Já nas manifestações de rua em 2013, possivelmente dentre as maiores acontecidas no País, surgiram, pelo menos nas aparências, sinais de que esgotara a paciência de boa parte da população com relação à corrupção no País. Com o distanciamento que só o tempo propicia, as conclusões podem ser bem diversas e, considerada a sequência dos acontecimentos, é de se indagar onde andariam as legiões de devotos do juiz Sergio Moro, apresentado como uma espécie de salvador da pátria, os mesmos que iam às ruas, fantasiados de verde-amarelo, exigindo o fim da corrupção e dos corruptos, que na cadeia pagariam seus pecados.
Foi neste clima, em que se anunciava a chegada de um novo tempo, que o atual presidente da República encontrou mote e espaço para sua campanha, dizendo e repetindo que, se eleito, a nova política voltaria a ser sinônimo de bons princípios e melhores propósitos. Não é dele, que acaba de repetir na ONU que no seu governo não existe corrupção, que queremos falar. O processo na realidade é bem maior e mais complexo, permeia todo o setor público, variando talvez apenas na escala. Presentemente, a pandemia e seus desdobramentos no campo médico-farmacêutico, é o melhor exemplo do que estamos tentando demonstrar.
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Igualmente grave é que os manifestantes, aqueles indignados com a corrupção e que tentavam replicar a ideia de que um único partido político era o culpado de todos os males, desapareceram quando deveriam se fazer ouvir, ainda com mais força, para denunciar o desmonte que está sendo promovido no sentido de dar fim a tudo que foi feito, ou tentado, para conter a corrupção e acabar com a impunidade.
Não falamos da Operação Lava Jato, enterrada uma vez cumprido seu objetivo mais verdadeiro, e sim procurando chamar atenção para decisões que vêm sendo tomadas no âmbito do Legislativo, que em última análise significam abrir de todo as porteiras para a corrupção e ao mesmo tempo jogar fora as chaves das cadeias.
Tudo tratado discretamente como convém e inclusive sem espaço para manchetes que denunciem a volta do passado, como o indisfarçável apetite de políticos que legislam em causa própria, de maneira a fazer com que seja praticamente impossível provar, por exemplo, desvios de dinheiro público ou a origem e destino de valores que correm paralelo às campanhas políticas, dos quais não se espera recibo assinado e com firma reconhecida.
O que parece cada dia mais fácil de constatar é que também nesse campo o Brasil andou em círculos, repetindo um roteiro já bem conhecido para, tristemente, não sair do lugar.