Entidades temem impacto de tabelamento na inflação

10 de julho de 2018 às 0h00

São Paulo – Trinta e nove entidades do agronegócio assinaram nota contra o tabelamento do frete, alertando para o impacto da medida sobre a inflação. A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), que divulgou vídeo nas redes sociais ontem, também assina a nota. Conforme o comunicado, as exportações de milho neste ano serão prejudicadas. O setor prevê uma queda de 10% no volume a ser embarcado, em razão do represamento da produção (não negociada por causa da incerteza sobre os preços de transporte nos próximos meses). Amanhã (11), o plenário da Câmara pode votar a Medida Provisória 832/2018, que trata da tabela do frete e tem como relator o deputado Osmar Terra (MDB-RS). Para as organizações do setor, a legalização da tabela seria uma “grande irresponsabilidade”. Em junho, conforme a nota, o IPC-Fipe para o setor de alimentação foi de 3,14%, ante -0,10% em abril; no setor de transportes, o indicador foi de 1,01% no mês passado, contra 0,05% em abril. O IPCA-15 do IBGE foi de 2,03% e 1,58% para os segmentos de alimentação e transportes, respectivamente, no último mês, enquanto em abril tinham ficado abaixo de 0,1%. “Não se pode subestimar tais impactos para o controle inflacionário brasileiro. Considerando que a MP estabelece que os preços serão revisados semestralmente e, não havendo publicação de nova tabela, essa será corrigida para cima pelo IPCA”, disseram as entidades no comunicado. O texto aponta, também, que produtores rurais não compraram fertilizantes para a safra 2018/19 no prazo correto por causa da tabela do frete. Eles devem adquirir o insumo a preços mais altos, o que deve acarretar maior custo de produção na próxima temporada e aumento dos preços dos alimentos. Também há a tendência, dizem as organizações, de a produção cair em virtude dos mesmos fatores. Mais problemas – Outros prejuízos relatados pelas organizações foram a previsão de comprometimento da segunda safra de feijão, em decorrência de os preços do alimento terem caído com a “falta de demanda” pelo produto; alta de 40% no preço do transporte pago por laticínios para buscar o leite nas propriedades rurais; aumento de 30% no frete cobrado da indústria da soja na movimentação de produtos. “Ouvimos o relator Osmar Terra que sua intenção era estabelecer um piso mínimo de frete baseado apenas nos custos. Não foi isso que ele fez ao publicar seu relatório”, afirmaram as organizações na nota, alegando que, no conceito de piso mínimo, foram contemplados todos os custos operacionais, incluindo os “de agenciamento” pelas transportadoras. Conforme o comunicado, todos os esforços das entidades propondo alterações ao texto “não sensibilizaram” o relator da matéria, que manteve o texto sem mudanças significativas em comparação à MP enviada ao governo federal em maio. Por isso, as entidades avaliam que as oportunidades para alteração do texto foram “esgotadas”.
ABIOVE PREVÊ MAIOR PREJUÍZO EM PRODUÇÃO DE 2019

O prejuízo “mais dramático” da MP do Frete recairá sobre a produção de 2019, afirmou ontem o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), André Nassar, em um vídeo divulgado nas redes sociais. “Ninguém sabe quanto vai custar o transporte, impedindo produtores e tradings de atuar no mercado futuro para se proteger contra oscilações de preço”, disse. “Uma menor safra reduz o Produto Interno Bruto (PIB) e gera inflação”. O plenário da Câmara dos Deputados pode votar a MP esta semana. Depois, a matéria precisa passar pelo plenário do Senado para ser convertida em lei. Se essas etapas não forem superadas até 7 de outubro, a MP perde validade e o tabelamento deixa de vigorar. O vídeo foi dirigido aos parlamentares, com um apelo para que não aprovem a proposta. Entre as consequências negativas do tabelamento, o executivo diz que ele gera inflação. A variação de preços dos alimentos medidos pelo IPC-Fipe e IPCA-IBGE aumentou 3,14% e 2,03%, respectivamente, em junho. E, como a MP diz que a tabela será corrigida semestralmente pela variação do IPCA, estabelece-se um ciclo de retroalimentação de alta de preços. Para o setor, o frete já subiu entre 30% e 50% e se transformou em um “serviço de alto risco”, alertou. “Como os preços serão tabelados e os embarcadores serão punidos caso não cumpram a tabela, contratar frete vira uma atividade sujeita a judicialização”. A medida também pode voltar-se contra quem pretende proteger: os caminhoneiros, principalmente os autônomos. Muitas empresas vão montar frotas próprias, alertou Nassar.

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