Indústria da moda teme avanço do coronavírus

31 de janeiro de 2020 às 0h04

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Indústria da moda já acendeu o sinal vermelho para o coronavírus, que já atingiu 7.818 pessoas - Crédito: Divulgação

São Paulo – Se a OMS hesita em acender o sinal vermelho para o coronavírus, a indústria da moda já acendeu o da emergência internacional. Após um final de ano gordo para os cinco maiores grupos de luxo, com máximas históricas registradas nas Bolsas até dezembro, LVMH (Louis Vuitton, Dior e Tiffany), Kering (Gucci, Balenciaga e Bottega Veneta), L’Oreal, Richemont e Hermès zeraram ganhos após o pânico gerado pelo avanço da doença.

O tombo acumulado beira os 5% em todos os grupos e tem origem registrada, a China, mas analistas ouvidos, que trabalham ou já trabalharam para o mercado europeu, apontam as ‘cidades fashion’ como epicentros da segunda fase do problema e, por isso, não veem sinal de melhora pelo menos até meados de março.

É que o mercado ainda não contabilizou o impacto nas vendas durante as temporadas de desfiles, que começam em Nova York, mas logo seguem para Londres, Milão e, finalmente, Paris, na última semana do mês. Também não há avaliação sobre o humor dos mercados-chave, como Tóquio e Hong Kong, próximos ao território mais afetado pelas infecções.

Para se ter uma ideia, durante as duas temporadas anuais, a federação da moda francesa estima movimento de quase R$ 40 bilhões no varejo e nas reservas de hotéis desse setor que, na França, ganha da aviação e da indústria automobilística em relevância.

O problema é que nessa conta os turistas chineses reinam, mesmo após o esvaziamento dos mesmos seguintes aos atentados de 2015 e com uma debandada de 11% no número de turistas asiáticos em 2016. Naquele ano, eles temiam uma onda de roubos a joalherias e centros de luxo, que fez as vendas do setor caírem, segundo o Comitê Regional de Turismo, quase R$ 5 bilhões.

Só em 2018, segundo a câmara de comércio de Paris, os chineses gastaram R$ 1,4 bilhão em roupas, acessórios e perfumes, R$ 200 milhões a mais do que os consumidores americanos.

Não é coincidência, então, que as maiores perdas nas bolsas tenham atingido marcas dependentes do mercado asiático para gerar dividendos.

Suas ações começaram a despencar em 17 de janeiro, logo após o mercado precificar o anúncio do governo japonês confirmando o primeiro caso de coronavírus importado da China – o Japão responde por cerca 25% do consumo de grifes de luxo estrangeiras na Ásia.

A inglesa Burberry, por exemplo, acumula perda de 13,7% no valor de sua ação, e pode se gabar de ter sentido tardiamente o impacto se comparada à italiana Salvatore Ferragamo, cuja cotação desvalorizou 12,6% desde o registro da primeira morte confirmada, em 9 de janeiro.

Foi só com a crise de 2008, fatal para o consumo de luxo no Ocidente, que marcas passaram a paparicar a pujante economia asiática. Hoje, com os registros de desaceleração das economias da região, Pequim, Xangai, Hong Kong e Tóquio viraram as novas Nova York, Londres, Milão e Paris das marcas. Elas reformaram lojas, abriram novos pontos e, principalmente, promoveram desfiles suntuosos e ainda mais caros dos que os das semanas oficiais.

Isso explica porque na terça-feira (28) os dois maiores grupos do mundo, LVMH e Kering, juntamente à austríaca Swarovski, doaram 2,8 bilhões de euros, quase R$ 15 bilhões, para ajudar nos planos de contingenciamento. A maior parte da verba deve ser destinada à cruz vermelha.

No mesmo dia, durante o anúncio dos números do quarto trimestre de 2019, o presidente do LVMH, Bernard Arnault, fez o que se esperava e tentou acalmar o mercado. Segundo ele, até dois meses e meio de crise não é algo “terrível”. “Se levar dois anos, essa é uma história diferente.”

Mas não é bem assim à luz dos números. A receita do grupo em um único território, Hong Kong, caiu 40% no último trimestre por causa dos protestos da população contra a China.

Uma emergência internacional com repercussões na própria casa do luxo, a Europa, que segurou hoje no porto de Civitavecchia, na Itália, todos os turistas embarcados em um navio por causa de suspeitas de infecção pelo coronavírus, fará a história virar algo muito além do terrível, mas uma catástrofe. (Folhapress)

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