Se no ano passado, a indústria siderúrgica nacional recebeu com preocupação a notícia da possibilidade da volta da sobretaxa do aço brasileiro por parte do governo americano, desta vez, entidades do setor classificaram a medida como razoável.
Candidato à reeleição, o presidente dos Estados Unidos Donald Trump anunciou a redução na cota de importação do produto semiacabado após sofrer pressão das fabricantes locais para barrar as compras de outros países.
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O parque siderúrgico daquele país desacelerou diante da queda de demanda provocada pelo novo coronavírus e hoje há uma sobra de aço no mercado e existe um acordo com os Estados Unidos de cotas de exportações de aço para só taxar o excedente do volume acertado, desde 2018.
Assim, a cota isenta para a importação do produto brasileiro passou de 350 mil toneladas para 60 mil toneladas no último trimestre deste exercício. Mas, como os limites são estabelecidos por períodos trimestrais, quase 90% da exportação prevista para a siderurgia brasileira neste ano já foi garantida, conforme explicaram representantes do setor.
“Nosso acordo foi razoável frente ao que os Estados Unidos adotaram com outros países, como por exemplo, a taxação de 25% nas importações de alumínio do Canadá. Dentro do contexto geral, nós já exportamos 90% da cota e ficou uma parte que não está perdida. Vamos discutir em dezembro”, disse o presidente executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, por meio de nota.
Segundo o Instituto, as negociações tiveram início em junho passado, quando o governo americano externou ao Ministério das Relações Exteriores a preocupação com a rapidez com que as cotas trimestrais de semiacabados eram preenchidas, requerendo que o Brasil flexibilizasse o preenchimento dessas cotas neste trimestre.
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“Foi explicado ao governo americano que o preenchimento das cotas se deve à necessidade do importador americano, uma vez que é ele quem determina o ritmo da internalização dos produtos. Na sequência, eles solicitaram que não fosse exportada a cota do quarto trimestre”, explicou o Aço Brasil.
Outros destinos – Já o presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), Carlos Loureiro, ressaltou que a restrição ocorrerá no trimestre de menor volume de exportação de semiacabados brasileiros para aquele país. Por este motivo, não há grandes preocupações. Além disso, conforme o dirigente, há sinais de aumento da demanda por parte de compradores asiáticos e europeus.
De toda maneira, existe alguma preocupação ao primeiro trimestre do ano que vem, quando o País voltará ao patamar de 1,5 milhão de placas e, caso haja nova restrição, poderá haver maior impacto ao setor.
“Neste primeiro momento, as consequências serão pequenas. Sem qualquer projeção para aumento de preços, acúmulo de estoque ou impacto na produção e abafamento de altos-fornos. Pelo contrário, estamos em plena retomada. A Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais (Usiminas) acabou de religar o equipamento em Ipatinga (Vale do Aço) e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) deverá retomar em breve”, avaliou.
O analista de Investimentos da Mirae Asset Corretora, Pedro Galdi, afirmou que o impacto da sobretaxação será pequeno e por pouco tempo. Segundo ele, algo como 5% do total exportado pelo País. “Não muda nada para o setor e o mercado nem deu bola para esta notícia. Caberá às siderúrgicas se posicionarem em outros mercados”, resumiu.
Procuradas, Usiminas, CSN e Gerdau não se manifestaram sobre o assunto.