Uberlândia: orçamento para 2021 preocupa, mas investimentos públicos devem continuar

22 de janeiro de 2021 às 0h29

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Odelmo Leão | Crédito: Valter de Paula / Secom

Segunda maior cidade de Minas Gerais, Uberlândia, no Triângulo Mineiro, só fica atrás da capital Belo Horizonte quando o assunto é economia. Com Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 37,4 bilhões em 2018, a cidade chegou à quarta posição entre os municípios do interior do Brasil com maior atividade econômica, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgado no fim do ano passado.

Com uma população de quase 700 mil pessoas e arrecadação anual superior a R$ 3 bilhões, foi inevitável que os impactos da crise sanitária causada pela pandemia de Covid-19 não atingissem a cidade nas mesmas proporções. O prefeito Odelmo Leão (PP), reeleito em 2020 com 228.390 votos (70,47%), faz um balanço positivo do último mandato, citando investimentos vultosos atraídos nos últimos quatro anos, bem como ações e melhorias implementadas por sua equipe.

Em entrevista ao DIÁRIO DO COMÉRCIO, o político de 74 anos, que também já foi deputado federal e governa Uberlândia pela quarta vez, se diz preocupado com o orçamento previsto para 2021. Ainda assim, garante a priorização de ações nas áreas da saúde, educação e social, bem como a continuidade dos investimentos em drenagem e mobilidade urbana. Para o futuro, a aposta do líder do Executivo está na exploração de pó de basalto e na energia fotovoltaica – setor cuja liderança nacional de geração já é da cidade.

Odelmo Leão

O senhor foi reeleito. Que avaliação faz do mandato anterior?

Conseguimos colocar a casa em ordem, fizemos um equilíbrio das contas, realizamos investimentos de R$ 124 milhões em mobilidade urbana e várias melhorias no transporte público, por meio de novas licitações de transferência. Na saúde, destinamos recursos a vários hospitais e saltamos de 40 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para 80. Além dos atendimentos normais, nas Unidades de Atendimento Integrado do Município (UAIs), que possuem 38 leitos de emergência com estrutura semelhante a UTI, e da aquisição dos remédios necessários, equipamentos e material humano, com a contratação de médicos e enfermeiros.

Quais principais desafios o senhor vê pela frente?

Vamos prosseguir com os investimentos que fizemos nos anos anteriores em mobilidade e drenagem, mas nossas maiores preocupações são relacionadas à pandemia, incluindo a vacina, pois sabemos que é a única maneira de combater a doença. O retorno das aulas, por exemplo, está marcado para 8 de fevereiro, mas ainda não é certo, porque depende do controle da pandemia. De toda maneira, estamos preparados para o retorno. Além disso, nos preocupam os recursos transferidos pelo governo federal. No ano passado recebemos cerca de R$ 83 milhões, pagamos em torno de R$ 60 milhões, sobrando R$ 23 milhões em caixa. Não sabemos se estes repasses para o atendimento à Covid-19 permanecerão. Temos na cidade o Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, que limitou o atendimento e toda demanda recaiu sobre o município. Sabemos que o município tem as funções de atenção primária, média e alta complexidade não é função da cidade e estamos sendo obrigados a fazer, por falta de atendimento nos equipamentos públicos que deveriam estar servindo. Inclusive, começamos a fazer cirurgias cardíacas no Hospital Municipal. Já realizamos 150 cirurgias. Isso significa que o município está fazendo a sua parte, a do Estado e a da União. Essa é a grande verdade. Com isso, estamos saindo dos 15% de gastos do orçamento com saúde pública, como determina a Constituição, para quase 28%. E isso sacrifica o orçamento do município. Na educação também chegamos próximo a 30% de investimento, enquanto o obrigatório é 25%. O município está se superando em várias áreas para poder atender aos anseios da população.

O que vai nortear seu programa de governo entre 2021 e 2024?

Priorizaremos ações em saúde pública, educação, na área social, em mobilidade urbana e drenagem. Outro problema que todas as cidades brasileiras com transporte público têm diz respeito ao equilíbrio das contas com transporte, que só ocorre quando há passageiros para sustentar o sistema. Quando o número de passageiros reduz, o município é obrigado a cobrir o déficit, que também pesa no orçamento.

Como a política de desenvolvimento de seu programa leva em conta a questão fiscal e o equilíbrio das contas públicas?

Com gestão pública. O prefeito precisa estar 24 horas olhando o orçamento e os gastos. O gestor público precisa acompanhar e decidir as áreas prioritárias. E cortar despesas. Hoje a Prefeitura de Uberlândia tem 15 secretarias. Nós estamos trabalhando com gestão pública e enxugando o que é possível. Temos uma folha de pagamento grande, incluindo terceirizados e os próprios servidores públicos, além de entidades que prestam serviços para a cidade. Temos buscado gerir todas essas áreas.

