Mulheres no Brasil lutam por equidade profissional

19 de novembro de 2020 às 0h19

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Camila Fusco (Ela Vence) e Marciele Delduque (Marianas): fomento do empreendedorismo | Crédito: Divulgação

O dia é do empreendedorismo feminino, mas as mulheres ainda têm um longo caminho a trilhar para atingir um patamar de equidade de oportunidades quando o assunto é comandar a própria empresa ou se tornar uma liderança corporativa. Dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que cerca de 9,3 milhões de mulheres estão à frente de negócios no Brasil e que, em 2018, elas já eram 34% dos “donos de negócio”.

O Global Entrepreneurship Monitor (GEM) – principal pesquisa sobre empreendedorismo no mundo, com dados de 49 países – mostrou, em sua última edição (2018), que o Brasil ficou em sétimo lugar no ranking de proporção de mulheres à frente de empreendimentos iniciais (menos de 42 meses de existência).

Para enfrentar os desafios comuns às mulheres empreendedoras em todo o mundo, somados às dificuldades específicas vividas no Brasil, a união e a colaboração têm apontado um caminho menos espinhoso para muitas empreendedoras. A constituição de redes de apoio vem se multiplicando e mostrando bons resultados.

Entra no ar hoje o hub virtual de conteúdo, capacitação e conexões “Ela Vence”. O objetivo é fomentar o empreendedorismo e o desenvolvimento de lideranças femininas no Brasil, atuando, sobretudo, nas frentes de educação empreendedora, compartilhamento de melhores práticas – por meio de casos de sucesso e notícias do setor -, inovação e círculo de investimentos, para conectar investidoras a mulheres líderes de startups.

O hub nasce da iniciativa empresária Camila Farani. Com mais de 17 anos de experiência em empreendedorismo e investimentos, ela é sócia-fundadora da G2 Capital, boutique de investimentos que atualmente conta com mais de 40 startups em seu portfólio. É, também, fundadora da Innovaty, do ramo de educação empreendedora e Business Intelligence, e do Grupo Boxx, de alimentação.

De acordo com a coordenadora da plataforma e Head de Estratégia da Innovaty, Camila Fusco, o hub foi desenvolvido após dois anos de intensa escuta, pesquisa e interação junto a empreendedoras e intraempreendedoras. O último levantamento, feito em outubro de 2020 com 2.707 mulheres pela equipe da Innovaty, mostrou que capacitação, referências femininas e redes de apoio estão entre as 15 maiores demandas das entrevistadas.

“A nossa vocação é conectar mulheres. Como traduzir essas informações para a mulher de um jeito que ela consiga consumir no seu dia a dia. Pode ser em forma de vídeo, podcast, pílulas de informação, ou seja, a forma que for mais conveniente para ela. A ideia é que encontre também conexão com outras redes”, explica Camila Fusco.

Haverá também uma área específica permitirá que as participantes interessadas criem seus perfis com fotos e detalhem qual tipo de apoio necessitam e como podem ajudar outras integrantes das comunidades, favorecendo assim conexões entre elas.

O Ela Vence começa sua trajetória já atuando em Minas Gerais. A parceria com a rede “Marianas, Mulheres que inspiram”, na cidade de mesmo nome (região Central), terá início nos primeiros dias de dezembro.

A rede, que atende Ouro Preto, Mariana e região, existe desde 2013, se fortaleceu ainda mais depois do rompimento da barragem do Fundão, em 2015, e hoje reúne mais de 400 mulheres. “Segundo um levantamento feito pelo Sebrae, a Marianas já movimenta cerca de R$ 3 milhões por mês. Esse é um dado impressionante. Muitas mulheres se engajaram depois do rompimento da barragem, por extrema necessidade, mas viram agora que deu certo e querem seguir nesse caminho. Nosso trabalho é mostrar que inovação não é só tecnologia, é atender à necessidade do cliente. Inovações possíveis que podemos entregar para o consumidor no pós-pandemia”, destaca. 

