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SEMANA DO ENGENHEIRO | Andrade Gutierrez se reestrutura sob o comando de Ricardo Sena

11 de dezembro de 2019 às 0h12

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Crédito: Leo Pinheiro/Valor/Agência Globo

O engenheiro Ricardo Sena tem, de vida, o mesmo tempo que a Andrade Gutierrez tem de existência: 71 anos. Na Andrade, ele está desde 1981, onde começou como Chefe do Departamento de Orçamento. Na função de Superintendente de Novos Negócios, que passou a exercer a partir de 1993, foi o responsável pela consolidação do portfólio da nova área de operação da empresa, a concessão de serviços públicos de infraestrutura.

De 2000 a 2013, Ricardo Sena foi presidente executivo e membro do Conselho de Administração da Andrade Gutierrez Concessões S/A, tendo estado à frente de dezenas de projetos no Brasil e na América Latina, em parceria com sócios canadenses, americanos, franceses, portugueses e brasileiros. Em 2013 e 2014, foi membro do Comitê Executivo da Holding do Grupo AG. Desde julho de 2015, Ricardo Sena é presidente da holding Andrade Gutierrez S/A e presidente do Conselho de Administração do Grupo AG.

Nestes cargos, é o timoneiro da volta por cima que a empresa está dando depois de envolvida na Operação Lava Jato, em 2015. Porém, a empresa se reorganizou. Melhorou sua política de compliance, investiu em inovação, na busca da excelência operacional e reduziu ao máximo as operações com o poder público.

O resultado concreto é o faturamento de R$ 4,5 bilhões. Hoje, aos 70 anos, a Andrade Gutierrez S/A, um conglomerado de empresas que atua nas áreas de engenharia, concessão de serviços públicos, geração de energia, telecomunicações e saneamento básico e que tem cerca de 50 mil funcionários, já executou mais de 900 projetos e atua hoje no Brasil, América Latina, EUA, Europa e África. Nesses dois últimos continentes, por meio das suas subsidiárias Zagope e Inzag, com sedes em Lisboa e Berlim.

Engenheiro Ricardo Sena tem, de idade, o mesmo tempo de vida da Andrade Gutierrez, empresa que se reinventou, por meio de programas robustos de compliance, excelência operacional, digitalização de projetos e inovação – Crédito: Leo Pinheiro/Valor/Agência Globo

Por ter conseguido fazer a Andrade Gutierrez dar a volta por cima, ele foi escolhido o “Engenheiro do Ano” pela Sociedade Mineira de Engenheiros (SME). De acordo com a entidade, a escolha se deu porque a Andrade Gutierrez soube se manter firme e com êxito no propósito de recuperar a sólida posição que tinha como uma das mais importantes companhias multinacionais brasileiras de engenharia. “Assim, entendemos, neste momento, ser justo este merecido reconhecimento”, afirma o presidente da SME, engenheiro Ronaldo Gusmão.

Ricardo Sena afirma ter recebido com “muita alegria e satisfação” a notícia de que seria o “Engenheiro do Ano”, prêmio que ele prefere dividir com a equipe que coordena. “Esse prêmio reconhece um trabalho que vem sendo realizado por uma grande equipe de pessoas competentes que forma a Andrade Gutierrez. O meu mérito é poder ter o privilégio de liderar essa equipe e ajudar a alcançar os resultados que estamos alcançando. Ninguém faz nada sozinho”, afirma Ricardo Sena, que se diz particularmente orgulhoso pelo fato de o prêmio ter vindo de uma entidade de engenheiros. “Estamos sendo reconhecidos por pessoas que dividem a mesma paixão que temos pela engenharia e entendem profundamente do negócio que tocamos”.

Compliance A “volta por cima” a que Sena se refere está sustentada em quatro pilares: compliance, excelência operacional, digitalização e inovação: a introdução da política de compliance significou a implantação de uma metodologia transparente de relacionamento entre a empresa e seus clientes, notadamente os da área pública, que acabaram sendo os pivôs da crise que se abateu sobre a empresa a partir de 2015, com a operação Lava Jato.

O primeiro ato da política de compliance foi a aprovação, em 2013, do Código de Ética e Conduta e a instalação, no ano seguinte, do comitê responsável por sua aplicação. Em 2015, entrou em vigor uma norma específica da empresa para o relacionamento com o poder público.

Assim, quando as primeiras denúncias envolvendo a companhia apareceram, em 2015, a empresa já estava com seu programa de compliance em andamento, inclusive com um canal ativo para o recebimento de denúncias envolvendo a empresa. “A gente já estava nessa jornada de transformação”, explicou, durante seminário sobre inovação realizado em novembro, na SME, o diretor de Planejamento Estratégico da Andrade Gutierrez Engenharia, Guilherme Pinto.

Por isso, segundo ele, quando a Lava Jato chegou, a transição para um novo modelo foi rápida. “A gente já sabia o que fazer’, afirmou. Tanto que o primeiro acordo de leniência com o Ministério Público foi assinado já no ano seguinte, em 2016, poucos meses após o surgimento das primeiras denúncias envolvendo a empresa. Em 2017, outro marco da política de compliance foi a certificação da empresa pela ISO 37.600, que normatiza essas regras.

