Na semana que passou, o presidente Bolsonaro admitiu pela primeira vez rever a política de preços da Petrobras, dando fim, ainda que tardiamente, ao conceito de paridade com o mercado internacional, raiz dos problemas enfrentados presentemente.
O presidente, que dessa vez acertou no alvo, não adiantou o que pretende fazer e até ressalvou que a Petrobras é uma empresa, tem acionistas e ele próprio não tem domínio sobre suas decisões. Uma mera questão de perspectiva e que não se sustenta diante da mera constatação de que a população brasileira representa o grupo majoritário.
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Tendo finalmente apontado para a direção certa, é preciso lembrar ao presidente que o petróleo é a mais importante commodity negociada no planeta e seus preços são cartelizados, não refletindo a realidade de mercado.
A Petrobras tem que ser olhada em outra perspectiva, a do interesse público. Foi assim que a empresa nasceu, justamente para livrar o País da dependência dos cartéis internacionais e, sobretudo depois da crise dos anos 70, desenvolveu tecnologia e fez altíssimos investimentos para prospectar e extrair óleo em águas profundas.
É absolutamente sem sentido que tendo tido sucesso muito além dos mais otimistas prognósticos, chegando, em poucos anos, à autossuficiência que parecia impossível, renuncie, voluntariamente, à independência que essa condição confere antes ao Brasil e só depois à Petrobras. E tudo isso para servir, despudoradamente, a interesses que não são os nossos, caso também do virtual abandono dos investimentos em refino, gerando por este lado uma dependência sem sentido. Exportamos óleo cru e importamos refinados. São erros em cima de erros que ajudam explicar por que o litro de gasolina chega ao consumidor final por mais de R$ 7,00.
Mudar significa simplesmente recolocar a Petrobras no seu lugar, reconhecendo sua condição estratégica para o País. Significa também adotar uma política de preços que considere todos os custos de produção da empresa, bem como suas margens operacionais e reservas para investimentos. Feitas as contas na ponta do lápis, a constatação de que cada barril de petróleo nos custa cerca de US$ 15, enquanto as cotações internacionais, base para a desastrada e criminosa política de preços internos, andam flutuando em torno dos US$ 80 ou até mais.
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Temos batido nessa tecla e continuaremos batendo enquanto for necessário, na certeza de que está sendo imposto ao País um sacrifício sem sentido. Afinal o reconhecimento do presidente da República de que algo está muito errado reforça as esperanças de que possamos tomar um rumo mais sensato.