Investimento-anjo – Outro ponto ao qual o Ela Vence quer se dedicar com especial atenção é a conexão entre empreendedoras e investidoras. Parte do fundo G2, o grupo G2 Women (G2W), busca reunir investidoras para ampliar a cultura de investimento-anjo e aportar em negócios da área de tecnologia fundados ou liderados por CEOs mulheres. O foco principal são startups que tenham faturamento anual entre R$ 100 mil e R$ 500 mil.

“Buscamos, também, dar visibilidade para startups que têm mulheres como fundadoras ou líderes. Queremos chamar a atenção das mulheres investidoras, fazendo com que o círculo de investimento fique mais representativo. Temos cada vez mais empreendedoras engajadas. Empreender é possível. Essa é a cultura que queremos ajudar a fomentar”, completa a coordenadora da plataforma.

Mudança de atitude é primeiro passo

A Rede Mulher Empreendedora (RME), em 10 anos, já ajudou mais de 500 mil mulheres no Brasil e no exterior, se constituindo como a maior plataforma de apoio ao empreendedorismo feminino do Brasil. A Rede oferece serviços para empresas que acreditam na causa e conta mais 700 voluntárias e 750 mil integrantes no grupo Mulheres da RME no Facebook.

A Rede acaba de divulgar os resultados da quinta edição da pesquisa “Empreendedoras e Seus Negócios 2020”, realizada pela Plano CDE e com apoio da ONU Mulheres. Os dados mostram que as mulheres driblaram ou amenizaram a crise graças à mudança de atitudes empreendedoras e gerenciais, investindo principalmente na digitalização dos negócios.

Na hora de escolher os meios digitais para alavancar seus negócios, 75% apostaram nos aplicativos de mensagens e 72%, nas redes sociais. Os aplicativos de mensagens passaram a ser mais utilizados para divulgação (66%), atendimento (65%) e vendas (57%). Já as redes sociais têm sido utilizadas como ferramenta de divulgação (81%) e vendas (52%).

De acordo com a presidente da RME, Ana Fontes, as mulheres empreendedoras são criativas, inovadoras e não têm medo das crises. “Elas estão buscando conhecimento e se preparando cada vez mais para o uso do digital como canal de vendas, e, também, para melhorar o desempenho da empresa”, explica Ana Fontes.

A pesquisa mostra, ainda, que a busca por capacitação também foi uma aposta das mulheres empreendedoras para encarar a pandemia e suas consequências. Cerca de 65% das mulheres entrevistadas já participaram de cursos focados em empreendedorismo para melhorar processos e diversificar produtos e serviços. Entre os homens, 53% já buscaram capacitação, mas seu interesse está voltado para os assuntos financeiros, principalmente.

O sonho do empreendedorismo é o motivo mais citado por homens e mulheres para iniciar um negócio. Porém, quando se fala em outras motivações, o equilíbrio entre trabalho e família e a flexibilidade de horários é relevante entre as mulheres.

“As mulheres são motivadas pela busca de um propósito identitário e de uma flexibilidade necessária no dia a dia, flexibilidade que ela não encontra em ambientes corporativos”, afirma.

Foi após acumular experiência em grandes empresas que nasceu na ativista a necessidade e o sonho de empreender com o objetivo de ter mais tempo para a família, fazer algo novo e deixar um legado para a sociedade. Em 2010, ela fez parte do programa 10 mil Mulheres, criado em parceria entre a Fundação Getulio Vargas (FGV) e o grupo Goldman Sachs. Foi aí que resolveu criar a RME.

“Sinto que sou abençoada por conseguir ajudar milhares de mulheres em um universo que é dominado pelo patriarcado. Quando olho para trás e lembro de todos os obstáculos que enfrentei me sinto feliz por conseguir levar conhecimento, empoderamento e possibilidade real de independência financeira para as mulheres”, destaca a presidente da RME.

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