Presidente que for eleito terá grande desafio, avalia Haddad

18 de março de 2022 às 0h29

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Crédito: Roque de Sá / Agência Senado

Quem assumir o cargo de presidente da República a partir do ano que vem terá não apenas o desafio de resgatar o fôlego da economia nacional, mas a missão de proporcionar um novo ciclo de expansão ao País, em vistas a um futuro promissor e um desenvolvimento duradouro e sustentável, se quiser fazer um governo diferente, por meio, principalmente, de uma visão estadista. A avaliação é do professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Ministro da Fazenda do governo Itamar Franco, o economista Paulo Roberto Haddad.

“O futuro presidente da República deverá enfrentar a boa luta para reconstruir um Brasil interrompido”, define no livro “Bom dia, presidente”, que acaba de lançar pela editora E-galáxia. A obra visa auxiliar as equipes dos candidatos que, ao longo de 2022, organizarão suas diretrizes políticas, programas e projetos que serão apresentados aos eleitores de todo o País. O e-book está disponível de forma gratuita na Amazon , em vistas de colaborar com o debate público neste ano eleitoral.

Segundo Haddad, os desafios do novo mandato presidencial exigem mais do que simples ajustes na atual política econômica, mas mudanças profundas. “Não pode ser um governo medíocre, que faz o mesmo ou até pior que seus antecessores. O novo presidente vai encontrar um campo minado de problemas em 2023: inflação descontrolada, altos índices de desemprego, miséria, fome, degradação da Amazônia e do Pantanal. Para corrigir tudo isso, o eleito terá que ter muita determinação. O (Jair) Bolsonaro recebeu o País com muitos problemas, mas vai entregar muito pior do que encontrou”, alerta.

Para o especialista, somente um novo ciclo de expansão econômica será capaz de amenizar as mazelas hoje existentes no País. Aos moldes do que ocorreu na chamada Era JK, durante a presidência de Juscelino Kubitschek (entre 1956 e 1961), e no Milagre Econômico, entre os anos de 1968 a 1973, um período robusto de crescimento resgataria o ambiente necessário para se alcançar as soluções.

“O único caminho é o Brasil desenvolver um programa para se transformar no maior produtor mundial de alimentos e, para isso, é preciso fazer o que seria o terceiro salto da agricultura nacional com aplicação de tecnologias e aumento de produtividade. Temos empreendedores de alta qualidade no segmento, conhecimento científico e tecnológico suficiente e demanda do mercado. Mas o governo também precisa ajudar. E fazer tudo ao mesmo tempo: equilibrar as contas e, com criatividade, abrir espaço para um novo ciclo de expansão”, diz.

Essas são algumas percepções e indicações explanadas por Haddad no livro “Bom dia, presidente”. Na obra, o autor propõe mudanças de rumo na política, incluindo o período entre a eleição e a posse do candidato. “Durante o processo eleitoral de 2022, deveremos ter intensos debates e controvérsias em torno dos programas de governo dos candidatos à Presidência da República. Participei desses debates nas últimas eleições, elaborando análises e propondo alternativas de soluções para os problemas socioeconômicos e socioambientais do País. Neste documento, busquei dar uma contribuição para as equipes de todos os candidatos, já que não tenho nenhuma vinculação partidária e meu intuito é colaborar com o Brasil”, explica Haddad.

“Bom dia, presidente” traz também elucidações sobre caminhos não indicados aos que se propõem assumir o mais elevado cargo político brasileiro a partir do ano que vem. Entre eles, subestimar o tempo entre a eleição e a posse para organizar e detalhar decretos e projetos, bem como estreitar o relacionamento com congressistas; e limitar pautas importantes a determinados grupos ou pessoas, como a própria política econômica.

Já nas propostas, o autor lista alguns dos grandes problemas do País, passando por questões como desemprego, miséria, degradação dos ecossistemas, desequilíbrio regional e orçamento. “O orçamento é hoje o espaço preferencial para corrupção no Brasil. É o instrumento mais importante de intervenção do governo nas diversas áreas. Os recursos precisam estar ligados às prioridades do governo e é por ele que identificamos as intenções de quem governa. Hoje nosso orçamento está cheio de emendas e o que eu sugiro é a experiência do chamado “Orçamento de base zero”, envolvendo uma reforma administrativa que defina um plano de longo prazo por meio da redefinição do orçamento”, exemplifica.

Porém, o ex-ministro admite que essa e outras propostas exigem um novo estilo de governar. Para isso, propõe também que o novo presidente tenha um comitê de avaliação constante de seus ministérios, uma comissão de auditoria para combater a corrupção administrativa e um terceiro grupo voltado para política econômica.

Conjuntura

Em relação à conjuntura econômica atual e os impactos causados pela guerra na Ucrânia, Haddad diz que estão mais relacionados a problemas de curto prazo, como alta dos preços, variação cambial e aumento dos juros e que isso, “historicamente, o Brasil sabe resolver”. Por isso, sua preocupação e seu trabalho visam à reformulação de políticas que envolvam problemas econômicos de longo prazo.

Depois da Segunda Guerra Mundial, o Brasil teve anos com bons índices de crescimento, chegando a 7,5% ao ano. Mas da década de 1980 para cá, o crescimento tem sido medíocre. E sem crescimento não há como distribuir. Precisamos de um novo ciclo de expansão, isso sim causaria uma grande transformação no País”.

Minas Gerais

Por fim, o especialista cita Minas Gerais com saudosismo e resume que o Estado tem hoje um governo sem inspiração e enfrenta uma crise sem precedentes. “Em 1968 tivemos um experiência de desenvolvimento endógeno em Minas que promoveu uma evolução sem precedentes. Um grupo de vanguarda envolvendo BDMG, Associação Comercial, professores universitários e outros agentes começou o trabalho que se espalhou por diversas áreas. Precisamos resgatar esse modelo, pois não é o Banco Mundial ou outras instituições internacionais que vão dizer o caminho para nossa recuperação, mas uma mobilização de lideranças locais em prol do coletivo”, conclui.

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