Um buraco que não tem fundo

17 de dezembro de 2019 às 0h01

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Crédito: REUTERS/Ueslei Marcelino

Apenas os fatos, tão objetivamente quanto o conhecimento deles nos permite. Sem preferências, muito menos opções cegas e legítimo interesse por tudo aquilo que diz respeito ao Brasil e aos brasileiros. Para seguir o fio da meada, um pouco de memória. O País carrega um déficit que, na linguagem fria dos números e apesar de alguma coisa positiva que já se fez, ainda pode ser traduzida como uma situação próxima da insolvência. Um desastre que foi sendo preparado durante longos anos, com o concurso das mais diferentes correntes políticas, todas aquelas que trocaram o interesse público pelo particular, num processo em que as exceções, desiludidas, se afastam.

Ou aplaudem, equivocadamente ou iludidas, processos políticos como o que levaram ao afastamento da presidente Dilma Rousseff, na ilusão construída de que ela representaria todos os males e que sua remoção seria o bastante para uma espécie de retorno ao paraíso. Seu vice, Michel Temer e aqueles que estavam em seu entorno, com ambições às vezes mal disfarçadas, falavam do déficit fiscal, enfatizavam que o País estava à beira do abismo, e prometiam promover, rapidamente, o ajuste fiscal necessário, garantiam que cortariam na própria carne, doesse a quem doesse.

O tempo passou, sejamos realistas, e o essencial foi deixado de lado, com antigos vícios, que alguns historiadores julgam ter chegado ao Brasil na bagagem de D. João VI. Em síntese, a ideia, talvez imperial, de que o público, na realidade, é privado. De que outra forma, afinal, qualificar a recente tentativa do Congresso Nacional, dos políticos e de seus partidos portanto, de elevar a R$3,8 bilhões o valor do fundo eleitoral para a campanha das eleições do próximo ano. O País não tem esse dinheiro e, se tivesse, por obrigação deveria gastá-lo com o atendimento das necessidades básicas da população, hoje muito distantes do mínimo necessário às condições de dignidade que não alcançam a maioria dos brasileiros. Vergonha.

Tudo faz crer que algum arranjo de última hora será feito, apenas para produzir a impressão de austeridade, conceito desconhecido por completo. Fosse diferente e as campanhas políticas seriam mais simples e mais baratas, livres entre outras coisas da capacidade de produzir “sobras” de destino incerto, ignorado e duvidoso. Tentaram abater um monstro, o financiamento particular, que, evidentemente, não passava em branco, e criaram outro, em que a conta vai para o bolso dos contribuintes, fazendo faltar dinheiro que poderia estar nas escolas, nos hospitais e no suprimento de carências que estão longe do fim. Tanto quanto o déficit público, mascarado na realidade com mais endividamento, numa conta que também não se sustenta.

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