A extinção da Inconfidência na faixa AM

11 de abril de 2019 às 0h01

JOSÉ ELOY DOS SANTOS CARDOSO*

Pelos jornais, recebo a informação que a Rádio Inconfidência, AM, será extinta pelo governo Zema. Já avó com 82 anos, a Inconfidência marcou época como a principal emissora de radiodifusão do Estado de Minas Gerais.

No início dos anos 70, fui superintendente Financeiro da Fundação Pandiá Calógeras que, na época, era a responsável pela instalação em Minas da TV educativa (hoje, a TV Minas) e, também, a responsável pela administração da rádio Inconfidência, denominada naqueles anos de “Gigante do Ar”.

A Fundação era presidida pelo general Antônio Carlos Mourão Raton e a rádio Inconfidência era dirigida pelo coronel Newton Dias da Mota. Logo após a revolução de 1964, os meios de comunicação eram sempre comandados por militares por motivos de segurança.

Pelas minhas lembranças, a Gigante do Ar, no início dos anos 50, não tinha ainda seu transmissor AM de 100 KW. Posteriormente, com a instalação de seu transmissor potente no bairro Gameleira ela podia ser ouvida no interior mineiro, nas capitais e, dependendo do horário favorável, até no exterior.

Pela Inconfidência passaram importantes figuras do rádio mineiro como jornalistas e artistas que tinham o orgulho de dizer que pertenciam àquela emissora. No início dos anos 70, o chefe do departamento esportivo era o jornalista Sérgio Mário Ferrara que, nas transmissões esportivas ficou conhecido como “o comentarista que você gosta de ouvir”, depois, se tornou vereador em Belo Horizonte, posteriormente, prefeito e deputado federal.

O chefe do departamento artístico era o pianista Paulo Modesto que também abrilhantava com seu conjunto musical as manhãs de domingo do Minas Tênis Clube. Os excelentes locutores eram vários: Levy Freire, Paulo Gonçalves, Ibraim Huri, Ney Nill Neves, Fernando Vanuci e outros mais. Levy Freire, além de locutor, era também o chefe do departamento de divulgação e promoção.

A grande artista da TV Itacolomi, canal 4, a mineira Lady Francisco era também excelente vendedora de propagandas que ajudaram a emissora a arrecadar mais e ela própria obter mais recursos com as comissões.

O passivo de R$800 mil hoje existentes nunca foi novidade. Lembro do caso de uma válvula grande do transmissor que deu defeito e ela teve que ser enviada ao Rio de Janeiro para que os técnicos pudessem trocá-la. Do contrário, a Inconfidência conseguia transmitir, mas, com potência muito reduzida.

Na história da Inconfidência lembro-me de um problema. O Clube Atlético Mineiro jogaria no estádio do Maracanã, Rio de Janeiro, e o gigante do ar não tinha dinheiro para que a equipe de repórteres pudesse viajar e cobrir os custos da transmissão.

O recurso foi o Levy Freire conseguir um patrocínio extra para que a transmissão do jogo pudesse ser feita. Deixar de transmitir um jogo do Clube Atlético Mineiro contra um Flamengo no Maracanã seria um crime contra os fanáticos torcedores.

Com o surgimento da frequência modulada (FM), a Inconfidência também conseguiu permissão para transmitir em FM e, com um transmissor pequeno mais eficiente, localizado na rua São Paulo passou a transmitir também nessa modalidade.

Chamada de “Brasileiríssima” por transmitir inicialmente só música brasileira, a nova FM também fez sucesso em Belo Horizonte. Os recursos arrecadados com as propagandas não eram suficientes para pagar todos os custos e o Estado tinha que complementá-los.

Eu, como superintendente financeiro assinava mensalmente junto com o presidente da fundação, General Raton, todos os cheques destinados aos pagamentos do funcionalismo da emissora. O que se arrecadava de propaganda era destinado a cobrir só algumas despesas de custeio como material de limpeza, papéis, etc.

Alguns programas transmitidos pela emissora como “A Hora do Fazendeiro” e o “Trem Caipira” também fizeram muito sucesso. O certo é que a morte da Inconfidência AM deixará muitas saudades. Uma das razões foi a mudança tecnológica nacional da rádio difusão.

O ano de 2023 foi o prazo máximo determinado pelo governo federal para o fim da TV analógica no Brasil como condição para a existência da faixa estendida de FM. Como 979 das emissoras do País já solicitaram a migração, a faixa AM entrará no ostracismo.

Os equipamentos AM estão sendo sucateados e faltam até peças de reposição no mercado. Enfim, com muitas saudades e boas lembranças do passado, ‘Inconfidência AM, aqui jazz”.

*Economista e professor

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