Especialistas recomendam cautela diante das incertezas

24 de setembro de 2021 às 0h29

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Especialistas consultados pelo DC destacam a necessidade de planejamento antes de investir | Crédito: Pixabay

O avanço e a ampliação da vacinação no Brasil, a flexibilização e a retomada do trabalho estão propiciando a recuperação gradual de empresas e indústrias. Empreendedores de todo o País começam a vislumbrar uma chance para direcionar recursos dos negócios para novos e promissores investimentos.  

Porém, o cenário econômico atual é desafiador, com a inflação acumulada em 12 meses chegando a 8,99%, a taxa Selic no patamar de 6,25%, o dólar sendo cotado a R$ 5,30 e, além disso tudo, uma instabilidade entre os três poderes da República.

O DIÁRIO DO COMÉRCIO, em uma pauta escolhida pelos assinantes, procurou especialistas em economia, gestão de empresas e análise de investimentos para saber: é o momento de investir em expansão e melhorias de negócios?

O pesquisador na área de Finanças e Estratégia da Fundação Dom Cabral (FDC), Cássio de Pinho Tavares, avalia que o cenário não é atrativo. O professor esclarece que, cada caso é um caso, mas de modo geral, a instabilidade econômica do País não está oferecendo segurança para novos investimentos. “Estamos em um momento de crise sanitária, hídrica e energética. Há pouco tivemos a notícia da China (caso Evergrande) que abalou o mercado. Outra questão internacional que também nos afeta é a situação no Afeganistão. Isso corresponde uma incerteza nacional e internacional, o que deixa o mercado um pouco instável”, explica.

Ainda de acordo com Tavares, antes de pensar em investir é preciso que o empresário seja cauteloso e estude o cenário real que deverá enfrentar. “É importante ter um auxílio de alguém especializado para fazer esse mapeamento de risco. Avaliando as necessidades do mercado perante o seu negócio. Além disso, ano que vem é ano de eleições, outro ponto incerto é que também não temos um cenário preestabelecido”, opina.

Menor risco

O pesquisador da FDC acrescenta que para aqueles que já estão no caminho do investimento, um setor de menor risco é o de tecnologia. “O e-commerce foi a palavra da crise sanitária. Ele mostrou que o “fisiodigital”  – atendimento físico e o digital  – andam lado a lado, sendo um caminho sem volta. As empresas e indústrias  que não investiram em tecnologia terão que passar por esse processo urgentemente”, pontua.

Cássio Tavares finaliza que mesmo se o empresário quiser investir não opte por empréstimos. “Os juros não estão atrativos neste momento e podem virar um mau negócio no futuro. O ideal é fazer isso com recurso próprio”.

Este também é o pensamento do economista do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Edson Paulo Domingues. Para ele, o momento é negativo para novos investimentos, seja para expansão produtiva ou mesmo para novos negócios. Ele lembra que o País passou por uma forte recessão no ano passado devido à crise sanitária. Neste ano, por causa da ampla vacinação, há uma recuperação, porém não nos patamares desejáveis para investimentos. “Estamos em uma situação sem estímulos políticos e econômicos para isso. Sem geração de emprego e renda, futuro incerto com as eleições do ano que vem. O momento é de espera”, opina.

O economista reforça ainda que os empresários que não possuem recursos suficientes para investir não devem recorrer a empréstimos. “Não é o momento para solicitar empréstimos a bancos ou financeiras. As taxas de juros elevaram e o momento atual não é bom, além disso, a inflação acumulada é alta e deve ficar assim por algum tempo, o que também pode desestimular o consumo das famílias e dependendo da empresa, pode afetar diretamente a rentabilidade”, avalia.

Edson Domingues destaca que apesar da ampliação da vacina e da flexibilização, faltou planejamento do governo federal para a retomada da economia. “Faltou um planejamento de recuperação econômica pós-pandemia por parte do governo federal. Estamos com a máquina pública ruim, dificultando o crescimento do País e afetando, principalmente, a questão dos investimentos no cenário nacional e internacional, ou seja, o Brasil está ficando também menos atrativo para as empresas do exterior”, pontua.

Setores em crescimento

Para o economista do Ibmec Felipe Leroy, apenas o setor de tecnologia merece investimentos nesse momento. “Foi o setor que disparou na crise da Covid-19 e vai continuar com bons resultados. Quem está à frente de empresas como startups, tecnologia da informação, games, e-commerce, agora é o momento de investir em expansão e produtividade. Empresas desse setor que ainda não fizeram isso, devem ficar atentas, porque podem perder muito se ficaram adiando o inevitável”, sinaliza.

O coordenador do curso de Administração do Ibmec, Eduardo Coutinho, avalia que o empresariado tem que ter “os pés no chão”, antes de pensar em expansão. “Avaliar os riscos, os benefícios e os custos para esses investimentos é o básico, mas neste momento, o mais importante é avaliar o cenário Brasil como um todo. Questões políticas, reforma tributária, inflação, a capacidade de retorno desse investimento, a avaliação do seu negócio no mercado”, reforça.

Recursos próprios é a palavra-chave para investir neste momento. “Não pense em investir pegando empréstimo neste momento. Jamais. Isso pode comprometer todo o investimento e a expansão do negócio”, complementa.

Para o professor dos MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Roberto Kanter, setores como agronegócio e de tecnologia industrial são os ideais para investimentos. “São os que mais se destacaram durante a crise sanitária e que vão conseguir superar esse cenário de incerteza para investir neste momento”, avalia.

Roberto Kanter esclarece que antes de investir o empresário deve analisar o mercado para o seu negócio e fazer o planejamento estratégico. “Além disso, sempre pensar em tecnologia. O mundo digital foi que pontuou a crise sanitária, foi isso que fez os negócios de modo geral sobreviverem durante a Covid-19”, reforça. 

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