A busca pela redução da dependência da importação de insumos e pelo desenvolvimento de uma agricultura sustentável, saudável e com menos defensivos agrícolas estão estimulando ações na Prefeitura de Uberlândia. Nessa semana, foi lançado o marco fundamental do primeiro Polo Agromineral Verde do Brasil, iniciativa que quer transformar Uberlândia em referência nacional na produção e distribuição dos remineralizadores de solo no País.  O município é rico em basalto e a ideia é fomentar a exploração do mineral, a pesquisa e a comercialização do produto, que é uma alternativa para a agricultura. 

De acordo com dados da Prefeitura de Uberlândia, o pó de rocha é capaz de auxiliar na recuperação da terra da forma mais natural possível e com viabilidade econômica, que é o grande desafio do produtor rural. No caso específico do pó de basalto, abundante no solo uberlandense, o destaque está nas concentrações de cálcio, magnésio, potássio e silício.  

Além do lançamento do Polo Agromineral, também foi assinada uma ordem de serviço entre a prefeitura e a Companhia de Promoção Agrícola e Tecnologia Campo formalizando um acordo de cooperação para novas ações, que incluem, por exemplo, o mapeamento e quantificação do potencial basáltico e de outros tipos de rocha em Uberlândia. O acordo também prevê orientação às mineradoras quanto ao registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a atração de novas empresas. Está prevista ainda a orientação e o desenvolvimento de plano de negócios para a cadeia produtiva e identificação e atração de investidores.

O engenheiro agrônomo e consultor de projetos da Campo, Marcos Ramos, ressaltou a importância do lançamento do Polo Agromineral Verde e reforçou a necessidade de um trabalho conjunto para que as ações sejam efetivas e promovam o dinamismo do projeto. O polo é considerado uma importante ferramenta para a exploração de minerais que venham atender à demanda da agricultura, que reduzam a dependência da importação de insumos e promovam a produção mais sustentável de alimentos. 

“O Polo Agromineral Verde deve ser feito a quatro mãos, pelas mineradoras, produtores, agentes financeiros e agentes públicos. Assim, haverá dinamismo do empreendimento. Vamos trabalhar em consonância com a prefeitura no desenvolvimento do polo. Ações serão desencadeadas como o apoio às mineradoras, mapeamento da quantidade de pó de rochas existentes, orientação às mineradoras para registros, atração de empresas mineradoras para a região. Já existem empresários com projetos e esperando investidores, por isso, vamos orientar no desenvolvimento de planos de negócios, na atração de investidores e fundo de investimentos para alavancar o polo”, disse.

O secretário de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, Fernando Passalio, apoiou a iniciativa e disse que o governo está à disposição para ajudar. 

“Nós do governo de Minas Gerais estamos plenamente à disposição para avançarmos na discussão do basalto e de toda riqueza e prosperidade que este mineral tem como potencial para a economia de Minas. O agronegócio precisa disso, nossa produção agrícola precisa disso e não mediremos esforços para acompanhar este projeto”, explicou.

Novo salto produtivo

O ex-ministro da Agricultura Alysson Paolinelli ressaltou que o Polo Agromineral Verde e o uso racional dos recursos naturais presentes no País para atender à demanda da agricultura nacional podem provocar um novo salto da produção.  

“Precisamos ser inteligentes e usar bem este recurso. O Brasil é  rico em recursos naturais, é um privilegiado por Deus. Que se use a inteligência, os estudos, a ciência e a tecnologia para explorar racionalmente os recursos naturais. Temos um segundo grande salto, o da inteligência. É preciso trabalho em conjunto, pesquisa, defesa, fiscalização para que a gente não erre. Quero ver o Brasil realizando a agricultura mais sustentável e tranquila que o homem desejou. Que o consumidor do futuro sinta-se como Adão e Eva, comendo o alimento mais natural que a terra já deu”, disse. 

Diante de um possível desabastecimento de fertilizantes em 2022, já que a produção desse item passa por uma crise global, o prefeito de Uberlândia, Odelmo Leão, chamou a atenção para a necessidade de o Brasil investir em estudos, pesquisas e inovação para encontrar alternativas e tornar a produção agrícola e pecuária menos dependente de produtos importados e químicos. 

“Não podemos ficar parados esperando solução. Temos que ter produtos para dar resposta para o mercado. Temos as rochas e estamos tomando todos os cuidados com a pesquisa e ciência. Ano que vem, o preço do insumo será inviável. Vamos produzir com menos adubo e termos menos produção? Por isso, lançamos o Polo Agromineral Verde em busca de inovação para o nosso agronegócio. Estamos em busca de uma agricultura sustentável, saudável e com alimento com menos defensivo agrícola”.  

Pesquisas sobre basalto avançam no Triângulo

Desde 2017, a Prefeitura de Uberlândia vem trabalhando para aprimorar o conhecimento sobre a aplicação do pó de rocha. Em 2019, os estudos ganharam maior impulso com a realização do 1º Seminário dos Remineralizadores de Solo do Triângulo Mineiro. O evento reuniu 600 profissionais, entre pesquisadores, estudantes e agricultores do País.

Segundo os dados da prefeitura, as pesquisas se intensificaram e já foram realizados testes em grandes lavouras  e em pequenas propriedades. Além do basalto, há na região outras rochas, como micaxisto e gnaisse, com potencial para serem utilizadas como remineralizadores ou até em produto composto (blend).

Por meio do acordo com a Campo, será possível estudar a aplicação dessas outras opções e identificar a área que essas rochas ocupam. O objetivo é potencializar os benefícios nas plantações e em solos lixiviados e percolados.