Padre Azevedo, um sábio

30 de agosto de 2018 às 0h01

Cesar Vanucci*

“Os caminhos dos inventores são geralmente inçados de incompreensões e frustrações.” (Antônio Luiz da Costa, professor)

Está aqui revelação que vai deixar muita gente surpresa. Um brasileiro, o inventor da máquina de escrever. Não se trata de revelação brotada de uma interpretação chauvinista da história, com apelação para elementos emocionais mode suprir a carência de argumentos fatuais. Nada disso. Pesquisa envolvendo mais de um especialista proclama de maneira irrespondível que a paternidade da invenção pertence a um brasileiro ilustre, cujo nome é desconhecido da grande maioria de seus patrícios, o sacerdote paraibano Francisco João de Azevedo. O historiador Miguel Milano, no livro “Heróis brasileiros”, dá notícia pormenorizada de toda a história.

A trajetória deste sábio, em quem alguns identificam um símbolo permanentemente atual do inventor brasileiro, com sua obstinação criadora e pesada carga de frustrações, vai ser aqui contada. Valha o relato como contribuição para que se faça conhecida uma rica afirmação da inteligência humana, deploravelmente encoberta nas névoas de injusto esquecimento.

De origem humilde, Francisco João de Azevedo nasceu em Paraíba, mais tarde João Pessoa, a 4 de março de 1814. O pai, um marinheiro português, faleceu à época em que o filho completava 9 anos. Francisco tirou o melhor proveito do curso primário.

Como não existisse curso secundário em sua terra natal, chegou à adolescência ocupado em trabalhos serviçais, de onde retirava recursos minguados para a subsistência. Em 1832, quando contava 17 anos, foi dos primeiros a matricular-se no primeiro curso secundário implantado na Paraíba. Numa visita pastoral do bispo da Diocese, Azevedo convenceu-o de sua inclinação religiosa, obtendo matrícula no Seminário de Olinda. Em 1838 foi ordenado, transferindo-se para Recife, onde se consagrou a intensa atividade apostólica, ao magistério e às invenções.

Em 1841, fundou a Sociedade dos Artistas Mecânicos e Liberais. A instituição seria, mais tarde, reconhecida de utilidade pública pelo Governo Imperial, atraindo ajuda oficial. O Imperador Pedro II visitou as instalações, doando à obra um conto de réis.

As atenções do sacerdote estavam voltadas, obsessivamente, à difusão de conhecimentos profissionais em todas as camadas da população, de modo a acabar com a aversão de muitos, notadamente nas classes mais abastadas, pelos trabalhos manuais. Nesse afã, o estabelecimento introduziu o ensaio das ciências aplicadas às artes, incentivando jovens que não possuíam vocação para as carreiras liberais e que para elas eram conduzidos por modismo, comodismo, vontade paterna, a que se ocupassem de adestramento profissional compatível com seus reais pendores.

Procurou também colocar sob permanente foco de interesse a importância do trabalho mecânico, como instrumento de ajuda ao homem na conquista de conforto e bem-estar.

Responsável, ele próprio, pelas cadeiras de geometria e desenho, Azevedo ministrava aulas práticas que lhe valeram, rapidamente, justo renome nos círculos estudantis, em que pese a glacial indiferença, quando não escancarada hostilidade, que a sua ação de educador provocava junto a setores ortodoxos do magistério e lideranças políticas.

A proposta de ensino que apresentava como alternativa aos moços de Pernambuco seria enriquecida, adiante, com aulas de mecânica que atraiam alunos de todas as classes. O padre foi também professor no Arsenal de Guerra de Pernambuco, no Ginásio Pernambucano e no Colégio das Artes, que funcionava anexo à Faculdade de Direito de Recife.

Ao tempo em que atuou no Arsenal de Guerra, revelou sua condição de inventor. O historiador Miguel Milano assinala que algumas das invenções foram consideradas, na época, notáveis feitos. Mas nem todos os inventos, lamentavelmente, chegaram inteiros ao conhecimento público. Existem referências vagas, com base em fragmentos de informações, a três realizações que exercitaram febrilmente a imaginação criadora do sacerdote: um veículo para o mar, “acionado pela força das ondas”. “Um veículo para a terra,” movido pelas correntes aéreas. Uma máquina para traçar elipses, que obteve medalha de prata na exposição provincial de 1876.

Na sequência, falaremos da principal invenção do Padre Azevedo, a máquina de escrever.

* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

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