Prestação de serviços é aposta de Nova Lima para diversificação

5 de fevereiro de 2021 às 0h26

img
Crédito: Divulgação

Importante polo tecnológico de Minas Gerais e um dos berços da mineração no Estado, Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), muitas vezes tem seu território e suas empresas confundidos com a capital mineira. Com 320 anos completados recentemente, a cidade, famosa no País pela extração de ouro e de minério de ferro, aposta cada vez mais na tecnologia e na prestação de serviços em vistas da tão almejada diversificação econômica.

Este também será um dos esforços de João Marcelo Dieguez (Cidadania), vice-prefeito da antiga gestão, eleito prefeito nas últimas eleições, com 38,2% votos, para quem Nova Lima possui três principais desafios: a diversificação econômica, a mobilidade urbana e a habitação.

Em entrevista exclusiva ao DIÁRIO DO COMÉRCIO, em uma série em que o veículo busca conhecer os principais desafios e metas dos prefeitos eleitos em algumas das principais cidades do Estado, Dieguez adianta que sua gestão será pautada pelos pilares do diálogo, da integração e da inovação. Diz que a cidade tem crescido muito, que a vê como expoente de Minas Gerais, mas que ainda há um grande potencial para se tornar cada vez mais atrativa aos negócios de empresas limpas. “Queremos contribuir para que Nova Lima gere riqueza para o Estado e para o País e emprego e renda para a população”.

Você era vice-prefeito na gestão anterior, qual a avaliação do mandato?

Assim como em grande parte da cidade, avalio de forma positiva. Em 2017, assumimos uma prefeitura completamente endividada, que não conseguia pagar fornecedores nem servidores em dia, com dívidas trabalhistas monstruosas. Enfim, um município sem capacidade nenhuma de investimento, mesmo arrecadando muito. Foram quatros anos num processo intenso de arrumar a casa, colocar as contas em dia, equilibrar as finanças e retomar a capacidade de investimento. Isso não necessariamente significa, num curto prazo, apresentar grandes realizações. Mas a população reconhece que o grande mérito do governo anterior foi o reequilíbrio econômico e administrativo do município. Este foi o grande legado. Hoje a gente assume uma prefeitura com dinheiro em caixa e capacidade de investimento. Uma prefeitura muito diferente da que encontramos há quatro anos.

Quais serão os principais desafios da nova gestão?

Nova Lima tem três principais desafios: diversificação econômica, mobilidade urbana e habitação. São três principais desafios que o poder público precisa encarar de frente tendo como parceiros a sociedade civil e o segundo setor para que a cidade consiga superar as dificuldades que ainda enfrenta.

O que norteará seu programa de governo entre 2021 e 2024?

Assumimos um compromisso público durante a campanha que estabelece três pilares norteadores para nosso governo. O primeiro deles é o diálogo, pois mesmo com a boa avaliação do governo passado, o ponto negativo foi a falta de diálogo. Entendo que decisões que impactam a vida de grande parte das pessoas não podem ser tomadas sem, minimamente, ouvi-las. Por isso, vamos estruturar melhores formas de diálogo entre o poder público e a sociedade, entidades de classe e empresários. A Prefeitura precisa ser vista como parceira e não como adversária e o diálogo é o primeiro caminho pra isso. O segundo pilar diz respeito à integração. Nova Lima é uma cidade de diferentes realidades com microrregiões distantes e distintas que não se comunicam. Isso acontece igualmente nas secretarias da Prefeitura e assumimos o compromisso de integrá-las, porque acreditamos que integrar a cidade é conectar as pessoas e as oportunidades e promover um melhor desenvolvimento. Já o terceiro pilar é o da inovação. Inovar tanto sob o aspecto da tecnologia e da modernidade através de tecnologias para a cidade, mas também na forma de pensar, encontrar soluções e construir novos caminhos para antigos problemas. Enfim, pensar diferente e fazer diferente.

Como a política de desenvolvimento de seu governo leva em conta a questão fiscal?  Como vê questões como alocação de recursos e máquina pública, por exemplo?

Nós também assumimos o compromisso de tornar os serviços públicos mais eficientes sem que seja necessário o aumento de impostos municipais. A gente acredita que assim a gente contribuiu com os cidadãos e com os empresários. A Prefeitura de Nova Lima arrecada bastante, está com as contas equilibradas e não precisa de aumentos. Então, fizemos o compromisso que nos quatro anos não haverá aumento de impostos municipais. Sobre a máquina pública, avalio que atende bem a situação atual. Durante o governo passado foi feita uma reforma administrativa que contribuiu para isso. Nova Lima é uma cidade que cresceu muito e que tem uma estrutura razoável: não está inchada, mas também não foi diminuída onde poderia. Não tenho como objetivo inchar a Prefeitura e também não vejo como necessidade reduzi-la ao extremo.

Você já disse em outras entrevistas que Nova Lima precisa melhorar a capacidade de investir. Por meio de quais áreas pretende fazer isso?

Algumas áreas são fundamentais. Em saneamento, por exemplo, Nova Lima precisa avançar muito. É um ponto crítico de nossa cidade e nosso governo vai ter um olhar especial. A questão habitacional também preocupa. Nova Lima não teve grandes políticas habitacionais nas últimas décadas e ficou refém de programas estaduais e federais. Acredito que na situação que nos encontramos hoje seja possível desenvolver um programa municipal de habitação para construir moradias dignas. Por fim, a mobilidade, que pode apontar, inclusive, um novo caminho de desenvolvimento para a cidade.

Como está hoje a arrecadação do município?

