Não estamos sós

25 de janeiro de 2022 às 0h26

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Crédito: Freepik

“Universo, irmão mal conhecido.”(Jean Wahl, poeta)

A aventura humana é tecida de infindáveis interrogações. As perguntas espocam em número infinitamente superior às respostas. Num contexto desses, de proporções colossais, a ciência é gota. Os fenômenos investigados, na longa espera da decifração, são um oceano.

No instante em que um telescópio superpoderoso em matéria de propriedades tecnológicas apropriadas pelo homem dá-nos conta da existência provável, num ponto distante de outra galáxia, de um corpo celeste que ostenta características atmosféricas assemelhadas às deste nosso planeta azul, é perfeitamente natural se reacenda a sempre momentosa discussão em torno da existência de vida inteligente nas demais paragens do cosmos. Embora intuída pela grande maioria das pessoas, a tese da pluralidade de mundos habitados ainda não é oficialmente aceita pela ciência.

Hoje já não é bem mais assim. Mesmo que se leve em conta o patrulhamento ostensivo no campo das ideias ainda praticado por certas correntes fundamentalistas radicais. Mas tempo houve em que as pessoas de mente aberta trancavam a sete cadeados suas crenças em tão “sacrílega” hipótese. Resguardavam-se, com justificáveis temores, das consequências práticas dessas ideias extravagantes virem a cair nos ouvidos de zelosos guardiães dos conhecimentos científicos e religiosos dogmaticamente consolidados.

A ortodoxia científica, mesclada de fanatice religiosa, fixava conceitos inamovíveis. Contestá-los representava risco a que ninguém queria, obviamente, se expor.  As proclamações de um luminar qualquer, revestido de pompa e autoridade, tinham força de mandamento divino. Ai de quem ousasse contradizer, por exemplo, a afirmação de que, lá no inatingível ponto em que as águas do mar (povoadas de terríveis monstros) e o horizonte se fundem, ficava a borda de um precipício aterrorizante! Ou a assertiva de que o sol e os demais corpos celestiais do firmamento giravam em torno da Terra!

Retomemos o papo sobre a descoberta, nos confins cósmicos, do astro de configuração parecida com a Terra. Muitas especulações começam, agora, a ser feitas a respeito da possibilidade de se abrigarem ali espécies de vida como as que conhecemos aqui. A inviabilidade de respostas a curto ou a médio prazos, considerados sobretudo os milhares de anos-luz que separam um planeta do outro, gera logicamente outras elucubrações. Vamos supor que o local favoreça o desenvolvimento de uma civilização com as mesmas peculiaridades. A evolução tecnológica alcançada se situaria num estágio superior ou inferior ao nosso? Adiante. Mantenhamos sob mira a transformação assombrosa que este nosso mundo velho de guerra experimentou nos últimos 50 anos. Avaliação do que poderia vir a acontecer, em matéria de mudanças, num ciclo evolutivo de mil ou 2 mil anos a mais, remete-nos, naturalmente, a projeções e perspectivas fantásticas. Não apenas tão fantásticas quanto a gente consiga imaginar. Mas muito mais fantásticas do que a gente jamais conseguirá imaginar.

A ciência alega não dispor ainda de elementos para proclamar a existência de vida inteligente fora do orbe terráqueo. Sob esse aspecto e sob o aspecto do bem-estar social assegurado a todos os seres humanos, os estrondosos avanços tecnológicos espaciais valeram pouco. Continuamos, praticamente, a propósito, no mesmo patamar informativo científico dos remotos momentos da censura ameaçadora que impedia a discussão aberta, transparente, do instigante tema. Isso, todavia, não impede que muita gente, consciente de sua cidadania cósmica, em diferentes cantos desta imensa pátria terrena, paradoxalmente uma ilhotinha perdida num oceano infinito,  composto de sextilhões ou mais astros – entre eles o tal planeta que guarda similitude com o nosso -, aceite pacificamente a ideia de que não estamos sós no universo.

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