EDITORIAL | Agir enquanto ainda é possível

4 de outubro de 2019 às 0h02

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Crédito: REUTERS/Ricardo Moraes

Nos ensinam os mais experientes que uma caixa d`água não será mantida cheia se o calibre do cano de entrada for menor que o do cano de saída. Elementar para a maioria, mas certamente não para os gestores públicos que nas últimas décadas, talvez desde a redemocratização, fizeram justamente o contrário, no que diz respeito ao dinheiro público.

Gastaram à vontade, criaram obrigações que não poderiam sustentar por muito tempo e, para completar, pouca atenção deram os ingressos. Hoje constatam que o dinheiro acabou, a rigor já não basta nem mesmo para as despesas essenciais e, com uma firmeza que parece ser estudada, proclamam, quase sem exceção, que o reequilíbrio fiscal é o primeiro de seus compromissos.

Conversa. Os maus hábitos prosseguem, os gestores públicos, políticos ou não, um universo em que as exceções são a cada dia que passa mais raras, devem partir do princípio de que o dinheiro público não tem dono e até há pouco aparentemente acreditavam que também não tinha fim. Prometem disciplina, prometem – e como gostam de fazer isto! – “cortar na própria carne”, mas, diante do tamanho do problema, estão no máximo contornando o problema. No Estado do Rio de Janeiro, quebrado, as aposentadorias na Assembleia Legislativa podem chegar, fácil, aos R$ 30 mil. Em Brasília a Presidência da República acaba de mandar renovar sua frota de automóveis de luxo, aqueles destinados às excelências, as mesmas que continuam voando nos jatos oficiais e consideram esse comportamento absolutamente natural.

Não é diferente nos estados, não é diferente nas prefeituras, até mesmo aquelas que não têm renda própria e vivem de repasses federais e estaduais, quase sempre consumidos apenas para sustentar a burocracia local. Falta disposição, coragem talvez, para acabar com tamanha falta de bom senso, de responsabilidade. Para ficar no último exemplo, municípios foram criados apenas para abrir vagas para prefeitos, vereadores, secretários e afilhados. Essa brincadeira, no todo, custa ao País, aos contribuintes, pelo menos R$ 10 bilhões por ano. Mas o dinheiro acabou, é preciso lembrar.

Diante da realidade, os ajustes e as reformas anunciadas e prometidas serão no máximo uma maneira de jogar o problema para frente, como vem sendo feito e sem que sequer nos aproximemos das soluções. Por exemplo, fundir municípios que não se sustentam de pé, simplificar, racionalizar, pôr fim aos desperdícios. Ou, mais radicalmente, dar fim ao sequestro do orçamento público, promovido e mantido por corporações que permanecem inabaladas, intocáveis que ainda são. Ou agimos, rápido, ou nos afogamos todos.

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