O papel do afroempreendedorismo e do “Black Money” no movimento afrofuturista
30 de março de 2021 às 0h22
Por afrofuturismo há que se compreender o conjunto de estratégias disruptivas que projetam para além, comportamentos, performances e estratégias atreladas à emancipação e ressignificação do corpo negro no espaço coletivo, sem se desconectar, porém, com elementos ancestrais e afromitológicos. Trata-se de um movimento multidimensional que trafega pelo campo das artes plásticas, da política, da filosofia, da mitologia africana, da história diaspórica, da ciência, dentre outros. Permitindo uma interface entre temáticas e abordagens que ressignificam o lugar social, político, artístico, científico e econômico do negro no presente e no futuro.
Embora o movimento afrofuturista, que tem seu berço nos EUA, tenha emergido na década de 1960, destacado por músicos, artistas e escritores, como Sun Ra, Grace Jones, Jimi Hendrix, Miles Davis, Octavia Butler, Basquiat, dentre outros, é a partir da década de 1990 que ganha proporções mais robustas e passa a ser nominado como o conhecemos hoje. Passando, assim, a ser considerado importante contributivo para o reposicionamento socioeconômico de afrodescendentes, abrindo caminhos para um futuro negro.
Neste cenário, faz-se fundamental estabelecer uma relação entre afroempreendedorismo, “Black Money” e movimento afrofuturista. Não há como deixar de se observar elementos afrofuturistas nas concepções e práticas atreladas ao movimento afroempreendedor. Do mesmo modo também é possível vislumbrar traços afrofuturistas no movimento “Black Money”.
À medida que os conceitos que conformam o afroempreendedorismo, e que foram construídos e expostos em meu livro “O Lado Negro do Empreendedorismo: Afroempreendedorismo e Black Money”, vão se estruturando, é fácil perceber que o ato de empreender realizado por negros e negras comporta um movimento emancipatório, transgressor e futurista. Futurista à medida que estabelece possibilidades de uma existência mais saudável, menos opressiva e perigosa para corpos negros. O afroempreendedorismo desobstaculiza caminhos de um grupo étnico oprimido e invisibilizado. Propõe novos horizontes e expande espaços de circulação socioeconômica e política.
Em relação ao “Black Money” as mesmas considerações se fazem válidas. As estratégias apresentadas nas diversas vertentes deste movimento, e que foram explicitadas nesta obra, demonstram que por este caminho surgem ferramentas capazes de levar o corpo negro adiante, de permiti-lo almejar um futuro digno e satisfatório. Introduzindo num grupo étnico, cujos sonhos e projeções foram castrados há séculos, a potência de vislumbrar um amanhã, um universo de possibilidades.
Diante de todo o exposto, não restam dúvidas de que afroempreendedorismo e “Black Money” são importantes estratégias afrofuturistas. Ambos delineam um porvir negro.
É inegável, portanto, que os dois conceitos centrais aqui expostos, afroempreendedorismo e “Black Money”, são impactantes componentes de um movimento afrofuturista. Ambos criam possibilidades para um futuro negro. Para diversos futuros. Para afrofuturos.
Neste sentido, a Comissão de Apoio Jurídico às Micro e Pequenas Empresas está ciente de seu papel de colaboradora na produção e consolidação de um afrofuturo, estabelecendo-se como ponto de apoio institucional para empreendedores atravessados por marcadores de raça, classe, gênero e sexualidade que os coloque em posição de se articular e de buscar caminhos que potencializem futuros e materializem possibilidades.