Uberlândia é a segunda maior cidade do Estado e possui 51.225 casos de Covid-19. Como governar uma cidade deste porte em meio a uma pandemia?

Missão dada é missão para ser cumprida. Se Deus me deu a missão, Ele vai me dar o caminho, como me deu no último ano. No início eu tinha só 40 UTIs e tive que partir para 82. Através da gestão pública, do trabalho e do enfrentamento direto consegui. O Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, por exemplo, não está atendendo ninguém. Fica complicado para o município enfrentar uma pandemia dessa proporção sozinho e o instrumento público que deveria estar mais atuante nesta área está de porta fechada. É complexo. A minha porta nunca pode fechar.

Em julho já eram 2 mil empresas fechadas e 8 mil demitidos, segundo a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Uberlândia. Como pretende reaquecer a economia da cidade no cenário pós-pandemia?

Na verdade, em 2020 nós tivemos a abertura de 53 mil microempreendedores individuais (MEI) na cidade e o fechamento de 10 mil. Além disso, tivemos alguma recuperação e geramos 2,6 mil empregos na cidade de janeiro a novembro do ano passado, e o Sistema Nacional de Emprego (Sine) tem ofertado vagas semanalmente. Mas tudo vai depender da Covid-19. Se não houver apoio da população e a consciência de cada um de nós, vai ser difícil vencer este momento. Vai prejudicar setores produtivos, porque vamos ter que tomar medidas que não gostaríamos de tomar.

Entre os investimentos privados recebidos por Uberlândia nos últimos anos, quais são os principais destaques?

Nos últimos quatro anos, atraímos cerca de R$ 3 bilhões em investimentos para Uberlândia. Tivemos vários empreendimentos, como a ampliação da Souza Cruz, da Ambev, CJ Selecta, Polenghi e outras. Apenas em casas populares financiadas pela Caixa Econômica Federal e as empresas da cidade foram mais de R$ 4 bilhões, o que totaliza R$ 7 bilhões. Ou seja, apesar do impacto e das dificuldades econômicas de 2017, 2018, 2019 e agora em 2020 com a pandemia, tivemos bons resultados, pois temos um processo de facilitação para empresas que aqui chegam e para as que aqui estão. E para atrair investimentos, não basta a logística que a cidade oferece. Tem que ter qualidade de vida, educação, saúde pública, mobilidade urbana que atendam e facilitem o negócio. Nossa balança comercial também subiu 40%.

E como atrair novos aportes e em quais setores o senhor vê maior potencial?

Estamos agora trabalhando no pó de basalto. Uberlândia tem em seu subsolo 16 mil hectares de rocha basáltica para exploração. Os estudos estão em andamento e temos a expectativa de concluí-los até setembro deste ano, mas os resultados preliminares já apontam para o grande potencial de recuperação de solos, reduzindo a importação de produtos usados na fabricação do adubo NPK e a necessidade de uso de defensivos agrícolas. E o Brasil tem milhões de hectares de solos que precisam ser recuperados e reestruturados. Por isso eu acho que será um movimento econômico muito grande para a cidade. Inclusive a VLI já planeja um desvio ferroviário, porque vai ter que ser transportado por vagão para longas distâncias. A empresa deve puxar na cidade, em 2022, um milhão de toneladas pela primeira vez.

Uberlândia é destaque nacional na área de energia solar. Há novos projetos para esse ano? A Prefeitura oferece incentivos para instalação?

A cada dia temos novos projetos e novos investimentos. A própria Prefeitura está construindo uma usina fotovoltaica no complexo do Parque do Sabiá, que fornecerá energia elétrica para o Parque Aquático, Arena Sabiazinho e Estádio do Parque do Sabiá.

Sobre arrecadação, qual a situação do município e como é hoje dividido o peso dos setores?

Fechamos em torno de R$ 3,2 bilhões. Diante do cenário foi satisfatório, mas digo isso com muita preocupação que com essa pandemia que atinge a nossa economia e a todos os setores, inclusive o setor público de saúde. Na cidade, as receitas são divididas em: 67% vindo dos serviços, 31% da indústria e 1,6% do agronegócio. Mas, logicamente, neste caso é o produto primário, porque quando chega à indústria vai ter o valor agregado, resultando em 33% de participação. Nosso desafio no Brasil é, justamente, fazer a transformação da matéria-prima aqui e exportá-la. E é um trabalho que estamos fazendo em Uberlândia também, por meio da junção das secretarias de Agropecuária, Abastecimento e Distritos com a de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Turismo, formando a Secretaria Municipal de Agronegócio, Economia e Inovação, visando aproximar a matéria prima do seu mercado. Tem que ser em um trabalho conjunto.

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