Novas eras para“velhas”empresas

3 de janeiro de 2020 às 0h01

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Crédito: Pixabay

Thomas Lanz *

Para muitos, startups ou a economia 4.0 parecem varinhas mágicas a serem implantadas e absorvidas por uma indústria tradicional. É muito comum culpar a “velha” indústria como reativa à introdução da inovação ou culpar os “ donos “ que não permitem a entrada dos filhos em suas empresas, não dando liberdade para que possam introduzir e aplicar novas ideias em relação a produtos, tecnologias ou gestão.

Na verdade, o assunto é bem mais complicado do que se imagina. Em primeiro lugar, as empresas tradicionais são criticadas por não se tornarem disruptivas e perderem espaço para as startups. Uma coisa é uma empresa tradicional adotar inovações em seu dia a dia, outra coisa é ela se transformar em uma startup. A empresa tradicional não precisa se transformar em uma startup, mas o que poderá fazê-la a perder seu mercado é a falta da inovação tecnológica e a manutenção de seu modelo de negócio. Empresas que não se inovam, em relação a sua linha de produtos, processos, marketing, comunicação e gestão estão fadadas a encontrar muitas dificuldades e perder sua competitividade no mercado. E ter somente a consciência de que a inovação é necessária para sanar o problema não é suficiente. O desafio é mudar a cultura da empresa e dos membros da organização. Este processo de mudança é muito trabalhoso e nada fácil. A cúpula diretiva e o próprio Conselho de Administração precisam estar cientes destes desafios para estimular mudanças de fato. Imaginem um jovem herdeiro sendo admitido na empresa da família, procedente de uma cultura disruptiva querendo, em pouco tempo, mudar ou introduzir inovações. Ele irá enfrentar enormes barreiras para conquistar seus intentos, além da frustração que, muitas vezes, leva ao seu afastamento. A formação de um Comitê de Inovação Tecnológica, por exemplo, poderia ser o núcleo de difusão de uma nova cultura na organização. Convidando por exemplo o herdeiro a ser membro deste Comitê poderia constituir um interessante passo para uma transição amena entre gerações de uma mesma família.

Muito bem-vinda é a ideia dos empresários darem o espaço e os recursos necessários para que seus futuros herdeiros possam desenvolver seus projetos e ideias. Os pais seriam os investidores-anjos com regras semelhantes a qualquer investidor em startups. Isto deveria acontecer fora do ambiente dos negócios da família. Em princípio, não dá certo colocar sob o mesmo teto negócios tradicionais e disruptivos. De repente o negócio recém-iniciado dá bons resultados e começa a escalar geometricamente. Cabe ao pai e filho empreendedor discutirem se o novo negócio terá uma maior participação dos sócios familiares ou se ele irá se desenvolver de forma mais independente. Também precisaria ser avaliado se o produto / tecnologia desenvolvida possui alguma aderência com os negócios da família.             Imaginem uma corporação familiar, que tenha pelo menos 5 herdeiros que queiram montar suas startups. Como agir para atender a todos. Estaria a empresa disposta a criar uma incubadora de projetos, abrigando o desenvolvimento de ideias dos filhos e outros? O desafio em negócios familiares é a equidade. Se um parente pode ou tem direito o outro também tem. Assim se evitariam futuros conflitos.

Concomitantemente, os futuros herdeiros, ligados ou não ao negócio, desenvolvendo suas startups ou seguindo carreiras profissionais totalmente diversas são sócios do negócio tradicional da família. Para tanto deverão ser formados para agir como sócios controladores, caso não estejam diretamente envolvidos na gestão dos negócios. Uma prática recomendável é que já comecem a assistir às reuniões de Conselho como ouvintes a partir dos 16, 18 anos. Mesmo sem direito a voto, poderão trazer novos ventos disruptivos no Conselho, o que certamente é muito positivo.

*Fundador da Thomas Lanz Consultores Associados, empresa especializada em governança corporativa, gestão de empresas médias e grandes no Brasil

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