Voltando à poesia aldravianista

14 de fevereiro de 2019 às 0h01

Cesar Vanucci*

“A criatividade é a faculdade de produzir e compreender frases novas infinitamente.” (Noam Chomsky, filósofo)

Integrantes do culto grupo de amigos e conhecidos que, dia sim, dia não, honram este desajeitado escriba com a leitura de suas maltraçadas linhas acerca da aventura do cotidiano manifestaram interesse em conhecer alguma coisa mais a respeito das Aldravias. Em crônicas anteriores, reproduzi textos poéticos, referentes à apavorante tragédia de Mariana, de numerosos autores pertencentes ao movimento literário aldravianista. Expliquei, ao ensejo, que em Mariana, como fruto generoso do talento e criatividade de um time de intelectuais de primeira linha, surgiu a instigante ideia de traduzir em seis palavras apenas uma atitude poética.

Andreia Donadon Leal, Gabriel Bicalho, J.B.Donadon-Leal e J.S.Ferreira tomaram a si o encargo de formatar, no começo do século, projeto de estruturação, com base em poemas sintéticos, denominados Aldravias, de um esquema semântico, impregnado de lírica contemplação das coisas da vida, com múltiplos significados. Inspiraram-se em conceito defendido pelo pensador estadunidense Ezra Pound, segundo o qual para encontrar a verdadeira poesia o poeta precisa aprender a extrair o máximo de poesia do mínimo de palavras.

A Sociedade Brasileira dos Poetas Aldravianistas brotou dessa postura intelectual do valoroso quarteto marianense. Atraiu, de pronto, receptividade calorosa em redutos culturais influentes. Conta na atualidade com apreciável contingente de fervorosos associados, espalhados por todos os Estados brasileiros e por vários países que falam o nosso idioma. Os poetas aldravianistas sustentam que a essência da poesia reside, também, na arte de conceber imagens com jogos sintáticos.

Esta minha disposição de explicar, com toda simpatia que o aldravianismo desperta em meu espírito, o que vem a ser as aldravias fica melhormente alicerçada num registro dos próprios idealizadores e pioneiros da festejada corrente literária, intitulado “ABC das Aldravias”, que tenho a satisfação de reproduzir na sequência.

“ABC das Aldravias. Aldravia é um poema composto de até seis versos univocabulares, com sintaxe paratática (por coordenação), livre de amarras que venham a implicar na limitação de interpretações. Na Aldravia, a palavra é o elemento essencial formador da poesia; por isso, a Aldravia prescinde da utilização de recursos visuais adicionais, nada obstante aceitar-se experimentação que não torne complicada a leitura do poema. A partir do conceito “poundiano” de o máximo de poesia num mínimo de palavras, o poeta Aldravianista deve observar os seguintes critérios para a elaboração de Aldravias: – iniciar os versos com letras minúsculas. Em caso de nomes próprios, vale a opção do autor; – a divisão em palavras-versos já implica pausa; por isso, não é recomendada a utilização de pontuação. Além disso, a pontuação limita possíveis interpretações relativas a livres escolhas do leitor em deslizar pausas para criar novos sentidos; – as pontuações de interrogação ou de exclamação podem ser utilizadas, se a sintaxe da Aldravia, por si só, não denunciar a sua proposição; – nomes próprios duplos (com ou sem ligação por hífen), cuja divisão resulta em outro nome (Di Cavalcanti, Van Gogh), podem ser considerados um único vocábulo; – nomes e formas pronominais ligadas por hífen podem ser considerados vocábulos únicos; – sugerir mais do que tentar escrever todo o conteúdo. Incompletude é provocação aldrávica; – privilegiar a metonímia, evitando-se a metáfora.”
Isso aí!

  • Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

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