QR Codes são odiados como cardápio, mas amados para pagar

16 de setembro de 2022 às 14h13

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Crédito: nenetus/Adobe Stock

São Paulo – Os QR Codes tomaram a cidade. É difícil andar uma quadra sequer sem se deparar com os quadradinhos. Lojas, bares, postes e até catracas aderiram à tecnologia.
São práticos e simpáticos. Apontar a câmera do celular para executar uma ação até parece um presente do futuro, mas os códigos de resposta rápida não são uma invenção nova.
Foram criados em 1994, mas, até poucos anos atrás, só cumpriam papéis pontuais, como campanhas de marketing. Não parecia que tomariam conta do cotidiano.

A pandemia mudou o cenário. O medo da transmissão da Covid-19 por superfícies fez com que o dinheiro em espécie fosse evitado, e mudou a forma como bares e restaurantes operam.

Mesmo depois que se descobriu que a contaminação por superfícies é desprezível quando comparada ao ar, eles seguem fazendo parte da paisagem da cidade.

A estreia do Pix, sistema de pagamentos do Banco Central, e a digitalização que acompanhou os benefícios do governo impulsionaram o uso dos QR Codes como meio de pagamento, afirma Willer Marcondes, sócio da consultoria e auditoria PwC Brasil.

Adorados ou não, eles devem ficar e se espalhar mais. Segundo estudo da PwC, os pagamentos digitais -como aproximação do celular e QR Codes- devem crescer 80% no mundo até 2025. Até 2030, o número de transações per capita sem dinheiro em espécie será quase o triplo do nível atual.

No Brasil, o número de transações por Pix usando QR Codes em agosto deste ano representou 17% do total, somando as categorias Dinâmico e Estático. Em 2021, era 7%. Tornaram-se tão populares que já são usados até para furtar dinheiro e dados.

“Essa simplicidade que a tecnologia traz, de conseguir com qualquer celular identificar um destinatário e fazer um pagamento, explica esse crescimento”, diz Marcondes.

Mas, enquanto os QR Codes como meio de pagamento são bem aceitos, o mesmo não ocorre para o sumiço dos cardápios de bares e restaurantes -agora substituídos pelos quadradinhos, adevivados em mesas ou em estandes plastificados.

Nas redes sociais, é comum ver postagens sobre esse tipo de uso da tecnologia. Poucas são elogiosas.

“O inventor do QR Code deve sentir a mesma coisa que Santos Dumont sentiu ao ver o avião ser utilizado como arma na guerra. Deve ser triste ver sua invenção sendo usada para o mal, como, por exemplo, substituir o cardápio físico nos restaurantes”, brincou um usuário no Twitter.

A insatisfação vem do incômodo de pegar o celular durante uma refeição, centralizar o código na câmera como um tiro ao alvo e procurar pratos e bebidas como numa compra da Amazon. Além disso, quando são ofertados, muitos cardápios digitais são pouco intuitivos.

A Goomer, empresa que oferece soluções digitais para estabelecimentos, diz que a adoção de QR Codes estagnou há quase um ano.

“A demanda cresceu muito durante a pandemia devido à necessidade de não transitar cardápio físico entre os clientes. Porém, a experiência ficou comprometida e um pouco desacreditada, já que nem sempre era oferecida uma experiência boa”, disse Breno Nogueira, diretor de marketing da Goomer.

“Agora, observamos outros produtos substituindo o código, como o tablet na mesa. Com o objetivo não mais de distanciamento, mas de melhoria do atendimento, aumento do ticket médio dos pedidos, e maior eficiência operacional, liberando os garçons para outras funções”.

Para Paulo Solmucci, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), é importante que os estabelecimentos ofereçam um bom cardápio digital –em oposição a um arquivo PDF ou foto– e cardápio físico para quem preferir.

“Foi muito positiva a introdução do QR Code, da automação e da digitalização no setor. Mas, quando o restaurante insiste em ter só a tecnologia, ele gera um desconforto grande para vários clientes. Principalmente para aqueles que não gostam ou têm dificuldade”, disse.

Hoje, a vantagem de usar os cardápios digitais está ligada à economia com custos de impressão e à possibilidade de alteração imediata de preços e produtos, importante em um cenário de alta nos preços dos alimentos.

Acessibilidade também é uma questão-chave para a indisposição com os cardápios digitais. Enquanto restaurantes cujo público-alvo é mais jovem têm maior chance de sucesso com a introdução, aqueles que abrangem muitas faixas etárias correm risco de só afastar novos clientes.

Isso porque acessar um QR Code requer, além de boa vontade, familiaridade com a tecnologia, celular compatível e internet estável. Uma série de pré-requisitos que tornam mais burocrático comer fora de casa.

“É uma tendência em lugares despretensiosos e que cobram barato. Em lugares mais sofisticados, que têm um ticket médio mais alto, soa mais como rasgueiragem [besteira]. Isso pode afastar o cliente, que quer pegar mais caro por uma experiência completa”, diz Ian Olivier, do perfil O Crítico Antigourmet, no Instagram.

“Uma das coisas que mais se reclama em restaurante é o fato das pessoas ficarem muito no celular e não convivendo, conversando. O QR Code acaba sendo um incentivo a esse tipo de situação. Você abre o cardápio no celular e aparece um monte de notificações. Então, em vez de se desprender um pouco da sua vida cotidiana e curtir aquele momento, você acaba voltando ao mundo real”.

(Gustavo Soares/Folhapress)

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