Excelência – As primeiras ações da Andrade Gutierrez na busca da excelência operacional foram adotadas em 2010, quando da construção da Arena da Amazônia, um dos estádios utilizados nos jogos da Copa de 2014. Ali, pela primeira vez, a Andrade Gutierrez aplicou a metologiada Lean Construction, uma instituição internacional especializada na implantação de normas de qualidade específicas para a indústria da construção. No Brasil, o Lean Institute está há 20 anos.

Em 2012, estas normas foram aplicadas em duas obras industriais e, três anos depois, em 2015, estendidas a todos os canteiros de obras da companhia. Um dos pilares do sistema é o planejamento reverso, no qual as ações são definidas partindo do final da obra até o seu início, com planejamentos para três meses e também para seis semanas, além da realização de reuniões diárias e semanais para avaliação de cada etapa.

Isso significa, entre outras coisas, a otimização do tempo, por exemplo, na mobilização para o início de obra, que tem ocorrido no prazo recorde de um mês e meio a dois meses, de acordo com Guilherme Pinto. Ele conta que em um dos contratos, o próprio cliente não acreditou que isso ocorreria no tempo previsto, tendo sido, inclusive feitas apostas internas na empresa contratada de que isso não ocorreria.Mas ocorreu. O mesmo esforço concentrado é aplicado na desmobilização do canteiro, para que ocorra sem deixar passivos. “Obras terminam todos os dias”, afirmou Guilherme Pinto.

Digitalização – A otimização dos processos passa também pela digitalização de todo o processo construtivo, por meio do BIM (BuildingInformationModeling, na sigla em inglês), um sistema informatizado que integra tanto o projeto de uma obra quanto as várias etapas de seu desenvolvimento que, assim, pode ser acompanhada virtualmente, em tempo real, também nos canteiros de obras. Anteriormente, eram impressas cerca de 2 mil cópias de projetos por mês e, mesmo assim, nem sempre os encarregados trabalhavam com a versão mais atualizada, o que não ocorre hoje. Além da economia de papel, houve a eliminação do retrabalho. “O BIM é um dos pilares desta transformação da empresa”, afirma Guilherme Pinto. Segundo ele, a digitalização permitiu que o encarregado e o mestre de obras passassem a ter uma noção mais clara do estágio em que a obra está, melhorando também a qualidade das reuniões diária e semanal de avaliação do cronograma.

Inovação – A Vetor AG é a face da Andrade na área de inovação. Trata se de uma aceleradora de startups por meio da qual a empresa faz chamadas externas e escolhe os projetos que mais se adequam às suas necessidades.  Em 2018, foram recebidas 150 inscrições, número que surpreendeu a empresa. Destas, sete foram selecionadas: Construcode, Lesense, Rio, Levitar, Controller, Mapi e Magalhães Gomes. Este ano, o número de startups inscritas subiu para 250, tendo sido selecionadas outras nove: Sunew, 4Mart, Agililean, Laboratório de Soldagem da UFMG, Novidá, Spectrageo, Geoepic, Recrutasimples e SGP.

A parceria com a Construcode permitiu, por exemplo, que, com o uso de QR Code, os projetos de engenharia pudessem ser acessados em tempo real nos canteiros de obras. A Magalhães Gomes levou a tecnologia da magnetização da água utilizada na produção do concreto,o que permitiu uma economia de 4% em seu custo de produção. Com a Levitar, a Andrade Gutierrez passou a utilizar drones para fazer o lançamento de cabos-guia de energia em torres de transmissão. O processo reduz custos, mão de obra e riscos, além de contribuir para o meio ambiente, já que não é necessário mais desmatar, como era feito antes. A Mapri levou para a Andrade Gutierrez a tecnologia da automação da medição das obras, com drones e softwares.

Por seus projetos na área de inovação, a Andrade Gutierrez recebeu, este ano, o prêmio “Inovação Brasil”, dado pelo jornal “Valor Econômico”. Para Ricardo Sena, o prêmio é o coroamento de um trabalho que vem sendo desenvolvido há pelo menos cinco anos na empresa, que, como ressalta, praticamente inaugurou a aplicação da inovação no setor de engenharia brasileiro.

Otimismo – Ricardo Sena enxerga 2020 com otimismo. “Acredito que já há sinais consistentes de uma possível retomada da economia. Todos os indicadores mostram isso. A bolsa atingiu seu recorde histórico, os juros estão no patamar mais baixo da série histórica, a inflação segue controlada e medidas importantes vêm sendo tomadas, como a reforma da Previdência”, afirmou.

Ele ressalta, porém, que essa retomada não se dará de uma hora para outra, sendo necessário estar atento aos movimentos que estão se dando nas economias de outros países, principalmente aqueles com os quais o Brasil mantém relações econômicas mais fortes. No plano interno, ele defende como prioridade a aprovação das reformas administrativa e tributária. A primeira, ao reduzir o tamanho do Estado, irá, segundo, ele, abrir caminho para que os resultados da reforma tributária possam ser melhor otimizados.

Otimista, ele vê sinais positivos de redução do desemprego, com a retomada do varejo e da construção civil, os dois setores que mais geram empregos no País. “Na minha visão, estamos diante de boas perspectivas para o próximo ano. Estou confiante e otimista”, afirmou Ricardo Sena.

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