Nobel para o jornalismo

14 de outubro de 2021 às 0h15

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Crédito: Paul Papadimitriou

“Jornalistas têm de iluminar a escuridão”. (Maria Ressa, ganhadora do Nobel)

A sacralidade da livre expressão das ideias e a altivez e desassombro no exercício do jornalismo foram galardoados com o mais importante troféu instituído para celebração dos feitos humanos. Uma jornalista das Filipinas e um jornalista da Rússia receberão o “Prêmio Nobel da Paz”.

Maria Ressa e Dmitry Muratov são apontados como exemplos dignificantes dos profissionais da comunicação engajados, mundo afora, na defesa intransigente dos direitos que conferem dignidade ao jogo da vida.

A comissão que define os ganhadores do Nobel avaliou o trabalho jornalístico executado por 329 cidadãos. Ressa é dirigente de um site de notícias denominado “Rappler”. Foi enaltecida por fazer de seu instrumento de ação laboral uma tribuna corajosa que expõe os abusos do poder, o emprego da violência oficial e o crescente autoritarismo dominante em seu país, governado com pulso de ferro pelo presidente Rodrigo Duterte.

Na justificativa da concessão do Nobel a Dmitry Muratov é explicado que o russo é editor-chefe do jornal “Novaja”, sustentando, há décadas, uma batalha perigosa contra afrontas governamentais às liberdades.

Na Rússia do “tzar” Vladimir Putin, como sabido, os críticos do governo enfrentam constantes ameaças, sendo numerosos os casos denunciados de detenções arbitrárias e até de execuções. Com frequência, adversários do poder no Kremlin relatam situações chocantes em que desafetos de Putin aparecem mortos pela ingestão de chá envenenado. Nove companheiros de redação do Nobel russo foram vítimas de atentados mortais nos últimos anos. “Apesar de correr riscos, Muratov se recusou a abandonar a política independente trilhada pelo jornal que dirige”, conforme explica Berit Reiss-Anderson, presidente do conselho do Nobel. Acrescenta: “Seu jornal é o mais independente da Rússia, hoje, conservando atitude crítica em relação ao poder”.

Chamou a atenção da opinião pública o registro – recebido naturalmente como insincero, por óbvios motivos – que o governo russo fez após a notícia da premiação. O comunicado emitido foi este: “Muratov trabalha consistentemente, de acordo com seus próprios ideais. o jornalista é corajoso e talentoso”…

Ouvida a respeito da condecoração, a filipina Ressa disse acreditar que o prêmio pode ajudar nos processos movidos pelo governo. Um repórter indagou-lhe se tinha receios de ser detida. Ela respondeu: “Sim, posso ser presa. Não tenho sido autorizada a viajar para o exterior. Ser uma jornalista por tanto tempo e, em menos de dois anos, ser golpeada com dez ordens de prisão, é ridículo. Então parece que o governo quer me usar como exemplo. E acho que não tem jeito. Jornalistas têm de apontar a luz, iluminar a escuridão, e foi isso que o comitê do prêmio Nobel fez.

Enfatizando que o presidente Rodrigo Duterte, das Filipinas, utiliza o poder do Estado para sufocar os meios de comunicação, a imprensa internacional recordou declaração do mesmo numa resposta, “sem meias palavras”, em tom intimidatório, às manifestações da jornalista: “A sua premissa é que por ser jornalista está livre de ser assassinada. Está muito enganada”.

Vejam só a que ponto chega a truculência do dirigente filipino! Seu nome figura com destaque na relação, elaborada por organizações do jornalismo investigativo, como inimigo declarado dos direitos fundamentais.

O anuncio feito pela comissão do Prêmio Nobel constitui uma proclamação de crença arraigada nos postulados humanísticos, democráticos, éticos que devem reger a conduta humana na busca da convivência fraternal e do bem-estar social.

Estes os dizeres formulados. “Sem liberdade de expressão e de imprensa, será difícil promover com sucesso a fraternidade entre as nações, o desarmamento e uma ordem mundial melhor para ter sucesso em nosso tempo”.

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