EDITORIAL | Sem pudor, sem limites

17 de dezembro de 2021 às 0h30

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Crédito: Ricardo Moraes/Reuters

A cada novo dia fica mais claro que, no campo político, da vida pública, todos os limites, até de pudor, foram rompidos. É o que nos mostra o presente, onde exemplos que sustentam a afirmação não faltam, sendo os mais recentes os movimentos em torno da distribuição de verbas a parlamentares no Congresso Nacional, em que foi tentada a supressão de valores e destinatários. E criada, à luz do dia, sem nenhum pudor, as tais emendas secretas, que não prosperaram por inteiro, mas deixaram brechas para a farra de 2022, ano eleitoral. Tudo isso numa terra onde o presidente da República e seu ministro da Economia já disseram, e mais de uma vez, que o País está quebrado.

E foi nesse contexto que, esta semana, as discussões em torno da liberação de verbas ganharam cores mais fortes, com parlamentares exigindo a mais ágil liberação de verbas e, revelando seu modus operandi, ameaçaram retaliar obstruindo a criação do tal Vale Gás, medida reconhecidamente do mais elevado interesse público, embora carregada também das cores do indisfarçado interesse eleitoral. Para resumir, uma vergonha explícita que em latitudes mais civilizadas certamente teria consequências, enquanto aqui o escândalo parece natural, apenas mais um.

E não foi tudo. No mesmo dia a ministra da Secretaria de Governo, Flavia Arruda, teve um entrevero telefônico com o senador Eduardo Braga, líder do MDB. Conforme noticiado, o senador cobrava emendas prometidas e não liberadas, reforçando seus argumentos com palavrões, que aliás nos dias atuais tornaram-se corriqueiros em Brasília. Tanta veemência e tantos gritos teriam levado a ministra ao choro, mas não a impediram de assegurar  que não se intimidaria e continuaria trabalhando com “diálogo, serenidade e transparência”.

Foi nesse ambiente, e fechando o círculo de horrores, que deputados do Centrão não deram quórum à sessão de segunda-feira, impedindo assim a votação do Vale Gás, que representaria alívio para pelo menos 5,5 milhões de família, num país que continua sonhando com o Primeiro Mundo mas ao mesmo tempo volta a cozinhar com lenha. Uma reação altamente reveladora não só de insensibilidade, mas igualmente das verdadeiras motivações do grupo, para não usar designação possivelmente mais adequada, que faz tempo, entra governo sai governo, representa o poder real neste Brasil que se aproxima do Natal, sem que a maioria dos brasileiros tenha como ou o que comemorar.

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