EDITORIAL | Tecnologia a serviço do mal

10 de dezembro de 2019 às 0h02

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Crédito: Dariusz Sankowski/Pixabay

São, a cada dia que passa, mais fortes as evidências de que as chamadas mídias sociais se transformaram em poderosa máquina de distorção da realidade e difusão de mentiras. Um processo que destrói reputações, fazendo da mentira uma arma quase banal para políticos e, mais amplamente, para outras esferas da vida pública e com força suficiente para, por exemplo, distorcer os resultados da consulta popular que, na Grã Bretanha, decidiu pela saída do país da Comunidade Europeia, gerando um impasse que agora parece ser difícil de resolver.

As redes, parece, não têm dono e não têm causa. Estão simplesmente à venda e, desde que pagas, podem propagar em minutos pelo mundo uma informação falsa – as ditas fake news – manchando ou destruindo reputações ou produzindo falsos heróis, tudo isso, hoje, com o concurso de robôs que, aos milhões, se manifestam como se fossem indivíduos engajados num causa e propalando mentiras. E o Brasil, já se sabe, não escapa à regra e os mesmos processos são rotineiramente utilizados por variadas correntes políticas, em escala cuja intensidade parece ser determinada exclusivamente pelo poder econômico.

Tudo isso vai aos poucos sendo desvendado pela Comissão Parlamentar de Inquérito, em andamento na Câmara dos Deputados, e onde, na semana passada, foram feitas acusações da maior gravidade envolvendo a família e assessores próximos do presidente da República. Também o Superior Tribunal Eleitoral (STE) tem se ocupado da matéria, igualmente chegando a conclusões preocupantes, como a utilização desses artefatos, em larga escala, nas eleições passadas. Se nada for feito, o que se pode imaginar para a votação do próximo ano é que seja ainda pior, uma vez que o Legislativo acaba de aprovar que o valor do Fundo Partidário seja dobrado, chegando a escandalosos R$ 3,8 bilhões, recursos que em parte podem acabar sendo utilizados para pagar robôs que certamente contaminarão, não interessa em que direção, o pleito.

Não será exagerado afirmar que se trata de um ataque direto e sem precedentes às instituições políticas, com claríssima ameaça à própria democracia, se não à vida em sociedade, que está permitindo que uma tecnologia concebida para aproximar, agregar e difundir conhecimentos faça exatamente o contrário. Uma situação que no Brasil e no mundo inteiro está identificada e estudada, não havendo mais porque deixar de atacá-la, pela regulamentação e pelo controle das empresas que operam esses serviços, além de severa legislação que defina e puna rigorosamente as infrações.

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