A Partícula de Deus (II)

17 de abril de 2021 às 0h10

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Crédito: Freepik

“A ousadia dos cientistas pode abrir clareiras de conhecimento em terreno espinhoso.” (Antônio Luiz da Costa, educador)

Recapitulemos os fatos. No começo do século, cientistas da mais elevada qualificação juntaram conhecimento, criatividade e esforços numa experiência extremamente arrojada, a mais fantástica já levada a termo na história da civilização. Conceberam e implantaram num túnel subterrâneo de 27 quilômetros, entre a França e a Suíça, um superacelerador de partículas, dotado de prodigiosa capacidade para cálculos, com o inimaginável objetivo de desvendar os enigmas do universo. “Temos uma máquina para dar respostas a tudo”, assegurou, apoderado de desnorteante euforia, com forte acento utópico, o Nobel de Física Carlos Rúbio, um dos idealizadores do projeto. A experiência ficou conhecida como a busca da “Partícula de Deus”.

Na época, este escriba alinhou, numa série de artigos, algumas considerações a respeito da audaciosa iniciativa. Vários anos transcorreram sem que alguma revelação extraordinária emergisse do experimento científico. Partindo desse ponto, sublinhando que a expectativa quanto aos resultados das ações científicas em questão persistirá até que surja alguma resposta retumbante concernente às pesquisas encetadas, iniciamos, no comentário anterior, a reprodução das considerações há bom tempo aqui estampadas, levando em conta a circunstância de que continuam oferecendo frescor de atualidade.

A narrativa foi interrompida à hora em que informamos que o empreendimento recebeu contestações em alguns círculos científicos. Os contestadores alegam que o terreno palmilhado é inteiramente desconhecido, por isso, imprevisível. A energia gerada pela ebulição do equipamento poderia produzir “miniburacos negros”, aterrorizante campo gravitacional capaz de sugar instantaneamente toda a matéria viva existente no planeta, com repercussões danosas até mesmo no sistema solar inteiro. O vaticínio catastrófico é negado veementemente pelos partidários do projeto, entre os quais o astrofísico Stephen Hawking, por muita gente considerado a maior cabeça pensante da ciência contemporânea desde Einstein, em que pesem suas notórias dificuldades para se expressar.

A colisão dos prótons, no interior da LHC, à velocidade da luz, irá desencadear tremenda onda energética, fazendo surgir partículas nunca dantes observadas e que só teriam existido, a se por fé no que garantem os cientistas, no início da formação do universo. Os 600 milhões de impactos por segundo revelariam a partícula inaugural do processo da criação, que alguns se aventuram denominar de “partícula de Deus”.

Os cientistas empenhados com fervoroso entusiasmo nessa desafiadora e complexa empreitada dizem que a tecnologia humana está sendo esticada, nesta hora, ao limite extremo. Alimentam a esperança de arrancar resposta global a questões fundamentais.

Esperar pra ver, né? A aventura humana é composta muito mais de perguntas do que de respostas. As grandes descobertas, mesmo significando triunfo sobre o que o conhecimento consolidado põe transitoriamente na conta de impossível, desencadeiam sempre novas questões, um turbilhão de interrogações, concitando os cérebros bem dotados a redobrados exercícios de curiosidade sobre o sentido das coisas. Imagino, sem entender – confesso mais uma vez – bulhufas de física, que os resultados do experimento imporão a continuidade das buscas. Atrás de respostas. De mais respostas. Sempre mais.

Cientistas famosos andam apregoando que suas avançadas pesquisas pelas enigmáticas veredas da física quântica vêm permitindo aproximação cada vez maior da chamada “partícula de Deus”. Gabam-se mesmo de já haver encontrado pistas intrigantes da localização do “bóson de Higgs”, estrutura supostamente responsável pelas interações na Natureza. No entendimento dos doutos, embora hipotético, um elemento provido de massa que teria aparecido logo após o também hipotético “Big Bang”, apontado por círculos científicos como a primeira de todas as coisas dentro da linha conceitual adotada pra explicar a Criação.

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