O legado do coronavírus para a economia e as relações de trabalho

24 de abril de 2020 às 0h14

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Crédito: REUTERS/Ricardo Moraes

Luana Caldeira*

No mundo todo, o novo coronavírus causou danos muito além da tragédia humana. Com o Covid-19, as restrições emergenciais de locomoção e convivência impactaram o mercado global e, claro, toda a sociedade.

Da economia às formas de trabalho, é certo que os seus efeitos irão se estender por anos. Empresas vão falir, as relações humanas vão mudar – já começaram a mudar -, o modelo de trabalho nunca mais será o mesmo e oportunidades irão surgir, uma resposta natural de sobrevivência ao anunciar de cada crise.

Em meio ao caos, evidenciamos com maior clareza o quanto os recursos tecnológicos nos aproximam, e ao mesmo tempo nos distanciam uns dos outros. Bastou uma pandemia para entendermos, durante este período de reclusão, o valor do toque – que não o do touch, o valor do convívio e das interações pessoais fora dos ambientes virtual e digital.

Sem aviso prévio, a pandemia nos colocou em choque com uma realidade sem precedentes, afetando de forma explícita todos nossos sistemas operacionais – nossa vida pessoal, nossa comunidade, as empresas –, nos impondo e, sequer, dando-nos escolhas para nos adequarmos às novas formas de viver e trabalhar. E nesse momento, adaptar-se nunca se fez tão necessário, pois sabemos que o sistema operacional mundial não será mais o mesmo.

Será necessário dar um “Control + Alt + Del” nos nossos sistemas, reconfigurar nossa programação social e restabelecer mudanças de rotas estratégicas; pois a falta de receita, fluxo de caixa, demissões e tudo o mais irão desconfigurar o mundo que conhecemos. Aliás, esqueça, esse mundo não mais existe.

Nós, economicamente ativos, 46,7% da população brasileira, somos de uma geração que pela primeira vez está enfrentando uma crise comparável às grandes guerras mundiais, por isso tanta dificuldade em “prever” o futuro. O controle sobre nossas vidas e os negócios nunca pareceu tão vulnerável. Onde foi parar nossas certezas “absolutas”?

Todas estas tormentas trazem à tona sentimentos como medo, insegurança e angústia. Mas junto a todas estas emoções, o nosso mecanismo de sobrevivência é acionado, pois a reclusão social gerou uma necessidade ou desejo de olharmos “para dentro”, em busca do autoconhecimento ou no mínimo e não menos necessária uma reavaliação dos nossos valores.

Esta reavaliação vale para os valores pessoais e também para os negócios. já parou para pensar que se o seu negócio não estiver gerando receita, seja por qual for o motivo, este é o momento para questionar todos seus processos e entender quais são as dores reais dos seus clientes e, diante desta constatação, pensar no que pode ser acrescentado à sua entrega para atendê-lo melhor e gerar valor?

Diante de tantas incertezas, a única certeza é que, mais do que nunca, a estratégia é inovar – nova forma de pensar, de fazer e, principalmente, uma nova forma de ser. As mudanças são barreiras imaginárias e culturais. Eu mesma, como líder e empreendedora, sempre pensei, de forma bem remota, na possibilidade de implementar o home office no meu negócio.

Esta ideia era sempre vaga, difusa, e soava ser complexo demais fazer acontecer este modelo de trabalho para uma agência de comunicação que, dada às suas particularidades, tem uma dinâmica bem interativa entre os vários setores. Pois bem, bastou o risco eminente de contágio pelo Covid-19 para que, em menos de 48h, todo nosso time de quase 30 profissionais estivesse 100% on-line e trabalhando em home office.

Tivemos sim uma primeira semana de contratempos, ajustes, e já na segunda semana estávamos todos adaptados e altamente produtivos. Com toda esta experiência, o ditado popular de que “a necessidade faz o sapo pular” fez todo sentido, e hoje me pergunto: será que quando tudo isso passar voltaremos à nossa rotina de trabalho no modelo presencial? Este questionamento não se deve apenas pela economia de infraestrutura, que é grande e representativa, mas também pelo fato do trabalho remoto ter se mostrado eficaz.

Nesse contexto, a expressão mundo Vuca, termo antes muito usado pelas startups, hoje é claramente aplicável a todos os segmentos de negócios, pois a volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade estão presentes no cenário de guerra que ora enfrentamos, e nós, líderes, precisamos ter em mente que a tecnologia é e será cada vez mais um ativo humano.

Assim, sob essa perspectiva não podemos olhar para trás, o passado não é mais um guia e os recursos ofertados pela tecnologia hão de abrir outras portas e janelas, possibilitando maior interação, velocidade e dinamismo inimagináveis às nossas rotinas de trabalho. E isso é muito bom.

O futuro requer novos insigths e nada mais oportuno que lançarmos mão da colaboração e interação, toda troca pode ser rica. O momento exige que estejamos voltados para o que é – ou foco no que é – essencial, assim teremos capacidade de entender as necessidades vitais e, só aí, inovarmos de fato.

E, para isso, uma condição sine qua non: estar aberto, pois acredito que o que virá após esta crise será abundante e virtuoso. #tudovaipassar, menos a vontade de se reinventar quantas vezes necessário for.

*Diretora de Estratégia da 2 Pontos Comunicação

 

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