Eleição 2022 e a força do bolsonarismo

29 de julho de 2020 às 0h14

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Crédito: REUTERS/Adriano Machado

Rodrigo Augusto Prando*

Em recente pesquisa divulgada em 24 de julho, pelo Instituto Paraná Pesquisas, aponta-se que se as eleições presidenciais fossem hoje, Bolsonaro seria reeleito. Além disso, com projeções para 2022 ele venceria o seis potenciais adversários: Lula, Haddad, Ciro, Moro, Doria e Huck.

Desde a aprovação da reeleição, no Brasil, todos os presidentes foram reeleitos: FHC, Lula e Dilma. Assim, essa dianteira de Bolsonaro frente aos demais postulantes do Planalto não causa espanto. Bolsonaro tem mídia cotidiana – mais negativa do que positiva – mas, praticamente, pauta os meios de comunicação com seus discursos, entrevistas e ações.

A pesquisa demonstra, essencialmente, a força da base bolsonarista de cerca de 30% do eleitorado, um grupo coeso e resiliente até aqui. Havia a crença de que a gestão ou ausência dela durante a pandemia seria capaz de corroer o seu apoio e seu capital político.

Contudo, dois fatores podem ser elencados como importantes para manutenção de sua força política: o auxílio emergencial que chegou aos mais pobres atingidos pela crise econômica advinda do coronavírus e, ainda, o seu atual silêncio e distanciamento de polêmicas, especialmente, após a prisão de Queiroz e do cerco aos bolsonaristas promovido pelo STF em relação às fake news.

O auxílio emergencial, a injeção de dinheiro nas famílias e, obviamente, na economia, é um trunfo político que já foi assistido, noutro contexto, com a força do Bolsa Família durante o governo do PT. Muitos se questionam o porquê dessa performance de Bolsonaro com as milhares de mortes causadas pela pandemia.

Escrevi, há tempos, que, no Brasil, a sociedade foi normalizando os mortos da violência por assassinatos ou acidentes no trânsito. Muitas vezes, em um ano, morreram 100 mil brasileiros (uns 60 mil assassinados e 40 mil no trânsito). E essas mortes são, geralmente, mais impactantes entre os mais pobres, moradores da periferia, negros e jovens.

Embora o coronavírus seja mais “democrático” em sua contaminação, no tratamento e no número de mortes há, também, claramente, um desigual resultado com prejuízos aos pobres mais vulneráveis, impossibilitados de distanciamento social, morando em casas de espaço diminuto e obrigados ao transporte público muitas vezes lotados para o deslocamento de casa para o trabalho.

É triste observar que nós, brasileiros, convivemos bem com a morte, com números impressionantes de mortos a ponto de considerarmos normal ou inevitável.

Além disso, ainda no tocante à epidemia, o distanciamento social também gerou uma classe política incapaz de fazer oposição mais enfática ao governo. Os panelaços que ocorreram não foram seguidos de enormes protestos nas ruas, como, por exemplo, se deu com Dilma.

Movimentos no bojo da sociedade civil se organizaram para apresentar que se há 30% de apoio ao presidente, há 70% que consideram o governo regular, ruim ou péssimo. Todavia, estes 70% não são unificados numa agenda comum, bem como as ideologias políticas e posições partidárias são incapazes de levar a uma superação de traumas das últimas disputas políticas. Ademais, politicamente, o governo Bolsonaro atrelou-se ao Centrão, aquele mesmo da chamada “velha política” pelos bolsonaristas.

As eleições de 2022 estão distantes. O cenário pode mudar, para melhoria ou piora das condições econômicas e políticas. Objetivamente, o que pode minar a base de apoio de Bolsonaro é uma crise econômica mais aguda: recessão, desemprego, aumento da pobreza e da miséria. Agora, quem quer isso? Quem torcerá para o quanto pior melhor?

*Professor e Pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Graduado em Ciências Sociais, Mestre e Doutor em Sociologia

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