As intensas chuvas desse início de ano, embora ainda insuficiente para recompor os reservatórios das grandes hidrelétricas, causaram estragos talvez desproporcionais ou, pelo menos, inéditos. Foram inúmeras as cidades que, primeiro na Bahia, depois em Minas, Espírito Santo e Rio de Janeiro, que entraram em situação de calamidade pública, como sempre com maiores perdas justamente para as áreas mais pobres, onde é maior a improvisação ou, pura e simplesmente, completa falta de serviços essenciais e prevenção.
Sofreu também o sistema de transportes, com inúmeras interdições de rodovias importantes, como a BR-040, em Nova Lima, totalmente bloqueada pelo transbordamento da barragem de uma mineração que, como outras, opera imprudentemente às margens da rodovia.
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Nessas observações mais gerais também chamou atenção a qualidade dos serviços da Defesa Civil, em que puderam ser notadas diferenças muito positivas. Caso do deslizamento na área urbana de Ouro Preto, que destruiu prédios históricos mas não fez uma única vítima, exatamente porque ações preventivas funcionaram, neste aspecto, a contento. O mesmo pode ser percebido em outros pontos do País, ajudando a explicar porque a letalidade dos temporais foi menor, tudo indica.
Mas não estamos, nem de longe, enxergando o melhor dos mundos, pelo contrário. No geral, as obras de contenção e escoamento das águas pluviais, em pontos críticos e bem conhecidos nas três maiores cidades brasileiras, continuam mostrando-se inadequadas, pouca coisa mudando de ano para ano apesar dos investimentos realizados. Evidentemente que o problema é mais amplo, dizendo respeito às gritantes falhas no processo de urbanização ou à teimosa mas inescapável ocupação, pelos deserdados, justamente das áreas onde são maiores os riscos.
Estamos, afinal, lidando com um país relaxado, que parece acostumado a este tipo de eventos, neles enxergando fatalidade quando seria preciso perceber os descuidos, históricos, tanto da administração pública como da sociedade em geral. Nesse rol podem e devem ser incluídas também as rodovias, que por falta de manutenção, cuidados mínimos até, tem a pavimentação precarizada, além de sujeitas a alagamentos que repetem o que ocorre nas áreas urbanas.
Em resumo, não basta lamentar, contabilizar perdas ou prometer verbas e socorros emergenciais, quase sempre prometidos durante visitas de autoridades aos pontos críticos, procedimento incorporado à rotina, mas óbvio constatar, incapazes de mudar a realidade. Eis a lição que fica e sobre a qual é preciso refletir.