Meio ambiente: governo deve exonerar o presidente do Inpe

Brasília – O presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão, será exonerado do cargo após a polêmica em torno de dados de desmatamento da Amazônia, informou o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.
O próprio Galvão comentou a decisão a jornalistas, afirmando que a situação ficou insustentável por conta de sua declarações quando o presidente Jair Bolsonaro disse que os dados do Inpe sobre desmatamento da Amazônia eram mentirosos.
“Eu tinha uma preocupação muito grande que isso ia respingar no Inpe. Isso não vai acontecer. O ministro (Marcos Pontes), inclusive, nós discutimos em detalhe como vai ser a continuação da administração do Inpe, agora é claro, diante do fato, a maneira como eu me manifestei com relação ao presidente, criou-se um constrangimento que é insustentável. Então eu serei exonerado”, disse Galvão na sexta-feira (2).
“Ele (Pontes) concorda inteiramente com os dados do Inpe, ele sabe como são os dados do Inpe. Foi só uma questão simples de comunicação que houve e que nós esperamos corrigir. Nós temos que aprender com os erros e temos que corrigir no futuro”, acrescentou Galvão.
A exoneração de Galvão foi criticada por parlamentares contrários ao governo Bolsonaro e o líder da oposição na Câmara dos Deputados, Alessandro Molon (PSB-RJ), disse que a medida faz parte de uma “escalada autoritária” do presidente, que nas últimas semanas tem feito uma série de declarações controversas.
“Estamos acompanhando uma escalada autoritária de Jair Bolsonaro. Ele não aceita ser contrariado, mesmo quando há fatos científicos comprovando que ele está errado. Este foi o caso do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais sobre o desmatamento da Amazônia”, disse Molon, segundo nota divulgada por sua assessoria.
“A forma como tem conduzido a sua política ambiental tem consequências graves, que não afetam apenas o meio ambiente, mas também a economia e a qualidade de vida das pessoas – no Brasil e no mundo também.”
A informação de que o desmatamento da Amazônia havia saltado 88% em junho deste ano na comparação com igual período de 2018, baseada em dados do sistema de monitoramento Deter, do Inpe, irritou Bolsonaro que, em entrevista a correspondentes estrangeiros no mês passado, disse que os dados eram mentirosos e que o presidente do Inpe poderia estar a serviço de organizações não governamentais.
Galvão rebateu o presidente também de forma dura, classificando a atitude de Bolsonaro de “pusilânime e covarde”. Ele disse, ainda, à ocasião, que a intenção do presidente era de que ele pedisse demissão do posto, mas que ele não faria isso e desafiou Bolsonaro a repetir as declarações pessoalmente.
Na quinta-feira (1), Bolsonaro deu uma entrevista coletiva ao lado do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em que reconheceu que o desmatamento da Amazônia está em alta, mas não nos patamares indicados pelo Inpe. (Reuters)
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