No último ano tivemos um recorde histórico na arrecadação. De um orçamento de R$ 560 milhões a Prefeitura arrecadou mais de R$ 800 milhões. É uma realidade rara. Nova Lima é uma cidade privilegiada. A expectativa para esse ano também é positiva e nosso orçamento traz como prioridade investimentos em saúde, educação e desenvolvimento social e econômico. Para se ter uma ideia, juntas, as pastas de educação e saúde reúnem mais de 50% do orçamento, enquanto a obrigatoriedade legal é 40%. Estamos vivendo um momento atípico por causa da pandemia e que exige um esforço maior do município também.  Essas são áreas centrais com as quais iremos trabalhar. Já para os próximos anos precisaremos adequar algumas questões, pois com o atual orçamento da Secretaria de habitação, por exemplo, eu não consigo construir um programa de habitação. Por isso, serão necessários reajustes dentro do nosso programa de governo.

Como é hoje a importância de cada setor?

A maior parte dos recolhimentos vem da mineração e da prestação de serviços.  O ISS não para de crescer e a mineração foi que nos permitiu registrar recorde no último ano. Há quatro anos, quando assumimos o Executivo, arrecadávamos por mês R$ 4 milhões a R$ 4,5 milhões de Cfem. É claro que neste período teve alteração da alíquota e passamos a arrecadar cerca de R$ 9 milhões mensais. Mas terminamos 2020 com R$ 30 milhões, por conta da alta do dólar e do próprio minério. A expectativa para este ano de acordo com a Secretaria da Fazenda também é otimista.

A revisão do plano diretor da cidade foi uma de suas principais bandeiras de campanha. O que esperar sob o ponto de vista do desenvolvimento econômico?

Governante que não olha o plano diretor não olha para o futuro da cidade e o plano diretor de Nova Lima está defasado, deveria ter sido revisado há quatro anos. Fizemos esse compromisso por entendermos que o futuro da cidade passa por essa revisão. Queremos atrair empresas limpas. Não por acaso nosso plano de diversificação econômica se chama ZLD – Zonas Limpas de Desenvolvimento – que já teve a implantação iniciada e pretendemos concluir. Há uma relação direta com o plano diretor. Consiste em identificar os potenciais econômicos e as vocações econômicas de cada região da cidade e incentivá-las, melhorando as condições para que se tornem atrativas para a instalação de empresas. É reorganizar a cidade.

Nova Lima é considerado um importante polo tecnológico. Como manter e aprimorar essa vocação?

Nova Lima hoje já tem o ISS mínimo para o setor. Mas existem formas de tornar isso ainda mais atrativo. A região do Vila da Serra, por exemplo, é um polo de tecnologia e inovação. Precisamos caracterizá-lo, porém, por meio de um processo de requalificação urbana, melhorias na mobilidade, no transporte público. E também na formação e qualificação da mão de obra. Já estamos estudando a criação da escola de programação em robótica, que ofereça oportunidade aos nova-limenses de se formarem como programadores e fortalecer ainda mais essa vocação que já existe na nossa cidade. A partir do momento que tivermos essa mão de obra local especializada mais um ambiente preparado, Nova Lima terá condições de se tornar um Vale do Silício brasileiro.

E como atrair novos aportes para a cidade?

Temos condições de criar novos hubs, principalmente na região do Vila da Serra. Queremos abrir portas de conversas com grandes empresas de tecnologia, como o Google. Queremos ser um grande facilitador e intermediário para que essas empresas se instalem aqui. Temos um núcleo de projetos prioritários e implementação de negócios e empresas, no qual empresas que tenham características conectadas com as vocações do município, encontram na prefeitura um facilitador. Nós, enquanto poder público, podemos trabalhar na articulação e atração de investimentos, criando conexões e gerando oportunidades para que essas empresas se instalem em Nova Lima.

Como Nova Lima tem lidado com a Covid-19? Como administrar uma cidade que praticamente se confunde com Belo Horizonte em meio a uma pandemia?

Temos uma conurbação muito grande e é difícil tomar decisões que se desencontram das outras cidades, o que também não significa dizer que o que for feito por elas vamos seguir. Sempre analisamos o contexto local, sob a política de priorizar a saúde das pessoas, mas tomando os cuidados para não prejudicar ainda mais a economia. Estamos ligados ao Minas Consciente do governo estadual e temos buscado preservar a economia do nosso município. Trabalhamos muito também na conscientização da população, pois não adianta o governo fazer a parte dele se as pessoas não contribuírem. Se houver cooperação mútua vamos passar pela pandemia de maneira menos pior. Então, preservamos nosso comércio e tomamos cuidado para que o impacto de decisões de municípios vizinhos não desencadeie efeitos no nosso.

E o impacto econômico, qual é? E como pretende reaquecer a economia da cidade no cenário pós-pandemia?

Ainda não temos números concretos do impacto, mas já criamos um grupo de trabalho que envolve as diferentes pastas, para a construção e efetivação de um plano de retomada sócio econômico. Já iniciamos as tratativas e diálogos com bancos, entidades e associações para construirmos um grande programa de retomada econômica. Queremos que seja uma forma de oportunizar os comerciantes a partir de alternativas que deem fôlego aos negócios e oportunidades aos cidadãos.

Tags:
Facebook LinkedIn Twitter YouTube Instagram Telegram

Siga-nos nas redes sociais

Comentários

    Receba novidades no seu e-mail

    Ao preencher e enviar o formulário, você concorda com a nossa Política de Privacidade e Termos de Uso.

    Facebook LinkedIn Twitter YouTube Instagram Telegram

    Siga-nos nas redes sociais

    Fique por dentro!
    Cadastre-se e receba os nossos principais conteúdos por e-mail