VIVER EM VOZ ALTA | O Fli-BH

4 de outubro de 2019 às 0h03

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Crédito: Thainá Nogueira

ROGÉRIO FARIA TAVARES*

Com grande prazer, assisti ao debate entre os escritores Maria Valéria Rezende e Marcelo Rubens Paiva no Teatro Francisco Nunes, no sábado passado. Com mediação da excelente poeta Adriane Garcia, a conversa foi inteligente e fortemente sintonizada com os dramas vividos atualmente pela sociedade brasileira. Promovido pelo Festival Literário Internacional de Belo Horizonte, o FLI-BH, o evento provou o quanto vale a pena ouvir e refletir sobre o que dizem os bons autores. E, também, o quanto a literatura e a leitura são potentes para oferecer novas perspectivas e outras visões de mundo aos que se dispõem a ingressar em seus territórios. A vida de quem lê seguramente se relaciona mais com horizontes amplos e complexos, em que as verdades absolutas dão lugar à vontade de perguntar e de conhecer. E de duvidar das aparências.

De Maria Valéria Rezende, li o ótimo “Quarenta Dias”, lançado pela Editora Alfaguara em 2014 e vencedor do Prêmio Jabuti. O livro conta a história de uma mulher, já na chamada ‘terceira idade’, que desmonta sua casa e sua vida na Paraíba e se muda para Porto Alegre, atendendo a um pedido da filha, residente na capital gaúcha. Mais não direi, para não estragar a experiência dos que se interessarem em ler o texto dessa escritora paulista, freira da Congregação de Nossa Senhora – Cônegas de Santo Agostinho, hoje moradora de João Pessoa. A narrativa é tão engenhosa e sedutora que o leitor não consegue abandonar facilmente o volume. Também é assim o discurso de Maria Valéria, que encantou e eletrizou a plateia durante suas intervenções no bate-papo com Marcelo Rubens Paiva. Corajosa e lúcida, é intelectual de primeira linha, capaz de compreender, de fato, o seu povo e o seu tempo.

De Marcelo Rubens Paiva, li o famoso “Feliz ano velho”, lançado pela Editora Brasiliense em 1982 e logo um best seller nacional. No livro, o jornalista e dramaturgo conta a história do acidente que o deixou paraplégico. Filho de Eunice e do deputado Rubens Paiva, é figura marcante também na imprensa brasileira, tendo atuado na ‘Folha de S. Paulo’ e no “0 Estado de São Paulo”. Sua presença nas redes sociais é igualmente forte. E sua atuação no palco do FLI-BH não deixou a desejar, expondo suas ideias de modo firme e claro.
Na saída do teatro, tive a alegria de encontrar a professora Íris Amâncio, da Universidade Federal Fluminense e fundadora da Nandyala. No stand da editora, encontrei preciosos livros de autoria dos competentes Edimilson de Almeida Pereira (mineiro de Juiz de Fora, professor da UFJF, poeta já comparado pela crítica literária a João Cabral de Melo Neto) e Odete Semedo, sobre quem já escrevi nessa coluna. Uma das mais importantes escritoras da Guiné Bissau, Odete já morou em Belo Horizonte, quando fez o Doutorado em Literaturas de Língua Portuguesa na PUC Minas, orientada pela professora Nazareth Soares Fonseca. Voltei para a casa, ainda, com uma feliz coletânea de textos (poesia e prosa) de autores de Cabo Verde, igualmente editada pela Nandyala. Entre os autores, me impressionou, especialmente, Vera Duarte Pina, em quem recomendo que se preste a máxima atenção, pela qualidade e pela força de seus versos.

*Presidente da Academia Mineira de Letras.

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