Em outros tempos seria arrogância intolerável, hoje soa como o resultado esperado de uma política descolada do interesse público, embora praticada por empresa majoritariamente estatal. Claro, estamos mais uma vez falando da Petrobras, a empresa que desenvolveu tecnologia de prospecção e extração de petróleo em águas profundas, alcançando reservas que hoje figuram entre as maiores conhecidas no planeta. Nada suficiente para tocar aqueles que ainda enxergam a empresa como espécie de estorvo do qual é preciso ficar livre a qualquer preço. Gente que não se lembra da crise do petróleo nos anos 70, século passado, ou não dá importância ao fato de que o petróleo continua sendo a mais cobiçada e estratégica das commodities.
Voltando ao início do parágrafo anterior, estamos falando de recentes declarações do presidente da Petrobras, que reafirmou, arrogante, que os reajustes de preços de seus produtos seguem políticas comerciais da companhia, dando a entender que não tem satisfações a dar nem mesmo ao presidente da República, que na véspera antecipara a possibilidade de alguma queda dos preços dos combustíveis. Foi o bastante para provocar alarme nas bolsas de valores e, como sempre, reações iradas do “mercado”. Ninguém se deu ao trabalho de lembrar que as cotações do petróleo tiveram baixas significativas nas últimas semanas e apontar que os preços domésticos estão atrelados a tais flutuações.
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A falta de memória impressiona mais quando parte daqueles que preferem não entender como desvios o processo de corrupção que atingiu a empresa, menos ainda lembrar que o Brasil construiu, com enorme esforço e investimentos, sua autossuficiência exatamente para escapar da dependência e dos riscos a ela associados, que ficou suficientemente clara na crise dos anos 70. Muito menos se dão conta de que a Petrobras é uma empresa que deveria ser diferente e cujos resultados não são medidos pelos gordos dividendos pagos na Bolsa de Nova York e sim pelo atendimento pleno à sua razão de ser estratégica. Algo que deveria valer para o País e sua população, tanto quanto para as empresas que dependem de combustíveis para manter suas atividades e, sobretudo, a competitividade.
Que a lenha tenha voltado a ser, para a população mais pobre, o combustível utilizado na preparação de alimentos deve ser, para esta gente, não mais que acidente de percurso, algo que absolutamente não está em discussão, ou não faz o menor sentido para aqueles que deveriam saber que a Petrobras foi pensada e construída com um objetivo maior, centrado no interesse coletivo, o que deve bastar para explicar a arrogância mencionada na abertura desse comentário.