Risco fiscal pode manter real sob pressão passada crise

24 de abril de 2020 às 0h09

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Crédito: Ricardo Moraes / Reuters Usada em 25-11-19 Usada em 19-03-20

São Paulo – O real está “bem barato” a julgar por métricas como paridade de compra, mas o risco fiscal desponta como um dos que pode manter a moeda sob pressão mesmo passada a crise do Covid-19, disse Luiz Ribeiro, gerente do fundo de ações para a América Latina da DWS – gestora de fundos do Deutsche Bank, com 767 bilhões de euros (cerca de R$ 4,5 trilhões) sob seu guarda-chuva.

Para o gestor, além dos efeitos da pandemia do coronavírus – que tem afetado o bloco de moedas emergentes de forma geral -, a divisa brasileira tem sofrido adicionalmente com a queda nos diferenciais entre os juros locais e internacionais – o que prejudica a relação risco/retorno de se investir na renda fixa doméstica.

E, mesmo com a moeda em patamares mais baratos, ele chamou atenção para o risco potencial à taxa de câmbio vindo da gestão das contas públicas.

“Entramos nessa crise em uma situação fiscal que já não era boa, sem muito espaço para ‘brincar’”, afirmou. “Há uma dúvida se vamos voltar às reformas ou se muitos desses gastos (para enfrentar os efeitos do coronavírus), que deveriam ser extraordinários, serão permanentes. O mercado tem medo, e isso afeta a moeda”.

“Mais para o fim do ano é que vamos ter mais noção de como ficará o fiscal. Dependendo da resposta que teremos, vamos saber se haverá mais pressão (de alta) no dólar ou não”, completou.

O dólar superou R$ 5,52 ontem, renovando recordes históricos pelo segundo dia consecutivo. Em 2020, a moeda salta 36%. Isso equivale a uma depreciação de 26,5% para o real, que lidera as perdas globais no ano.

De acordo com dados do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), mesmo em termos reais (descontando a inflação), a taxa de câmbio do Brasil encabeça as perdas em uma lista de 60 países.

No acumulado dos três primeiros meses de 2020 (dado mais recente), a taxa efetiva real de câmbio do Brasil caiu 14,19%, atrás das taxas de câmbio de Rússia (-13,38%), México (-13,27%), África do Sul (-10,39%), Noruega (-10,01%) e Colômbia (-8,72%).

Com exceção da África do Sul, esses países são correlacionados ao petróleo, que já em março viu os preços colapsarem devido às incertezas decorrentes da pandemia.

Mas existe um fio de esperança de algum alívio para o real. Segundo Ribeiro, se o “estrago” do Covid-19 não for “tão grande” quanto estimado pelo pior cenário, então é possível que em dois ou três trimestres o mundo comece um ciclo econômico “quase sincronizado”.

Esse cenário teria como pano de fundo um “excesso” de liquidez (governos e BCs já injetaram trilhões de dólares na economia global), que poderia migrar para mercados de commodities, cujos exportadores são em grande parte nações emergentes, caso do Brasil.

Posicionamento – No começo de março, Ribeiro elevou no portfólio a fatia de ações de empresas exportadoras (que se beneficiam de um real mais fraco), em detrimento de companhias relacionadas à economia doméstica. “É uma carteira mais defensiva, com maior liquidez e flexibilidade para entrar e sair”.

Mas ele considera que “aos poucos a visibilidade está melhorando” e que “no médio prazo talvez esse portfólio defensivo não faça sentido”.

O executivo trabalha com déficit primário do setor público consolidado entre 7% e 8% neste ano (contra projeção em janeiro de rombo de 2%). Em suas contas, a Selic deverá sofrer um corte de 0,75 ponto percentual em maio e outro de 0,50 ponto posteriormente. O PIB retrairá entre 3,5% e 4,0% em 2020.

“E (para) câmbio é muito difícil (falar uma estimativa)”, ressalvou.
O valor “justo” para o real estaria atualmente mais entre R$ 4,70 por dólar e R$ 4,80 por dólar do que em torno dos patamares atuais. Mas Ribeiro ponderou ser difícil saber o timing em que haverá uma convergência para esse nível. (Reuters)

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