EDITORIAL | No rumo do abismo

30 de outubro de 2020 às 0h15

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Crédito: Pixabay

O tempo passa depressa e a memória parece ser volátil. São conclusões inescapáveis para quem tiver em conta que faz apenas cinco anos que, no Brasil, as preocupações estavam centradas no extermínio da corrupção e na racionalização dos gastos públicos.

O reequilíbrio fiscal, consequência, dizia-se então, de erros e outros pecados acumulados ao longo das gestões petistas, era dado e proclamado como imperativo e objetivo a ser alcançado com a remoção dos culpados. Nesse contexto, afastada a presidente Dilma Rousseff, assumiu o vice Michel Temer, reiterando que colocar as contas em ordem era objetivo a ser cumprido nos dois anos de seu mandato.

Não foi o que aconteceu naquele período, em que também a prometida recuperação da economia, alimentada por investimentos atraídos pelo que diziam ser a retomada da confiança no País, não foi além do rol das promessas, algumas delas herdadas e repetidas pelo governo que, eleito, hoje ocupa o Palácio do Planalto em Brasília. Faltou articulação política funcional, faltou a construção de um projeto para o País, faltou gestão. Para completar veio a pandemia, paralisando a economia e fazendo o déficit fiscal, estimado em cerca de R$ 100 bilhões para o ano, aumentar pelo menos cinco vezes. Tudo isso e mais o constrangimento de assistirmos a dívida pública chegar ao equivalente a 100% do Produto Interno Bruto. Um triste recorde.

Nesse contexto chama atenção estudos divulgados esta semana pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) relativo ao custo da máquina pública no País, aferido através do pagamento de salários, vantagens e aposentadorias.

Em 2018 estes gastos representaram 13,6% do PIB, o que confere ao País a sexta posição no grupo de 10 países que mais gastam com funcionalismo e onde a primeira posição corresponde à Arábia Saudita, que consome 16,45% da renda nacional com o pagamento a servidores públicos. Absurdo ainda maior: na média, a remuneração dos servidores públicos federais no Brasil é 67% maior que seus equivalentes na iniciativa privada.

A conta resultante é a segunda maior para a União e só perde para juros e serviço de dívida pública. Mesmo assim a reforma administrativa vai sendo empurrada com a barriga, adiada como se fosse assunto de menor importância. Emperrada mesmo com a promessa de que aqueles que já ocupam cargos públicos nada sofrerão, ficando as possíveis restrições reservadas exclusivamente aos novos funcionários.

Concluindo e sem que seja preciso conferir todos os ingredientes desse caldeirão de absurdos, resta dizer que sem coragem para enfrentar seus verdadeiros e maiores problemas o Brasil estará a cada dia mais próximo do abismo.

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