Finanças

“Clima doméstico está mais benigno”

Diretor de Política Monetária comentou cenário internacional compensado por cenário no País
“Clima doméstico está mais benigno”
Foto: Lula Marques/ Agência Brasil

O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse ontem que um cenário internacional “desafiador” neste segundo semestre, agravado no fim de semana com o conflito entre Israel e o grupo palestino Hamas, está sendo compensado por um clima doméstico “mais benigno”, com sinais de desinflação em direção à meta de inflação da autarquia.

Falando por chamada de vídeo à reunião do Conselho Empresarial de Economia da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Galípolo disse que, além de a inflação brasileira estar apresentando comportamento benigno, o crescimento econômico veio em patamar maior do que se esperava no primeiro semestre.

“A gente tem agora um cenário mais desafiador do ponto de vista internacional nesse segundo semestre, com desafios novos que vão surgindo, inclusive como conflitos que surgiram ao longo deste final de semana com uma série de impactos na questão de preços internacionais”, disse ele, referindo-se ao ataque realizado pelo grupo militante palestino Hamas a Israel, no último sábado (7), e à resposta israelense com ações militares na Faixa de Gaza, em um conflito que deixou até agora mais de 1.200 pessoas mortas dos dois lados (números divulgados até o fechamento da edição).

“Mas o cenário internacional é compensado – se a gente quiser olhar o lado mais positivo aqui – por um cenário mais benigno do ponto de vista doméstico”, acrescentou.

Respondendo a uma pergunta da plateia, Galípolo destacou particularmente o efeito do conflito sobre os preços do petróleo. Mesmo ressaltando que a participação do petróleo na pauta de exportações do País cresceu nos últimos anos, o diretor disse que o aumento da cotação “chama atenção da gente para questões dos impactos nos preços domésticos, dado o impacto que o petróleo tem para uma série de insumos e bens que a gente consome aqui”.

Em sua fala, Galípolo também voltou a sinalizar a manutenção do ritmo de corte de 0,5 ponto percentual na taxa Selic nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), do BC, repetindo que esse patamar permite à autoridade monetária ajustar a política monetária, assim como acompanhar os desdobramentos domésticos e externos.

“O Brasil conseguiu e consegue seguir em um corte de juros no pace que foi anunciado pelo Banco Central desde agosto, primeiro porque a inflação vem apresentando um comportamento benigno”, avaliou, destacando “surpresas positivas tanto no crescimento econômico quanto na inflação”.
E o diretor do Banco Central continuou: “Há um processo de desinflação em curso, lento, mas há um processo de desinflação em curso em direção àquilo que é a meta do Banco Central”.

Selic

A taxa Selic está atualmente em 12,75%, após dois cortes consecutivos de 0,5 ponto percentual. O BC voltará a deliberar sobre os juros no fim deste mês.

Galípolo destacou ainda que a inflação do setor de serviços segue resiliente, destacando que ela é tradicionalmente “mais resiliente”. Ele também avaliou que o mercado de trabalho aquecido não tem gerado pressões inflacionárias.

“O objetivo de todos é a gente conseguir superar esses desafios domésticos e internacionais para que a gente possa ter juros e câmbio, de uma maneira estável e duradoura, em patamares que possibilitem o desenvolvimento econômico do país e a sociedade que a gente deseja construir”, finalizou.

Haddad: avanço da agenda econômica é proteção

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também disse ontem que reconhece a existência de um cenário externo “desafiador”, que inclui a recente escalada do conflito israelita-palestino no fim de semana, mas destacou que o avanço da agenda econômica interna deve proteger a economia brasileira de possíveis desdobramentos.

Durante entrevista coletiva, em São Paulo, Haddad afirmou que fatores externos podem ajudar a acelerar a aprovação de matérias importantes para o governo no Congresso e enfatizou que o planejamento da equipe econômica possibilita que não haja preocupações com a economia do país. “Com o cenário externo se complicando como está, o nosso desafio aqui é fazer a nossa agenda interna evoluir o mais rápido possível para proteger a economia brasileira”, disse Haddad.

E acrescentou: “Quanto mais desafiador o cenário externo, maior pressa de nós endereçarmos os assuntos internos”.

Petróleo

Ontem, os preços do petróleo, commodity fundamental para a economia de muitos países daquela região, saltavam perto de 4%, revertendo as quedas vistas na semana passada.

Haddad afirmou que não se pode tomar decisões “precipitadas” com base em fatores “voláteis” como os preços do petróleo, e sinalizou que é necessário aguardar os demais desdobramentos dos conflitos em Israel. “Temos que aguardar. Essas coisas são muito voláteis. A pior coisa que pode acontecer é você tomar decisões precipitadas que podem colocar em risco uma política. Então, vamos avaliar e ver como esse episódio se desdobra”, analisou o ministro.

Haddad ainda voltou a mencionar a taxa de juros alta nos Estados Unidos e a desaceleração da China como outros fatores a serem reconhecidos no cenário externo.

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