Segurança energética do Brasil é discutida em evento da SME

17 de março de 2022 às 0h30

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Crédito: Arquivo DC

Durante muito tempo se acreditou que o Brasil – privilegiado pela natureza – não teria problemas com a energia elétrica pelo ponto de vista da geração, já que o recurso natural existia – as águas – e bastava construir usinas hidrelétricas e investir na distribuição.

As mudanças do clima e os eventos climáticos extremos modificaram esse entendimento. As severas secas que atingiram as regiões Centro-Oeste e Sudeste fizeram com que os reservatórios chegassem a níveis extremamente baixos, nos últimos dois anos, por exemplo, levantaram para a população um novo termo: “escassez hídrica”, capaz de levar as tarifas às alturas e ameaçar o corte da energia para empresas e famílias.

Outro termo também saiu dos manuais técnicos e ganhou as ruas: segurança energética, definida pela Agência Internacional de Energia como a oferta e disponibilidade de serviços energéticos a todo momento, em quantidade suficiente e a preços acessíveis.

O tema, claro, é central para o desenvolvimento do País. A matriz elétrica brasileira depende, em cerca de 62,5%, da geração hidrelétrica, um insumo dependente de variações climáticas. A adição de novas fontes renováveis aumenta o desafio da segurança energética.

O assunto foi discutido pela Sociedade Mineira de Engenheiros (SME), no seminário “Desafios da segurança energética”, promovido em parceria com o DIÁRIO DO COMÉRCIO. A robustez e a resiliência do sistema nacional de geração e distribuição de energia elétrica foram destacadas pelo diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Carlos Ciocci.

“Temos um sistema complexo, mas isso não é um problema. As ações assertivas que vêm sendo implementadas há mais de um ano, além da melhora nos índices, nos colocam este ano em situação bem mais confortável do que em 2021. Devemos entender como será a operação no futuro com a entrada cada vez maior de fontes renováveis intermitentes; a chegada de novas tecnologias, principalmente de armazenamento, permitindo maior integração das fontes renováveis e flexibilidade; os reservatórios das usinas sendo usados como baterias; o aumento da micro e minigeração distribuída, a incorporação massiva de tecnologias para lidar com as mudanças climáticas e a formação de uma matriz mais limpa e descarbonizada”, explicou Ciocci.

Para além do papel de maior responsável pela geração de energia elétrica no País, as hidrelétricas suscitam acalorados debates sobre a eficiência e, principalmente, sobre o impacto ambiental que causam. O ex-presidente da Centrais Elétricas Brasileiras (Eletrobras) Aloísio Vasconcelos advoga a favor do modelo e diz que ainda há no Brasil uma capacidade hidráulica para geração de energia não utilizada e que o avanço tecnológico já permite a construção de equipamentos ambientalmente corretos.

“Temos condições naturais, capacidade de construção, tecnologia e conhecimento para fazer as melhores hidrelétricas do mundo. A tecnologia de plataforma já não agride o meio ambiente. E a engenharia precisa disso para retomar a sua força como atividade econômica”, pontuou Vasconcelos.

No mesmo sentido, o presidente-executivo da Associação Brasileira das Empresas Geradoras de Energia Elétrica (Abrage), Flávio Antônio Neiva, destacou o papel de integração feito pelas hidrelétricas entre as novas formas de energia renovável, as demais fontes e o sistema.

“Todos os países contam com matrizes de geração de energia elétrica e são elas que suportam o consumo corrente e suas expansões seguem os crescimentos econômicos respectivos. Ainda que a participação da energia gerada pelas hidrelétricas tenha diminuído na composição da base nos últimos anos, no Brasil não dá para produzir energia eólica ou solar sem fazer a integração com a energia hidrelétrica. Ela é que garante a continuidade do abastecimento nas crises”, analisou Neiva.

O debate guarda relação direta com o Movimento Minas 2032 – pela transformação global (MM 2032). Capitaneado pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO, o MM 2032 tem como objetivo criar uma comunidade de desenvolvimento para a construção conjunta de reflexões e ações efetivas para promover a consolidação dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), instituídos pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2015.

O ODS 7 – “Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todas e todos” – prevê até 2030: assegurar o acesso universal, confiável, moderno e a preços acessíveis a serviços de energia; aumentar substancialmente a participação de energias renováveis na matriz energética global; dobrar a taxa global de melhoria da eficiência energética; reforçar a cooperação internacional para facilitar o acesso a pesquisa e tecnologias de energia limpa, incluindo energias renováveis, eficiência energética e tecnologias de combustíveis fósseis avançadas e mais limpas, e promover o investimento em infraestrutura de energia e em tecnologias de energia limpa; expandir a infraestrutura e modernizar a tecnologia para o fornecimento de serviços de energia modernos e sustentáveis para todos nos países em desenvolvimento, particularmente nos países menos desenvolvidos, nos pequenos Estados insulares em desenvolvimento e nos países em desenvolvimento sem litoral, de acordo com seus respectivos programas de apoio.

Todas essas premissas dizem respeito a negócios presentes e futuros desenvolvidos em Minas Gerais. O Estado abriga algumas das mais importantes hidrelétricas do País, como : Furnas, Nova Ponte e Três Marias, entre outras. Além disso, se destaca na geração de energia solar. No fim do ano passado ultrapassou a marca de dois gigawatts (GW) de potência instalada da fonte de energia solar em operação. Desde 2012, cerca de R$ 9,9 bilhões foram investidos em projetos fotovoltaicos que geraram mais de 60 mil empregos.

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