Meu pai

15 de janeiro de 2021 às 0h15

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Crédito: Guto Cortes

Há exatos quinze anos, em 15 de janeiro de 2006, falecia meu pai, Expedito de Faria Tavares, por complicações decorrentes de uma cirurgia cardíaca. Como sabe todo mundo que já passou por essa experiência, os primeiros tempos depois de uma perda desse tamanho não são fáceis. O luto dói. E o seu ciclo não se completa rapidamente. Se, mais cedo ou mais tarde, nos acostumamos com a falta que um ente querido faz, a saudade dele, entretanto, não passa nunca, mesmo depois de uma década e meia. Lembro-me de meu pai até hoje, nas horas alegres e nos momentos desafiadores. É presença forte, que emociona, inspira e motiva. Exemplo de tenacidade e trabalho, foi homem que nunca desviou seu olhar da linha do horizonte, mantendo-se altivo e determinado a enfrentar os combates da vida. Não me recordo de vê-lo curvar-se a ninguém. Até o fim, manteve a espinha aprumada e a auto estima preservada. Que legado mais valioso um filho pode querer?

 Nascido em Córrego D’Anta em 1916, foi o quarto de uma prole de onze irmãos. A mudança para Patrocínio, no Alto Paranaíba, deu-se quando meu avô Secundino resolveu instalar-se com a família em um município que contasse com boas escolas. E lá havia o Colégio Dom Lustosa, dos padres holandeses, famoso pela qualidade de seu ensino, e, sobretudo, pelo arrojo da visão de mundo que apresentava aos alunos, bastante avançada para a época. Imune ao provincianismo, a tradições anacrônicas e aos preconceitos, era ambiente em que se cultivava a plena liberdade de pensamento e o debate franco e aberto, nada dogmático, elemento fundamental para o desenvolvimento da inteligência, em consonância com os centros educacionais mais cosmopolitas. Não tenho dúvida de que a temporada nessa instituição foi decisiva para que os filhos de Dona Mariana se qualificassem intelectualmente, habilitando-se a alcançar seus objetivos. Meu pai optou pelo curso de direito, graduando-se em 1939, na Universidade Federal de Minas Gerais, na mesma turma de João Etienne Arreguy Filho e Edgar de Godói Mata Machado, futuros membros da Academia Mineira de Letras, e também de um de seus amigos mais próximos, o saudoso Astolfo Gazzola, pai da excelente Reitora Ana Lúcia Gazzola. Advogado, papai exerceu com entusiasmo a profissão escolhida, envolvendo-se, inevitavelmente, com as causas sociais e políticas que mobilizavam a comunidade a que pertencia, comportamento adotado igualmente por vários de meus tios, como Carlos, José, Arnaldo e Dario.

 Falo constantemente de meu pai para Carlos e Gabriela, que não chegaram a conhecê-lo. O vovô Expedito aparece em várias das histórias que conto para os pequenos. Menciono seus gostos, suas preferências, seus hábitos, seu modo de ser… A evocação de sua memória faz com que ele esteja entre nós, nos instantes mais inesperados, como quando me sirvo de um saboroso prato da melhor comida mineira (tutu de feijão, costelinha de porco, frango com quiabo…) ou quando reproduzo algumas de suas expressões favoritas, reavivando o seu jeito de falar. Ou, ainda, quando me refiro à sua bravura (e à sua braveza…) E assim vou seguindo a vida, animado e confiante, alimentado, na alma, pela potente herança que ele me deixou.

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