EDITORIAL | O freio de arrumação

11 de novembro de 2021 às 0h30

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Crédito: Marcelo Casal Jr/ABr

A semana começou com mais uma revisão das expectativas para a inflação no ano e seu crescimento em 2022, ao mesmo tempo que são revistas, para baixo, as previsões de crescimento. Hoje, para a maioria dos analistas, a expansão do Produto Interno Bruto (PIB), que este ano deve crescer em torno dos 5%, compensando parcialmente perdas passadas, não deverá ir além de 1% no ano que vem. São tendências que podem piorar, considerando que estaremos em um ano eleitoral, com a gestão pública congelada e os gastos sumindo muito além de um tento que a rigor nunca existiu.

Nesse contexto, e mais uma vez, veio do Supremo Tribunal Federal (STF), o que bem poderia ser chamado de algo comparável a um freio da arrumação.

No sentido prático, imediato, e no sentido pedagógico. Estamos falando da decisão da ministra Rosa Weber que mandou suspender “integral e imediatamente” as ditas “emendas do relator” no orçamento corrente, o que significa apagar o tal  “orçamento paralelo” do qual muito se fala e pouco se sabe. Se vingar, algo equivalente a um tiro de canhão que tem como alvo principal a bancada governista e os aliados de última hora, acabando por acertar em cheio as pretensões eleitorais do presidente da República.

A Câmara dos Deputados evidentemente já se movimenta e, a falta de algo mais sólido para dizer, mais uma vez cobra a separação entre os poderes, reclamando de uma interferência impertinente. Não será coincidência, por certo, que o reduto eleitoral do presidente da Câmara, Arthur Lira, em Alagoas, receberá, se a manobra prosperar, a maior fatia do indigesto, para os brasileiros, bolo. E para que se tenha melhor ideia de seu tamanho, as tais emendas custariam, este ano, R$ 16,8 bilhões, dos quais R$ 3,8 bilhões já foram pagos.

Tudo isto num País que, segundo o próprio presidente da República, “está quebrado”, o corte de verbas em áreas tão sensíveis quanto educação, ciência e saúde. Nada parece importar, e de fato não importa, quando no mundo real o que conta são os votos, a perspectiva de reeleição e, resumindo, a manutenção dos privilégios que não têm limites, sem ideologia ou coloração partidária. Na questão comentada, votos do PSDB podem ter feito a diferença, enquanto o PT só abandonou o barco na última hora, diante de pressões que não puderam ser contornadas.

De qualquer forma, cabe não subestimar a força e o poder dos interesses em jogo, lembrando que a decisão da ministra Rosa Weber também exige transparência, equidade de ampla divulgação, com acesso público garantido a todas as decisões nesta esfera. Nada de novo, nada que não devesse ser feito desde sempre.

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