OPINIÃO COM INOVAÇÃO | O impacto da transformação digital nos negócios
29 de agosto de 2019 às 0h04
Esse é um tema que certamente você já deve ter escutado. É quase um mantra dentro das médias e grandes empresas: temos que realizar a transformação digital na nossa organização.
Acontece que esse assunto gera algumas deturpações, inclusive para altos executivos. Transformação digital virou praticamente sinônimo de tecnologia, o que é uma visão reducionista e turva para abordarmos e conduzir a pauta dentro dos negócios.
Mas antes de falarmos sobre o que seria a transformação digital, é preciso entender o que nos fez chegar até aqui. A sociedade moderna foi moldada por quatro revoluções. Explico brevemente cada uma delas.
A 1ª Revolução Industrial foi a vapor, desencadeada pela urbanização, máquinas e energia a vapor (é obvio). O avanço da industrialização proveu uma classe média de trabalhadores. Cidades e indústrias cresceram rapidamente, assim como a economia se desenvolveu.
Já a 2ª Revolução Industrial foi marcada pela eletricidade. Algumas inovações começaram a surgir, como motor a gasolina, aviões, aprimoramento de métodos científicos e produção em massa, como o emblemático Ford T, um carro com motor a gasolina construído em grandes linhas fabril, diga-se de passagem, a Ford.
A 3ª Revolução Industrial é a da computação. A internet ganha escala. O avanço da eletrônica, sistemas computadorizados e robóticos na manufatura é real.
O fenômeno da digitalização e discussões sobre a Inteligência Artificial vêm à tona. Dá-se o início a transformação digital, ainda que incipiente e focado exclusivamente na tecnologia.
Eis que surge a 4ª Revolução Industrial, também conhecida como Indústria 4.0, que chega quebrando paradigmas através da convergência entre o mundos, físico, digital e biológico.
Todos integrados em prol das novas necessidades e hábitos da sociedade.
O termo foi difundido pelo alemão Klaus Schwab, fundador e chairman do Fórum Econômico Mundial, onde lançou questionamentos e desafios acerca da atual onda de novas tecnologias.
Essas tecnologias emergentes surgiram com propostas e possibilidades disruptivas, subvertendo formas já existentes de sentir, calcular, organizar, relacionar, expressar e tomar decisões.
É ai que entra o ponto de inflexão: a 4ª Revolução Industrial não se trata apenas de tecnologia, pelo contrário. Nem mesmo se restringe a robótica e automação na indústria.
Quando falamos em inovação, a tecnologia não é protagonista, ela é a consequência. O protagonismo é centrado nas pessoas, são elas que de fato irão moldar e anabolizar o mundo dos negócios.
Atualmente, tecnologia é ubiquidade, ou seja, está em todos os lugares, no nosso dia a dia.
Todas as novas tecnologias precisam fazer sentido e diferença na vida das pessoas e nos negócios, é um princípio básico da inovação que muitos ainda não se atinaram.
Mas o que essa história de 4ª Revolução Industrial tem haver com a transformação digital? Tudo! Pois ganhou mais força e reverberou no mundo dos negócios.
Me atrevi a definir um conceito, que acredito vivamente fazer sentido:
Transformação digital não é necessariamente tecnologia. É pensamento estratégico, mudança de mindset. É repensar e redefinir as empresas, através da cultura organizacional, processos, digitalização e inovação centrada em pessoas.
O ponto focal da transformação digital está na mudança de mindset, lembre-se sempre disso! Do que adianta falarmos em agilidade, com escritórios e salas cheias de frameworks e post is pregados nas paredes, sendo que a empresa não tem comportamento, atitude ágil?
Do que adianta discutirmos Organizações Exponenciais (ExO) e Scale-ups se a mentalidade segue o modelo linear e cartesiano? De ideias e tecnologias o mundo está cheio! Precisamos de modelo de negócios inovadores para quebrar paradigmas e status quo das coisas.
Startups já nascem dentro do conceito de transformação digital, é endógeno para esse tipo de organização. Tecnologias e plataformas digitais é apenas o meio de transformar ou mesmo criar novos negócios.
As empresas tradicionais é que estão “sofrendo” durante o processo. São consideradas transatlânticos, pois têm extrema dificuldade para mudanças. São lentas, burocráticas, com excesso de controle e previsibilidade. Este tipo de empresa segue modelos militares, são as chamadas organizações monolíticas.
É impossível atingir a transformação digital quando os decisores dessas empresas buscam o futuro olhando pelo retrovisor. Não será a tecnologia que irá conduzir a organização para o novo mundo, da economia pós-digital, ou 4.0.
É preciso estar aberto ao erro, falhar rápido e barato, testar novas possibilidades. O erro (calculado) traz aprendizado, melhoria contínua e inovação além da incremental.
A expectativa de vida de uma empresa atualmente, é inferior a 15 anos. O conceito de darwinismo nunca se fez valer tanto no mundo dos negócios. É questão de seleção natural do mercado. Adapta-se ou Morra! Tenho inclusive uma palestra em que abordo este tema.
Para atingir a transformação digital precisamos permear entre o caos e a ordem. Vezes com processos e controles mais rígidos, outras com testes e aprendizados num cenário de risco.
Vale lembrar, empresas robustas precisam trabalham com o risco, que é calculável. Incerteza é quando atua-se no “escuro”, cenário exequível somente para startups.
Trago a metáfora do estado básico da matéria (gasoso, sólido e líquido). O caos seria o estado gasoso, totalmente incontrolável, até mesmo de altíssimo risco, dependendo da situação.
Já a ordem, seria o estado sólido. Extremamente previsível, com métodos e controle. Tudo é baseado em experiências anteriores.
O ideal é atuar dentro do estado líquido, com flexibilidade e evolução. Dali podem surgir várias coisas. Estruturas líquidas geralmente são mais surpreendentes.
Pode parecer estranho, mas faz total sentido!
Se você chegou até aqui, irei lhe compensar com três dicas/processos para iniciar um processo de transformação digital no seu negócio.
Comece pequeno, mas pense grande:
Aquela anedota que grandes empresas começaram numa salinha de casa ou mesmo na garagem, é pura verdade! Apple e Amazon são talvez os maiores exemplos. Tenha um sonho grande de negócios, mas humildade para saber que tudo na vida tem um começo, e, ele não é nada glamuroso.
Atue com estruturas bimodais:
Algumas questões não podem ou mesmo devem ser alteradas. Compliance, governança e leis, muitas vezes impedem novas possibilidades e testes (em um primeiro momento).
Foque em situações que há margem, possibilidades para a mudança. Trabalhe paralelamente para aos poucos contaminar outras áreas e setores da empresa. Modelo lean.
Falhe rápido e barato:
Quem não está disposto a testar e falhar, jamais atingirá a transformação digital e inovação nos negócios. O modelo CMA do Lean Startup é uma excelente opção. Construa ideias em produtos/serviços/negócios. Meça a aceitação do público. Por fim, aja.
Deu certo? Otimiza. Falhou? Pivota e leve como aprendizado.
Tenha sempre o MVP (mínimo viável do produto).
Bem, esta é a minha ótica de enxergar a transformação digital, como um dos principais processos dentro do modelo de inovação em negócios.
Espero ter clarificado um pouco sobre o impacto da transformação digital nos negócios.
Vamos juntos conduzir as organizações para a nova economia?
O futuro é agora!
Até a próxima.
Bruno de Lacerda.