O ano de 2020 em Minas Gerais encerrou com queda de 3,9% do Produto Interno Bruto (PIB) na comparação com 2019. O dado foi divulgado pela Fundação João Pinheiro (FJP).
Por mais que os últimos meses tenham sido de avanços, eles não foram suficientes para compensar todas as perdas vividas em meados do ano passado. Além dos reflexos da intensificação da pandemia da Covid-19 e paralisações de diversas atividades, também houve particularidades da indústria extrativa e os desafios ligados às barragens e monitoramentos de risco.
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Os dados da entidade mostram que no terceiro e no quarto trimestres de 2020, o PIB mineiro apresentou incremento de 8,5% e 3,2%, respectivamente. No entanto, no primeiro trimestre, a queda foi de 1,6%. Já de abril a junho, a retração chegou a 9,5%.
Para se ter uma ideia, o recuo do PIB mineiro no ano passado foi o segundo mais representativo da última década. A retração mais intensa foi registrada em 2015 (-4,3%), durante a crise verificada entre os anos de 2014 e 2016.
Nesse cenário, a atividade que apresentou a maior retração no Estado no ano passado foi a de extração mineral (-8,4%). Segundo a FJP, o recuo foi puxado principalmente pela situação do primeiro semestre de 2020, quando houve interrupção da operação de várias plantas. Isso porque foram feitos monitoramentos, gestão de risco da atividade e de barragens, entre outras ações.
Os serviços privados também se destacaram negativamente no ano passado, com queda de 5,3%, muito por conta da pandemia da Covid-19 e das medidas de distanciamento social. Retrações também foram percebidas em administração pública (-4,6%), construção (-3,1%), transportes (-2,8%) e comércio (-2,4%).
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Por outro lado, a agropecuária apresentou crescimento no Estado em 2020 na comparação com 2019, de 11,2%.
Continuidade da crise
Durante apresentação dos números do ano passado, o pesquisador e coordenador de contas regionais da FJP, Raimundo Leal, destacou que este ano também deverá ser de desafios. Isso tendo em vista um cronograma ainda lento de vacinação contra a Covid-19 e, consequentemente, todos os seus reflexos. No entanto, para alguns setores, os números poderão ser positivos.
Leal chamou a atenção para o fato de que, quando se compara a situação de alguns segmentos no fim do ano passado com igual período de 2019, é possível perceber avanços.
“Nós estamos iniciando o ano de 2021 tendo como ponto de partida a chegada que foi realizada no ano passado. A nossa agropecuária, por exemplo, chegou ao fim do ano, em 2020, em um patamar real de produção 16,4% acima do quarto trimestre de 2019. Isso significa que nós já começamos o ano de 2021 significativamente acima da média do ano passado. É um efeito de carregamento estatístico que vai ser importante para a gente entender o resultado do PIB agora no ano de 2021”, disse ele.
Nessa mesma base de comparação, entre o quarto trimestre de 2020 e o quarto trimestre de 2019, a indústria de transformação, o comércio e a indústria extrativa também apresentaram crescimento, de 8,7%, 2,7% e 0,7%, respectivamente.
No entanto, destacou o pesquisador e coordenador de contas regionais da FJP, a recuperação de serviços deve demorar ainda mais do que se imaginava para se recompor. Ele lembra que os serviços relacionados à interação social devem sofrer em meio a um cronograma ainda não acelerado de vacinação contra a Covid-19.
Já a produção de bens, disse ele, pode ir para o outro lado, tendo em vista a recuperação econômica em outros países, inclusive de parceiros do Brasil. “Uma coisa pode compensar parcialmente a outra” afirmou ele.
“É provável essa heterogeneidade de resposta setorial na pandemia, com a produção de bens tendo um resultado relativamente positivo no meio de toda essa tragédia, de toda essa crise. Mas a produção de serviços, com certeza, deve demorar ainda mais do que imaginávamos para se recompor”, ressaltou.