FDC avalia perfil das médias empresas

Responsáveis por uma fatia importante dos negócios nacionais, elas indicam o grau de maturidade da economia dos países

13 de agosto de 2022 às 0h30

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Marconatto: elas respondem por 25% da massa salarial | Crédito: Divulgação/FDC

Elas não são frequentadoras no noticiário econômico com as suas coirmãs maiores e nem do social, com as menores. As médias empresas (MEs), porém, são responsáveis por uma fatia importante dos negócios nacionais e indicam o grau de maturidade da economia dos países.

E foi para entender o perfil das médias empresas brasileiras, com suas fortalezas e obstáculos, que a Fundação Dom Cabral (FDC) realizou pela primeira vez um amplo estudo para identificar os fatores que, entre 2016 e 2021, possibilitaram o crescimento e o alto crescimento das empresas de médio porte no Brasil. A pesquisa também encontrou quais são as principais barreiras para a sua expansão.

O levantamento buscou capturar diferentes dimensões sobre o crescimento das MEs: fundador e/ou gestor do negócio; estratégia; comportamento e características da empresa; e ambiente externo. Foram analisadas empresas que têm entre 50 e 499 funcionários ou que possuem faturamento anual entre R$ 4,9 milhões e R$ 300 milhões.

As definições de crescimento e alto crescimento adotadas na pesquisa foram adaptadas daquelas usadas pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Assim, “Sem Crescimento” acontece quando existe decrescimento ou crescimento estável (até 33% em cinco anos); Crescimento, quando há crescimento entre 33% e 100% em cinco anos; e Alto Crescimento, se o crescimento foi superior a 100% em cinco anos.

De acordo com o professor e pesquisador da FDC+ Diego Marconatto, a pouca visibilidade dessas empresas se deve, principalmente, por estarem no “meio do caminho”, entre a grande massa de pequenos negócios que compreendem cerca de 98% das empresas brasileiras e a força e poder político das grandes corporações. No Brasil elas são responsáveis por 25% da massa salarial e 20% de empregos de carteira assinada.

“Em países desenvolvidos as médias empresas têm um peso muito maior do que no Brasil. Aqui elas representam 1% do total de empresas, enquanto nos Estados Unidos esse percentual é o triplo. As médias empresas garantem uma maior democratização da economia e têm o papel de geração de empregos, tecnologia e inovação. Em muitos países elas lideram as exportações, como a Alemanha. Em uma economia dominada pelas grandes, existe uma concentração e quando elas vão mal, toda a economia sofre. Já quando as pequenas e médias são mais importantes, isso gera uma matriz mais rica, diversa e mais democrática”, explica Marconatto.

O estudo da FDC identificou que uma série de estratégias que colaboram para o crescimento das MEs: foco em mercado de nicho, inovação de produtos e serviços, venda de produtos com altas margens de lucro e customização de produtos e serviços.

Além disso, outros elementos que impulsionam o alto crescimento são a capacidade de inovar processos internos, o esforço em diversificar geograficamente os mercados consumidores e o desenvolvimento interno de talentos. Por último, o reinvestimento agressivo de lucros também é um fator importante para alavancar as campeãs do crescimento.

“A grande maioria das médias são indústrias e serviços. Elas tendem a competir melhor em mercados de nicho, com produtos que oferecem margens maiores. A pandemia, por sua vez, acelerou ciclos e tendências. Com o isolamento social, aqueles que já tinham estrutura on-line continuaram operando, e isso privilegiou as grandes corporações. Para as médias foi particularmente difícil, porque uma parte importante está na indústria. Por outro lado, como são B2B, não falavam direto com o público e continuaram operando. O legado que fica é a necessidade de digitalização e estar atento ao modelo de negócio”, destaca.

Do lado das principais dificuldades estão o custo do capital e a burocracia. Esses negócios sofrem particularmente com investimentos frustrados em inovação e com conselhos administrativos ineficientes.

“A falta de mobilidade entre pequenas e médias empresas e médias e grandes, tem causas internas da organização e da própria matriz econômica do País. O custo de capital é um desses motivos. Ele voltou a subir por causa da inflação. Via de regra, para crescer é preciso algum financiamento externo. Ainda assim, as médias empresas têm um índice médio de endividamento baixo, o que é muito bom. Não existem políticas públicas voltadas para elas e esse é um erro do governo”, alerta o pesquisador.

A maior parte dessas empresas é familiar, mas elas vêm se estruturando, ainda que o investimento em governança não apareça bem colocado na lista de prioridades de investimentos. São também bastante independentes dos grandes centros, com 62% sediadas fora das capitais. A concentração se dá em relação às regiões do País. 60% delas estão no Sudeste e 20% no Sul do Brasil.

“Empresas com plano sucessório estruturado têm mais sucesso. E as que têm apoio externo, também gozam de benefícios adicionais. Elas ganham quando recebem mais inputs de fora. Uma das barreiras são os conselhos administrativos disfuncionais. As médias empresas precisam se preocupar com o ESG porque fazem parte de cadeias produtivas longas, são B2B e servem grandes empresas. Isso passa pela governança”, avalia o professor da FDC.

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