Gestão compartilhada dos recursos hídricos

7 de março de 2020 às 0h12

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Crédito: Ricardo Barbosa

Benjamin Salles Duarte*

Poderia se aceitar, sem muito esforço dedutivo, que a água é fonte de vida humana, vegetal, animal, aquática nas águas doces e salgadas, fator econômico nos cenários de ofertas e demandas dos sistemas agrossilvipecuárias, e estratégica no abastecimento domiciliar, indústria, comércio e serviços. Esse elemento natural, a água, base do ciclo hidrológico, que se renova há milhões de anos, é único e insubstituível.

O planeta Terra é formado por 2/3 de água contidos nos mares e oceanos ainda pouco conhecidos e cenários complexos, onde pesquisadores e cientistas, nessa marcha batida e irreversível da Ciência e Tecnologia, procuram desvendar os “mistérios” do mundo natural, como sempre instigantes e desafiadores!

Sem água não há alimentos, entretanto, reafirme-se que a água é somente uma para todas as serventias no campo, nas cidades, estando geograficamente mal distribuída nos continentes, tendo-se no Brasil as prolongadas secas no Nordeste, ou ainda o deserto de Atacama (Chile), o mais seco do mundo!

O foco nos recursos hídricos, superficiais e subterrâneos, nos remete às bacias hidrográficas, com seus relevos geográficos, solos diversos, malhas hídricas e afluentes na lógica milenar dos córregos, riachos e rios, leitos naturais de escoamento das águas superficiais, e com suas vazões mensuráveis mínimas, médias e máximas num horizonte de tempo de aferições periódicas.

E mais, são essas bacias as grandes áreas coletoras de chuvas, escassas ou abundantes, e requerem compartilhamentos da água para usos múltiplos, como também se configuram em abrigos naturais da biodiversidade. São bases físicas da produção e oferta de grãos, cereais, oleaginosas, biomassa, produtos de base florestal, frutas, hortaliças, legumes, agroenergia, e dos produtos gerados pelo sistema sucroalcooleiro. São múltiplas e indispensáveis as funções da agricultura numa bacia hidrográfica.

Essas paisagens ainda abrigam os rebanhos de pequenos e grandes animais, que oferecem as proteínas consideradas nobres, como carnes, ovos e leite; e nelas ainda vivem milhões de pessoas que desenvolvem atividades agrossilvipecuárias, longe dos olhos urbanos, não raro, pouco atentos às realidades rurais do Brasil!

Além disso, viceja uma tese frequente de que a agricultura “consome muita água;” ela padece de fundamento na prática, embora gestão compartilhada e uso correto dos recursos hídricos tenham ferramentas técnicas adequadas para reduzir os desperdícios pela adoção de boas práticas sustentáveis!

A água usada nas atividades produtivas da agricultura milenarmente retorna ao “Ciclo Hidrológico.” Como? No manejo correto da água e do solo, sustentáveis, somam-se ainda a evapotranspiração das culturas, matas e florestas, formadoras de nuvens de chuvas, juntamente com os mares e oceanos da Terra, cujo calor solar atingindo a superfície desses gigantescos reservatórios naturais de água salgada, evaporando-a, resultam em trilhões de metros cúbicos de chuvas de água doce, que chegam aos continentes e às bacias hidrográficas!

E mais, as boas práticas ambientais promovem o estratégico reabastecimento dos lençóis freático e subterrâneos; reservação de água; preservação de nascentes; e reduzindo a erosão laminar e profunda dos solos, agrícolas ou não, fator de entupimento das calhas dos corpos de água, que circulam através centenas bacias hidrográficas, o que poderá provocar enchentes e alagamentos!

A presença da água é fato concreto e mensurável, sendo de 60% apenas no corpo humano. Por hipótese, uma cultura de requer, para completar seu ciclo produtivo da semente plantada ao grão colhido, um volume de água de 1.200 milímetros por hectare cultivado implica numa demanda potencial de 12 milhões de litros a cada 10 mil metros quadrados. A safra brasileira de grãos, 2019/2020 abrange atualmente 64,8 milhões de hectares cultivados, e 90% dependem diretamente do regime de chuvas!

As principais bacias hidrográficas de Minas Gerais são: as dos rios São Francisco, Pardo, Jequitinhonha, Mucuri, Doce, São Mateus, Paraíba do Sul, Grande e Paranaíba (Igam). Há sinais evidentes da disputa (conflitos) pela posse e uso água entre estados e países; presumivelmente crescendo numa questão de tempo no viger do século XXI.

Por outro lado, como inovar custa dinheiro, os produtores precisam receber por serviços ambientais prestados à sociedade, pois eles transcendem a porteira da fazenda. Uma chuva de 100 milímetros corresponde a 100 de litros de água por metro quadrado!

Contudo, há que relembrar que as duas primeiras exigências legais sobre o uso da água são para abastecimento humano e dessedentação dos animais, segundo a Agência Nacional de Águas (ANA).

*Engenheiro agrônomo

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