Tesouro vê dados estranhos, mas mantém previsão do PIB

14 de fevereiro de 2020 às 0h05

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Mansueto Almeida ponderou também que efeitos do coronavírus na economia ainda são incertos - Crédito: Adriano Machado/Reuters

Brasília – Os dados econômicos brasileiros estão “muito estranhos”, com a indústria apresentando resultados dissonantes em relação aos demais setores, enquanto a arrecadação abriu o ano com um desempenho “espetacular”, disse o secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, à Reuters, acrescentando que, por ora, a projeção oficial para o crescimento econômico segue em 2,4%.

“Os dados estão muito estranhos. Com o resultado de um, dois meses, não dá para ter grandes certezas da projeção para o ano”, afirmou em entrevista exclusiva. “A gente espera que este ano seja melhor que o ano passado, mas se vai ser 2%, 2,3%, vamos ter que esperar um pouco”, completou, destacando que os efeitos do coronavírus sobre o desempenho econômico ainda estão envoltos em incertezas.

Mansueto disse que não vai perder o sono com a possibilidade de o Produto Interno Bruto (PIB) eventualmente crescer até 0,3 ponto a menos do que o estimado no momento, até porque o impacto sobre a política fiscal não é automático. Em janeiro, antecipou, a arrecadação de receitas do governo teve um crescimento expressivo, muito acima do PIB. Os dados serão divulgados no final deste mês.

“O primeiro mês do ano foi uma arrecadação espetacular”, afirmou. “Aí você não sabe se é um mês isolado ou se é a sequência, por isso que a gente tem que esperar”.

Segundo o secretário, não houve fatores óbvios para explicar o impulso nas receitas no mês, como um desinvestimento expressivo de estatal, por exemplo, que teria impacto sobre a taxação de ganhos de capital.

Incógnita na indústria Sobre a indústria, o secretário destacou que, desde o fim do ano passado, o setor tem apresentado um resultado bem menos expressivo que varejo e serviços, com queda de produção e de investimento. Ele destacou que o fenômeno possivelmente reflete uma desova de estoques. Mansueto ponderou ainda que alguns subsetores manufatureiros enfrentam problemas de falta de mão de obra qualificada, enquanto outros passam por um rearranjo após anos recebendo subsídios elevados.

“Está ocorrendo alguma coisa na indústria que ninguém está entendendo direito. Uma coisa mais estrutural, tanto no Brasil quanto no resto do mundo”, afirmou.

“É engraçado porque, se você pega a demanda da indústria de 6 a 8 anos atrás, o que a indústria pedia era juros baixos e câmbio desvalorizado. Você tem as duas coisas agora. Você tem os juros baixos, à mínima histórica, e o câmbio desvalorizado, e a indústria não está reagindo tão bem”, acrescentou.

A produção industrial fechou 2019 no vermelho, interrompendo dois anos seguidos de ganhos, de acordo com dados do IBGE. Em dezembro, a queda de 0,7% sobre o mês anterior ficou acima do esperado, marcando a segunda leitura negativa seguida.

Após o Banco Central ter divulgado nesta semana que os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) divergiram sobre o nível de ociosidade na economia, Mansueto afirmou que o time da Economia também está debruçado sobre a questão, buscando entender as dinâmicas que estão pautando o comportamento dos setores.

Mansueto ponderou que, em uma recessão longa e profunda como a que aconteceu no Brasil, “é muito difícil ver esse momento” em que a indústria retoma o investimento.

Setores que demandam inovação tecnológica constante, como o automobilístico, acabam promovendo investimentos antes de utilizarem inteiramente sua capacidade de produção para que os parques fabris não fiquem desatualizados, disse. “Se ele não for setor muito inovador, enquanto não completar ele não volta a investir. A gente tem que entender melhor todos esses movimentos setoriais”. (Reuters)

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