EDITORIAL | O maior gargalo

21 de setembro de 2019 às 0h02

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Corrupção na esfera pública tem sido, nos últimos cinco anos, assunto dominante no País, ocupando as manchetes e maiores espaços na imprensa. Como decorrência, e na mesma escala, o combate a estes desvios, a restauração da moralidade e da ética, igualmente ganhou ênfase, inclusive ajudando a explicar o resultado da eleição presidencial no ano passado. No que pesem as dúvidas se a verdadeira natureza do processo, se alimentado por virtudes ou ambições, é fora de questão que alguns avanços foram produzidos, pelo menos no sentido de que nunca nesse País cadeias hospedaram personagens tão graúdas.

São fatos objetivos, independentemente de circunstâncias que permanecem ainda obscuras, talvez sugerindo que mudanças tenham acontecido, a partir do impeachment da então presidente da República, exatamente para deixar tudo como está, guardando os interesses dos donos do poder e fazendo lembrar quantas vezes foi dito que mudanças no País só poderiam acontecer a partir de uma profunda reforma política. São observações que nos ocorrem a propósito de acontecimentos em Brasília na semana que passou, em que o Senado barrou tentativas de afrouxar as regras eleitorais, o que na prática poderia significar um retrocesso de alto risco, devolvendo aos financiamentos de campanha seus velhos métodos. E barrou, em circunstâncias escandalosas, a tentativa de elevar o valor do fundo eleitoral, bancado com o dinheiro do contribuinte. Nada disso significa exatamente que a moralidade tenha sido restaurada. Como houve mudanças no texto original, o assunto volta à deliberação dos deputados, conforme o regimento.

O recuo havido é um ponto a destacar e a enaltecer, assim como se espera que a pressão havida continue a surtir os efeitos desejados, inclusive fazendo lembrar que a reforma política, que deveria ter sido a primeira e maior consequência da redemocratização, precisa estar no centro das atenções, reconhecida como o verdadeiro ponto de partida para as grandes mudanças, para a nova política, que só aparecem como propostas nas campanhas e são esquecidas depois que os votos são contados e os vencedores passam a se ocupar da construção de alianças que lhes garanta sustentação.

Estamos lembrando do pluripartidarismo de conveniência e disfuncional, que se nada for feito poderá dobrar de tamanho em poucos anos, com o olhar gordo dos interessados no financiamento público e nas possibilidades, que permanecem, de negociar apoio e votos.

Além de corrupção, fala-se muito no Brasil também de “gargalos” que obstruem o crescimento. Falta reconhecer que o maior deles está justamente na disfunção política.

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