disse o diretor de Equity Capital Markets para a América Latina do Morgan Stanley, Eduardo Mendez. O banco liderou os rankings de emissões de ações na América Latina e Brasil no primeiro semestre.

Foi o caso da varejista de eletroeletrônicos Via Varejo, que teve alta demanda por sua oferta de ações de R$ 4,45 bilhões no mês passado, ainda que boa parte das suas mais de mil lojas físicas estivesse fechada por restrições para conter a pandemia. O Grupo SBF, dono da varejista de artigos esportivos Centauro, também fortemente afetada pela pandemia, levantou R$ 900 milhões em junho.

“Agora a dinâmica mudou e estamos vendo mais empresas procurando por capital adicional para expandir investimentos em seus setores”, disse Mendez, acrescentando que varejo, serviços de saúde, infraestrutura, agronegócio, saneamento e água e logística devem ter empresas candidatas a acessar o mercado nos próximos meses. O BTG Pactual, maior banco de investimentos independente da América Latina, captou R$ 2,6 bilhões em junho para expandir sua atividade de varejo.

O sucesso de muitas empresas listadas, que conseguiram altos múltiplos em ofertas secundárias, ajudou a impulsionar outras empresas a retomar seus planos de IPOs engavetados durante o auge da pandemia.

A Via Varejo, por exemplo, conseguiu vender suas ações a múltiplos preço-lucro acima de 330, considerando o resultado dos últimos 12 meses, e 51 considerando as projeções de resultados futuros.

Algumas empresas com forte crescimento durante a pandemia, como a empresa de remediação, gerenciamento de resíduos e desinfecção Ambipar, estão apresentando planos de listagem pela primeira vez. Outras, como a rede de drogarias Pague Menos e as construtoras You e Cury, retomaram planos que haviam sido suspensos temporariamente.

Banqueiros de investimento dizem que até 50 empresas estão em discussões para novas emissões de ações, embora nem todas as operações venham a mercado este ano.

“Tivemos uma grata surpresa com a reativação rápida do mercado, esperávamos uma maior atividade só em setembro”, afirma o sócio e chefe da área de Equity Capital Markets do Banco BTG Pactual, Fabio Nazari.

A taxa Selic ao recorde histórico de 2,25% aumentou o apetite dos investidores por retornos potencialmente mais altos dos IPOs. Enquanto investidores estrangeiros continuam cautelosos, muitos investidores locais continuaram comprando ações mesmo durante os períodos de maior volatilidade do Ibovespa. No segundo trimestre, o índice subiu mais de 30%.

Analistas do Morgan Stanley estimam que as ações representem 25% do total de ativos sob gestão no Brasil em 2025, o dobro dos atuais 12%.

Fusões desabam – As fusões e aquisições desabaram na América Latina e Brasil no primeiro semestre, mas banqueiros de investimentos veem sinais de recuperação e esperam mais acordos nos próximos meses. O volume de fusões e aquisições caiu 72% na América Latina no primeiro semestre, para US$ 10,8 bilhões, segundo dados da Refinitiv. O volume no Brasil foi o menor desde 1999. A América Latina teve o pior volume em 25 anos.

Um dos maiores negócios da região, a venda das operações comerciais da Embraer para a Boeing , entrou em colapso próximo da previsão de fechamento em abril.

O Bank of America, que liderou o ranking de fusões e aquisições da Refinitiv na América Latina no primeiro semestre e trabalhou na maior transação do período, a venda das atividades do laboratório japonês Takeda Pharmaceutical Co na América Latina para a Hypera Pharma por US$ 825 milhões, já vê sinais de retomada.

“Esperamos ver movimentos de consolidação em vários setores, incluindo varejo, hotelaria e viagens, petróleo e gás e infraestrutura, porque muitas empresas estão vendo as sinergias de fusões como uma maneira de lidar com a crise”, afirma Hans Lin, chefe da área de banco de investimento no Brasil. (Reuters)

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