Rio – A Petrobras deve buscar evitar o “nervosismo do mercado” e “aguardar um pouco” antes de reajustar preços de combustíveis, diante de uma disparada do petróleo ontem após ataques a instalações da Saudi Aramco no fim de semana, disse uma fonte da companhia à Reuters.
O barril do petróleo Brent, referência internacional, subia mais de 12% no início da tarde, após ter avançado quase 20% mais cedo, antes de os Estados Unidos anunciarem que podem liberar as Reservas Estratégicas de Petróleo caso necessário, aliviando o movimento nas cotações.
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“Temos que aguardar um pouco. Não dá pra seguir o nervosismo do mercado”, disse a fonte, na condição de anonimato.
“Imagine se os Estados Unidos liberam parte da sua reserva estratégica, se o Irã recebe autorização para exportar? Os preços caem novamente. Cenário muito instável.”
Um eventual repasse da volatilidade de ontem ao preço do diesel da Petrobras nas refinarias poderia levar a uma alta de 0,15 real por litro nas refinarias, na avaliação do chefe da área de óleo e gás da INTL FCStone, Thadeu Silva.
“Isso seria muito forte. Acho que ela segura uma semana pelo menos sem mexer”, disse o especialista, ressaltando que a empresa deve buscar evitar a volatilidade.
Silva pontuou que ainda é difícil avaliar as reais consequências dos ataques contra as instalações da Saudi Aramco, da Arábia Saudita. A ação retirou de operação 5,7 milhões de barris por dia em capacidade da estatal saudita. O grupo Houthi, do Iêmen, assumiu responsabilidade pela ação, mas os Estados Unidos têm culpado o Irã pelo movimento.
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“Foi um movimento disruptivo no mercado internacional… tem que ver o que vai dar na relação entre Estados Unidos e Irã. Isso que vai acabar determinando os preços nas próximas semanas”, avaliou Silva, destacando que caso os conflitos se agravem, os preços poderão subir ainda mais.
A Petrobras tem evitado repassar a volatilidade dos preços internacionais do petróleo para os combustíveis, desde uma histórica greve de caminhoneiros, que protestaram contra os altos preços do diesel, em maio do ano passado.
Do início de agosto até agora, a empresa fez apenas três ajustes no diesel e quatro na gasolina.
A elevação dos preços do petróleo no cenário global, na avaliação de analistas do banco UBS, será um “teste significativo” para a política de preços da petroleira estatal brasileira.
Os analistas do banco afirmaram, em relatório a clientes, que um dos maiores dilemas para investidores sobre a Petrobras está relacionado à sua capacidade de seguir as variações internacionais de preço e a volatilidade do câmbio.
“Nós agora vemos uma situação desafiadora para a companhia, uma vez que esperamos que o petróleo salte e o real potencialmente se deprecie”, escreveram os analistas no documento, publicado no domingo.
Os preços da Petrobras para gasolina e diesel vendidos às distribuidoras têm como base a paridade de importação, formada pelas cotações internacionais destes produtos mais os custos que importadores teriam, como transporte e taxas portuárias, por exemplo.
Os repasses de ajustes nas refinarias aos consumidores finais, nos postos, dependem de inúmeros fatores, como margens das distribuidoras e revendedoras, mistura de biocombustíveis e impostos. (Reuters)
Ataque é o “11 de setembro” do setor
São Paulo – Ataques a instalações de petróleo na Arábia Saudita durante o fim de semana que levaram os preços da commodity a dispararem podem ser considerados “uma espécie de 11 de setembro do mercado do petróleo”, disse o diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Décio Oddone.
Os sauditas viram mais da metade de sua capacidade de produção ser suspensa após os ataques, o que fez as cotações do petróleo chegarem a saltar quase 20% nesta segunda-feira. Os preços subiam por volta de 12% no início da tarde (horário de Brasília), após os Estados Unidos afirmarem que podem liberar reservas estratégicas para aliviar impactos na indústria.
“Do ponto de vista do risco, esse evento de sábado pode ser considerado uma espécie de 11/9 (ataque às torres gêmeas) do mercado do petróleo. Depois dele a sensação de risco aumentará”, escreveu Oddone no Twitter ontem.
O diretor-geral da ANP ainda republicou reportagem da imprensa segundo a qual o Brasil e o Rio de Janeiro “podem ganhar” com os impactos do ataque aos sauditas. Ele não elaborou. (Reuters)
Preços dispararam 15% no mercado internacional
Nova York – Os preços do petróleo dispararam quase 15% ontem, com o Brent registrando seu maior ganho percentual diário em mais de 30 anos e volumes recordes de negócios, depois de um ataque a instalações petrolíferas da Arábia Saudita reduzir a produção do reino pela metade e intensificar temores de retaliação no Oriente Médio.
Os contratos futuros do petróleo Brent, valor de referência internacional, fecharam a US$ 69,02 por barril, avançando US$ 8,80, ou 14,61%, em seu maior ganho percentual em um único dia desde pelo menos 1988.
Já os futuros do petróleo dos Estados Unidos encerraram a sessão a US$ 62,90 o barril, alta de US$ 8,05, ou 14,68% – maior avanço percentual diário desde dezembro de 2008.
Os negócios também avançaram fortemente, com os futuros do Brent superando os 2 milhões de lotes, maior volume diário da história, disse a porta-voz da Intercontinental Exchange (ICE), Rebecca Mitchell.
“O ataque à infraestrutura de petróleo saudita veio como um choque e uma surpresa para um mercado que não vinha operando com volatilidade e focava mais no aspecto da demanda do que em oferta”, afirmou Tony Hendrick, analista de mercados de energia da corretora CHS Hedging.
A Arábia Saudita é o maior exportador global de petróleo, além de ter uma grande capacidade ociosa, o que tem feito do reino um fornecedor de última instância por décadas.
O ataque a instalações da petroleira estatal Saudi Aramco para processamento de petróleo em Abqaiq e Khurais reduziu a produção em 5,7 milhões de barris por dia. A companhia não deu uma previsão imediata sobre a retomada da produção total.
Duas fontes com conhecimento das operações da Aramco disseram que um retorno à produção normal “pode levar meses”. (Reuters)