Voltando às lateralidades incendiárias

5 de maio de 2020 às 0h13

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Crédito: Freepik

Cesar Vanucci*

“Tudo farinha do mesmo saco!” (Domingos Justino Pinto, educador, definindo fanáticos extremistas da direita e da esquerda)

Com as teorias fundamentalistas desatinadas, que correm soltas nestas e noutras plagas de nosso azulado e azucrinado planeta, este escriba considera de bom alvitre trazer à apreciação de seu apoucado, posto que leal e culto leitorado, considerações já expendidas neste “minifúndio de ideias”, referentes aos estragos que os posicionamentos extremados costumam produzir na ordem social, política e econômica.
No fundo, nada tão parecido com um extremista de esquerda quanto um extremista de direita. As diferenças são apenas circunstanciais. Na essência é tudo de uma mesmice aterrorizante. “Tudo farinha do mesmo saco”, conforme definição do saudoso professor Domingão.

Fiquei conhecendo, anos atrás, respeitável cidadão judeu que escapou por um triz do holocausto. Era de nacionalidade húngara. Impelido por forte saudade, memória abarrotada de lembranças, algumas tenebrosas, ligadas ao martírio imposto a parentes e amigos em campos de concentração, resolveu determinado dia rever os pagos natais.

Voltou traumatizado. Tudo continuava igualzinho no front. Os fantasmas de carne e osso que o assombravam no passado, promovendo expurgos a mando do Führer, continuavam firmes nos arreios do então comando político do país, praticando as mesmas ignomínias. Só que aí, já então, em nome do comunismo, na época predominante.

O tirano Pinochet, em que pesem as proclamadas divergências ideológicas, dizia nutrir admiração por Fidel Castro. Parece que era recíproco. Lembrei-me muito disso quando o ditador cubano andou condenando, certa ocasião, tempos atrás, as tentativas da Justiça espanhola em arrastar o finado colega chileno à barra dos tribunais internacionais.

As afinidades entre extremistas são muito mais sutis do que jamais conseguirá supor nossa vã filosofia. Hitler e Stalin, comumente apresentados como os mais sanguinários déspotas da história contemporânea, chegaram a firmar pacto de não agressão (rompido pelos nazistas), com o objetivo de facilitar as coisas para a Alemanha em seus projetos expansionistas. As lideranças comunistas foram instruídas a se manter, a princípio, em “piedoso silêncio” com relação às atrocidades cometidas nos países ocupados.

Ordem disciplinadamente acatada. Da reação indignada de personagens destacados da inteligência comunista, diante dos hediondos crimes nazi-fascistas, a opinião pública mundial só veio a tomar conhecimento mesmo só depois da traiçoeira invasão das tropas alemãs ao território russo. A crônica histórica relaciona casos de colaboracionismo entre partidários de Hitler e Stalin nas regiões europeias subjugadas, anteriormente à citada invasão.

Qual a diferença para a sociedade, volta e meia tornada refém dos radicais, entre um fanático de esquerda e um de direita? Aquele sinistro milionário saudita, de nada saudosa memória, que os serviços de inteligência estadunidenses protegeram e armaram no passado e que, posteriormente, comandou vasta rede terrorista, dizia sempre agir em nome de Alá. Aquele outro fanático indivíduo americano que a Justiça de seu país condenou à morte pela tragédia de Oklahoma, intitulava-se representante da “supremacia racial branca”.

Supremacia essa tida como “dom divino” outorgado, segundo seus adeptos, à sinistra Ku Klux Klan. São exemplos que remetem à conclusão de que todos extremistas não passam, no duro mesmo, independentemente da coloração, de verso e reverso de uma mesmíssima moeda.

As ideologias radicais na base do “crê ou morre” – relembremos as façanhas horripilantes do Khmer Vermelho – são inimigas juramentadas da humanidade. É só pôr tento no que são capazes de aprontar, em amostras frequentes, de inaudita ferocidade, judeus e palestinos radicais. Ou outros indivíduos, nas mais diferentes paragens, de nacionalidades e culturas diferenciadas, dominados pela fanatice.

Sobra de toda a narrativa lição definitiva. A solução dos problemas não vem jamais das lateralidades incendiárias. Ela só pode germinar em clima onde vicejem valores humanísticos genuínos, com destaque para a justiça social, a fraternidade, a democracia. Ou – numa conceituação mais abrangente, projetada a partir de interpretação espiritual do fascinante e, às vezes, complexo e instigante jogo da vida – ela só pode vir mesmo, senhoras e senhores, do Alto. Como dizia Mestre Alceu Amoroso Lima.

*Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

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