Transporte é esperança de vendas da nova Embraer

5 de setembro de 2019 às 0h04

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Empresa já está conversando com outros três países que têm estoque de C-130 - Crédito: Airman 1st Class Rhett Isbell

São Paulo – A entrega do primeiro dos 28 aviões de transporte KC-390 da Embraer, ocorrida ontem em Anápolis (GO), coroa um processo de desenvolvimento único no mercado.

Para a empresa paulista, o KC-390 é o passaporte para o seu futuro imediato. Até o começo do ano que vem, a Embraer deverá completar o processo de separação da sua famosa e bem-sucedida linha de aviões comerciais regionais, cujo controle foi comprado pela americana Boeing.

A empresa remanescente focará em defesa, segurança, serviços e aviação executiva, e é na área militar que o KC-390 brilha nos seus planos.

Para chegar até aqui, a Embraer fez em uma década o que europeus levaram 25 anos com seu transportador Airbus A400M e o que os russos ainda não conseguiram de forma efetiva desde o fim da Guerra Fria em 1991.

Executivos da Boeing sempre o citam desenvolvimento do avião, feito de forma concomitante ao de jatos executivos e de uma nova linha comercial (a E2) como exemplo da capacidade de engenharia que os americanos queriam absorver na compra.

Não foi um caminho fácil, contudo. A recessão de 2015 e 2016 encolheu os pagamentos da União ao projeto, encomendado pela FAB em 2009.

Os militares colocaram, desde as fases iniciais de estudo em 2008, R$ 5 bilhões para o desenvolvimento e construção de dois protótipos. Depois, fizeram o pedido inicial da aeronave, 28 unidades, por R$ 7,2 bilhões.

Às restrições orçamen-tárias, um clássico nos programas das Forças Armadas, somaram-se dois incidentes graves nos testes do avião.

Em outubro de 2017, o protótipo 001 fazia um teste de estolagem, quando o avião sobe num ângulo até ficar sem sustentação. Houve uma perda de controle e aeronave despencou rumo ao solo, só retomando o controle em voo invertido (de ponta-cabeça) a 300 metros do chão.

Pilotos de testes da Embraer avaliam que o quase-acidente provou a grande força estrutural do KC-390, que foi exposto a forças gravitacionais que nunca enfrentaria em situações normais. Houve alguns danos a partes externas do modelo, mas não relevantes.

Já em maio do ano seguinte, o mesmo avião saiu da pista em um teste em Gavião Peixoto e sofreu danos estruturais sérios, sendo retirado da campanha de certificação. A FAB concordou em emprestar um dos aviões de série, o 003, para continuar o processo de liberação do modelo junto aos órgãos reguladores civis e militares.

Os incidentes custaram R$ 460 milhões à Embraer e um atraso nas entregas. A previsão de que o primeiro KC-390 fosse entregue entre 2016 e 2017, chegando a cinco unidades em 2019, foi postergado para esta quarta. Os demais aviões devem completar a frota da FAB até 2024.

O investimento dos militares no projeto será ressarcido em forma de royalties, 3,2% sobre cada venda. A primeira já ocorreu, e foi para o competitivo mercado europeu: Portugal, país em que uma subsidiária da Embraer fabrica partes do KC-390, comprou cinco aviões por 827 milhões de euros.

A empresa já está conversando com outros três países do continente, que tem um estoque dos modelos C-130 Hércules, o grande alvo do KC-390. A Embraer prevê que, nas próximas duas décadas, haja uma demanda por até 700 aviões de transporte médios (algo como R$ 250 bilhões hoje), nicho dominado pelo rival produzido pela americana Lockheed.

Para melhorar sua posição de mercado, a Embraer incluiu na sua negociação com a Boeing a criação de uma joint venture comandada pelos brasileiros (51%) com o fim exclusivo de vender o KC-390.

A Boeing, que domina o mercado dos aviões de transporte pesados com seu C-17 Globemaster, viu no modelo brasileiro uma oportunidade de atacar sua maior rival, a Lockheed. Há uma expectativa dos sócios de penetrar até no mercado americano, que opera cerca de 500 C-130.

As vantagens técnicas do KC-390 decorrem do fato de ele ser um projeto do século 21, enquanto o venerando Hércules voa desde 1956 – naturalmente, hoje com versões bastante atualizadas em mecânica e sistemas eletrônicos.

O modelo brasileiro tem duas turbinas, ante quatro motores turboélices do americano, e transporta até 26 toneladas, enquanto o Hércules leva 19 toneladas de carga.

É mais barato de operar e também unitariamente (cerca de R$ 350 milhões contra R$ 420 milhões), mas este é um valor de referência apenas, pois depende de cada pacote de venda. Eles não concorrem diretamente com o A400M (37 toneladas de carga, R$ 650 milhões a unidade).

Resta agora combinar com os clientes. No ano passado, a Nova Zelândia preteriu o KC-390 em favor de uma versão mais atualizada do C-130, mostrando que o velho cavalo de carga dos ares ainda é um adversário duro de ser batido. (Folhapress)

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