Movimento Minas 2032 alinha objetivos com Vale da Eletrônica
26 de abril de 2022

A busca por um modelo de cidade que se alinhe aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) – na prática – pode estar mais próxima que os exemplos evocados no exterior do Brasil. Em Minas Gerais, o município de Santa Rita do Sapucaí, no Sul do Estado, acolhe não somente um polo da eletrônica, da tecnologia e da inovação, mas também uma cultura que estabelece a educação e a criatividade como pilares para a construção de uma cidade feliz e com bases economicamente sólidas.
Com o objetivo de conectar ideias e compartilhar conhecimentos, o DIÁRIO DO COMÉRCIO e representantes de instituições de Montes Claros e Divinópolis se reuniram, entre 20 e 22 de abril, em uma experiência imersiva em Santa Rita do Sapucaí. Essa participação da publicação se dá em função de sua iniciativa convergente à agenda mundial no ano do seu centenário: o Movimento Minas 2032.
Em dez anos, o DC se dedica a participar ativamente, entre outros temas, da interiorização da Agenda 2030 e da absorção de modelos inovadores e prósperos que podem ser compartilhados em diferentes esferas da sociedade. Participar deste processo está intrinsecamente ligado, ainda, à vocação de contribuir com um novo modelo de economia mais justo e consciente das necessidades de olhar para o futuro com atenção para as mudanças climáticas e dignidade das pessoas.
Esse modelo sonhado não é uma utopia. Segundo Wander Wilson Chaves, atual prefeito de Santa Rita do Sapucaí (DEM), engenheiro eletricista formado pelo Instituto Nacional de Telecomunicações e especialista em planejamento educacional, a execução de um programa de desenvolvimento sustentável a nível estadual é uma agenda para ontem e que, além de necessária, é possível.
No município chefiado por Chaves, por exemplo, já existe uma Agenda 2030 sendo trabalhada no Executivo, sendo que a proposta foi construída pela sociedade civil. A solução para que os municípios consigam alcançar esses objetivos, segundo Chaves, é incentivar a colaboração entre os poderes para a construção de políticas públicas perenes – e que prevalecem independentemente das mudanças de gestão -, com escuta ativa aos cidadãos e protagonismo da educação.
“O nosso desafio é chegar nos rincões do Estado de Minas Gerais, da cidade com o menor poder econômico possível e a Capital. E eu acho que se existir espírito comunitário, se o trabalho for colaborativo e se utilizar criatividade nesse conceito de expansão de vocações e de talentos, isso é possível, sim”, afirma o prefeito.
A educação como pilar
Ainda que o prefeito reconheça que Santa Rita do Sapucaí também padeça de questões sociais comuns ao Brasil, as oportunidades e a fertilidade do município na criação de empreendimentos é notável. De acordo com dados da Prefeitura, existem no local, hoje, cerca de 170 empresas de base tecnológica, responsáveis pela criação de mais de 14 mil empregos. Anualmente, a receita estimada do município é de R$ 3 bilhões.
O sucesso, no entanto, não aconteceu da noite para o dia. Os investimentos em educação no município se iniciaram no final da década de 1950 a partir da criação da primeira escola de eletrônica de nível médio da América Latina, fruto do protagonismo de Luzia Rennó Moreira, mais conhecida como Sinhá Moreira. Esse pioneirismo em um centro de estudos que deu vida à Escola Técnica de Eletrônica (ETE FMC) teve muito de sua origem atribuída à agricultura, uma vez que os pais de Sinhá Moreira eram considerados barões do café em Minas Gerais.
Com matrimônio firmado com um diplomata e benfeitora do município onde nasceu (Santa Rita do Sapucaí), ela percebeu, de forma disruptiva, que suas viagens e aprendizados sobre eletrônica poderiam se transformar na escola, inaugurada em 1959. O município viu, a partir disso, multiplicar seu chamado para ser referência no ensino de telecomunicações, reforçado, posteriormente, com a criação do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel).
Essa herança deixada por uma mulher não é esquecida. O secretário municipal de ciência, tecnologia e desenvolvimento econômico, Públio Teles, reforça que o segredo sempre esteve e está na educação. “As riquezas minerais são finitas. Mas a educação não é finita. Ela só aumenta”, pondera ele, que lembra, ainda, que reconhecer vocações e acolher ideias inovadoras foi fundamental para que Santa Rita do Sapucaí se transformasse no Vale da Eletrônica.
Compartilhar modelos
Atualmente, com a inovação pulsando em suas veias e tecnologia de ponta e a cultura do ensino de qualidade consolidadas nas instituições de ensino superior privada, o município respira os novos ares do turismo de negócios e de experiências, esse exemplificado pelas visitas às rotas do café que se somam às riquezas que a localidade pode oferecer, conforme acrescenta Teles.
O novo e o disruptivo caminham juntos: com uma incubadora municipal de empresas e uma legislação específica para a implementação de políticas públicas de incentivo à ciência, tecnologia, inovação e empreendedorismo, o município cria novos mecanismos de sustentação de sua cultura singular e que para o engenheiro especialista em desenvolvimento regional e membro do Movimento Minas 2032, Edgardo Cáceres, é um modelo a ser seguido.
“As instituições de ensino superior podem assumir um protagonismo nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável quando são transformadoras nas regiões e áreas que atuam, como acontece em Santa Rita do Sapucaí. Desde 1950 o município pensa em programas de tecnologia para o bem comum e cria espaços de cultura e desenvolvimento a partir do conhecimento coletivo. Com esse modelo, Minas Gerais tem potencial para contribuir com toda a América Latina”, diz Cáceres.
Para o diretor-presidente da Agência de Desenvolvimento da Região Norte de Minas Gerais (Adenor) e presidente do Conselho Curador da Fundação de Desenvolvimento Científico, Tecnológico e Inovação do Norte de Minas (Fundetec), Alexandre Pires Ramos, a oportunidade de conhecer de perto as experiências do município do Sul de Minas Gerais pode ajudar na implantação de um Parque Aberto em Montes Claros.
O pleito do município era, até então, para a criação de um parque tecnológico. No entanto, após entender o modelo de gestão de Santa Rita do Sapucaí até a formalização de seu título como Parque Aberto Tecnológico, Ramos conta que essa possibilidade facilita a busca já que as indústrias têxteis, de equipamentos biomédicos e farmacêuticos, além das universidades instaladas no local, do município já estão dispostas em diferentes localidades do município da região Norte.
“Em Santa Rita nós pegamos os caminhos das pedras e eu vejo que estamos no momento adequado em meio ao processo de criação do centro de tecnologia em energia fotovoltaica. Agora, contamos com o Inatel para entendermos o cenário de Montes Claros e queremos ter parceria com o Sebrae para refletir e seguir com esse projeto de criação do parque que estava parado”,
Com esse mesmo intuito de multiplicar as vivências da missão, Jomar Gontijo, presidente do Grupo Educação, Ética e Cidadania de Divinópolis (GEEC) e representante da Agência de Desenvolvimento Sustentável do Vale do Rio Pará, conta que os debates devem seguir junto aos governos da região centro-oeste e das entidades de classe para que ideias como uma incubadora municipal e um modelo de escola bilíngue também municipal sejam pensados localmente.

O Diário do Comércio está no WhatsApp.
Clique aqui e receba os principais conteúdos!
Comentários
Conteúdo Relacionado
Vale do Jequitinhonha
05/12/23
Varejo
05/12/23
Eólicas Offshore
05/12/23
Neutralidade Climática
04/12/23