Cenário econômico e onda de demissões nas big techs

17 de março de 2023

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Crédito: Thomas Peter/Reuters

Dario Perez*

Desde o segundo semestre de 2022, temos visto diversas empresas de tecnologia de grande porte, brasileiras e estrangeiras, demitindo um número muito alto de colaboradores, como Meta, IBM, Netflix, Microsoft, Amazon, Google, Salesforce, Tesla, além de startups como Movile, IFood, Hotmart, Loft, Quinto Andar, Buser e Alice. Somente no acumulado do último trimestre do ano passado, já foram 63.830 empregados dispensados de suas ocupações. 

De acordo com um levantamento realizado pela Reuters e CNBC, entre outubro de 2022 e janeiro de 2023 cerca de 70 mil profissionais foram diretamente afetados pela onda de demissões em massa, causando um impacto muito grande na economia e nas taxas de desemprego do país. Mas, o que motivou as chamadas big techs a agirem dessa maneira e tomarem decisões tão drásticas? 

Isso deve-se a diversos fatores, mas um dos principais é o custo elevado causado pela manutenção da taxa Selic, em 13,75% desde agosto de 2022. Isto traz diversas consequências para a economia e o mercado como um todo. Mas, você deve se perguntar, como isso impacta a saúde financeira das corporações? 

Com a alta da inflação e a política contracionista do Banco Central, os índices de consumo estão achatados e o acesso ao dinheiro está cada vez mais difícil, fazendo com que o poder de compra da população encolha e a capacidade de investimento diminua também. Portanto, com a redução do consumo das pessoas, o caixa obviamente também é menor. Tal cenário impacta as companhias de todos os segmentos e as empresas de tecnologia não são exceção. Portanto, o mercado de maneira geral busca alternativas para equacionar o novo patamar de receitas com seus compromissos mensais e investimentos previstos.

Agora, falando especificamente da área de tecnologia, outro fator determinante para que ocorresse essas demissões foi a escassez dos aportes financeiros nas startups e big techs. Devido ao custo alto do dinheiro, os fundos frearam os investimentos e passaram a escolher outras formas de remuneração, tornando-se muito mais criteriosos na seleção dessas startups, o que dificultou ainda mais o acesso a verba financeira. Além disso, o segmento sofreu uma onda bem ruim de startups que passaram a ser elefantes brancos, o que assusta o setor como um todo, resultando nas demissões e na escassez de verba para o crescimento desse ecossistema.

Mesmo diante dessas dificuldades, é importante afirmar que o mercado de tecnologia não está acabando, muito pelo contrário, ele estará em evidência por muitas décadas, mas a partir de agora essas empresas vão precisar pensar em realmente dar lucro. Enquanto isso, quando olharmos para as companhias que têm uma margem, que conseguem realmente entregar uma proposta de valor e fazer uma virada de chave, transformando prejuízo em receita, percebemos que elas podem lidar bem situações de crise e até manter o capital externo dentro da instituição. 

Por isso, cada vez mais vamos ver startups que querem virar unicórnio a qualquer custo sofrendo com prejuízos financeiros, enquanto aquelas que estão focadas em resolver de fato uma dor vão gerar lucro e contratar novos profissionais, como é o caso das empresas SaaS (Software as a Service, onde o software é comercializado como serviço) e as micro SaaS (sistema no modelo “Software as a Service” com ultra foco em resolver uma ou duas demandas, de forma otimizada, com uma pequena e dedicada base de usuários), que para nós, é a grande aposta este ano. Então, concluo que teremos nos próximos meses um ponto de ruptura, mas o mercado vai se recuperar e continuar crescendo de forma exponencial. 

* CEO da Hyper Group

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